Japoneses celebram nascimento de herdeiro masculino da monarquia
Nasceu ontem, em Tóquio, o primeiro filho masculino da princesa Kiko e do príncipe Akishino, o que garante a sucessão imperial por linha paterna. No Japão, só os filhos masculinos de imperadores podem suceder no trono do crisântemo.
"A princesa Kiko deu à luz às 8 horas e 27 minutos (hora local). O príncipe imperial nasceu sem complicações. O seu peso é de 2,558 quilos", referia um comunicado do palácio. "O príncipe está de boa saúde, mede cerca de 48 centímetros. Já chorou", declarou o director do hospital de Aiiku numa conferência de imprensa após o parto. O médico garantiu que a mãe está bem e deixará o hospital dentro de alguns dias.
Nas ruas, os japoneses disputavam-se as edições especiais dos quotidianos, enquanto outros exibiam o seu júbilo junto ao hospital ou diante do palácio imperial.
O bebé da princesa Kiko é o primeiro do sexo masculino a nascer na família imperial em mais de 40 anos. É também o primeiro a nascer por cesariana e fora do palácio, indicavam ontem as agências.
O filho da princesa Kiko encontra-se em terceiro lugar na linha de sucessão, após o seu tio, príncipe herdeiro Naruhito, de 46 anos, e seu pai, príncipe Akishino, de 40 anos.
Uma atmosfera de euforia em todo o Japão envolveu o nascimento do bebé - cujo nome será conhecido dentro de alguns dias -, prevendo um estudo um efeito de contágio na economia nipónica, que poderia atingir os mil milhões de euros (150 mil milhões de iénes).
O Instituto Dai-Ichi, atendendo ao sucedido em 2001, quando a princesa Masako teve a sua filha, princesa Aiko, prevê um efeito mimético, com o aumento de casamentos e nascimentos, e respectivas repercussões em termos de despesas.
No imediato, o instituto considera que os grandes armazéns irão realizar promoções para celebrar o acontecimento, o que vai também acelerar a circulação do dinheiro.
Em termos políticos, o nascimento de um filho dos príncipes Akishino e Kiko foi saudado entusiasticamente pelos sectores tradicionalistas, que pensam, assim, dar por encerrada a questão sucessória. O que não é, todavia, evidente, como sublinhavam alguns especialistas. "O debate vai continuar", dizia ao The Japan Times um especialista de história da família imperial.
O debate mencionado por aquele historiador surgiu no início de 2005 quando o primeiro-ministro, Junichiro Koizumi, pediu um parecer sobre as leis sucessórias para permitir a sucessão por linha feminina ao trono do crisântemo.
Criticado pelos tradicionalistas, que consideram ser a sucessão patrilinear uma característica essencial da monarquia nipónica, o projecto de reforma recebeu parecer favorável da comissão. Mas este acabará por ficar sem efeito devido à notícia da gravidez da princesa Kiko - estrategicamente coincidente com a apresentação no Parlamento da proposta de lei que previa a mudança de regras. Koizumi só podia cancelar todo o processo.
Mas o tempo e as leis da demografia estão contra a tradição. O relatório da comissão notava que um ou dois descendentes masculinos não garantiam, por si, a preservação da regra tradicional. Com uma baixa taxa de natalidade, diminui a probabilidade de existirem herdeiros masculinos. Situação que já sucedeu no passado, lembrava o The Japan Times, e só colmatada com recurso a soluções, como a sucessão masculina por linha colateral ou a entronização do filho do imperador e de uma concubina. Por isso, concluía o relatório: "Permitir a sucessão de mulheres e por linha materna será de enorme significado para manter a instituição do imperador como símbolo, apoiado pela grande maioria da sociedade, respondendo também às mudanças operadas nesta."