Jazz para crianças

Uma orquestra de <i>jazz </i>que é ao mesmo tempo uma escola de música. Se o seu filho ouve Louis Armstrong ou Miles Davis em vez dos Black Eyed Peas e dispensa o Hi5 em troca de umas horas com o seu instrumento musical preferido, a Big Band Junior ainda tem um lugar para ele. A nm acompanhou os <i>castings</i> para escolher os primeiros minimúsicos e descobriu verdadeiros talentos. As inscrições continuam abertas para flauta, trompete e saxofone tenor, mas apresse-se: o primeiro concerto é já no início do próximo ano e há muito para aprender. <br /><br />
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Pedro Finisterra tem 16 anos e cinco de estudo no Conservatório de Santarém. A sua audição está marcada para as 18h30. Simpático e descontraído, traz consigo a guitarra e baixo eléctricos e prepara-se para ser ouvido por Claus Nymark, director pedagógico e musical da Big Band Junior, a nova orquestra-escola de jazz, uma parceria entre o Centro Cultural de Belém e o Hot Clube de Portugal, o projecto ideal para jovens que já têm formação musical e gostam de jazz. Além da paixão pela música, Pedro Finisterra também gosta de manga japonês, filosofia e ficção científica. Mas para já, e a poucos minutos de entrar na sala de audições da Escola de Jazz Luís Villas-Boas, só tem olhos para a sua guitarra eléctrica. É preciso que corra tudo bem. Parece perfeitamente calmo, mas assim que enfrenta o júri, limpa o suor nervoso das mãos e prepara-se para seguir as indicações do maestro o mais tranquilamente possível. Afinal, Pedro quer um lugar na Big Band Junior e tem dez minutos para impressionar. O que tem de fazer é um play along, tocar por cima da gravação, acompanhar a música, à velocidade indicada pelo maestro. «O que se pretende é uma orquestra a soar como poucas, é um trabalho muito giro e divertido e fá-los pensar que existe música para além da que passa na rádio. A ideia desta big band é motivar miúdos novos para a formação em jazz, no fundo, dar continuidade ao estudo da música», explica.   
Segundo o director musical, que é natural da Dinamarca, onde a música é acessível para todos os jovens, «as oportunidades para estudar e aprender jazz não são assim tantas em Portugal e, por isso, este projecto surge como uma forma de dar continuidade ao estudo e descoberta do jazz. Nesta orquestra, os jovens poderão improvisar e aprender a tocar juntos. Pessoalmente, gosto muito de trabalhar com crianças e jovens», explica. A orquestra-escola terá ensaios que serão, antes de mais, aulas, uma vez por semana, e não interfere com o calendário escolar. O director musical explica que muitos destes candidatos fizeram a Lisbon Jazz Summer School, um curso de Verão que teve lugar no CCB, e por isso já têm algumas bases e conhecimentos prévios. Mas nada disso é requisito para pertencer à banda. Se a audição for boa, eles serão seleccionados. Claus Nymark está contente com que viu. «As audições estão a correr bem. Há pessoal mais velho que não faz este brilharete. Muitos destes jovens já têm contacto com o jazz, mas o que é curioso constatar é que continuam interessados. Houve uns que até formaram um quarteto de jazz», explica o maestro.

As audições
Cá fora afinam-se instrumentos, o ambiente é calmo nos corredores. Todos parecem saber ao que vão e todos querem aprofundar conhecimentos no jazz. Vêem, sobretudo, na Big Band Junior, uma oportunidade para aprender e, sobretudo, improvisar. «O improviso é parte essencial do jazz e leva-se anos a conseguir. Tocar em orquestra é muito bom, nesse aspecto, pois eles têm oportunidade de entrar em harmonia e perceber como interagem uns com os outros, mesmo ao nível do improviso», explica Claus, à medida que vai folheando os formulários de inscrição e seguindo a ordem dos candidatos. Nos corredores da Escola de Jazz Luís Villas-Boas - Hot Clube, outros aguardam a sua vez e a verdade é que nenhum destes jovens passa sem música no seu dia-a-dia. Todos a escolhem em detrimento dos jogos de computador e das horas passadas em frente à televisão. Para Corina, mãe de Maru Lohman, isso é determinante: «Tudo o que o afaste dos computadores e da televisão deve ser incentivado», diz, entre sorrisos. «Na minha opinião, a música é das coisas melhores e mais importantes, além de que é uma óptima experiência de vida», explica.
Sócrates Borras tem, além da peculiaridade do nome, uma timidez que não passa despercebida. Não se abre facilmente, mas enquanto arruma o saxofone, depois de uma audição «excelente», segundo o que se ouve nos corredores, aceita trocar uma ou duas palavras para dizer, essencialmente, que adora música e saxofones, desde que recebeu um saxofone de plástico aos sete anos. «Sempre ouvi CD de música clássica em casa, comecei a ouvir Phill Goods e Michael Brecker.» Sócrates adorava ser músico e confessa que, a par do jazz, também pratica atletismo no Sport Clube Oliveira do Bairro. Apetece sorrir com a simplicidade do jovem músico, que vem acompanhado pelo pai e pela avó aos castings. Se ficar na banda, já decidiu que vem de Aveiro para Lisboa uma vez por semana. Os transportes já estão estudados: «Apanho o comboio, o metro, e depois outro comboio. Não vai custar nada!», remata o jovem músico e atleta de brilho nos olhos.

Inscrições ainda abertas
A Big Band Junior  (BBJ) é uma orquestra-escola de jazz dirigida a jovens músicos entre os 12 e os 15 anos e é constituída por 20 a 25 alunos de instrumentos musicais. Ainda estão abertas as inscrições para os seguintes instrumentos: saxofone tenor, trompete e flauta. A BBJ tem já três concertos agendados para este ano lectivo, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém: 19 de Fevereiro, 16 de Abril e 4 de Junho de 2011.
As aulas são semanais, decorrem até Junho e respeitam os períodos de aulas e de férias previstos no calendário lectivo escolar. O horário é às segundas-feiras, das 18h30 às 20h30, nas instalações da Escola de Jazz Luís Villas-Boas - Hot Clube de Portugal (HCP), situada no mesmo edifício da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Informe-se em bigbandjunior@gmail.com ou www.ccb.pt.  

O que é uma big band
É uma das formações musicais mais usadas pelos artistas de jazz que se popularizou entre a década de vinte e a década de cinquenta. São entre 12 a 25 músicos e respectivos instrumentos de sopro: saxofones, trompetes, trombones. A base harmónica do grupo é formada pela guitarra, bateria, baixo ou contrabaixo, e piano. Flauta, clarinete e instrumentos de percussão variam de banda para banda, dependendo do estilo e arranjo musical. Há quem se refira às big band também como banda de jazz, orquestra de jazz e dance band. O band leader é o músico que influencia toda a banda, que se inspira nele e o segue através da sua linguagem musical. Geralmente, é o primeiro trompetista. Entre as maiores, estão, por exemplo, as dos artistas Maynard Ferguson, Dizzy Gillespie, Count Basie, Duke Ellington, Phil Collins, Glenn Miller, Benny Goodman, Frank Sinatra, Michael Bublé.

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