Janeiro vai ver mais aumentos da luz no mercado livre
Os recordes históricos que os preços da energia estão a atingir este ano no mercado grossista - aquele onde os comercializadores vão comprar a eletricidade - está a ter um impacto negativo no mercado liberalizado. Primeiro com a saída de três empresas e a respetiva transferência dos seus clientes para o mercado regulado, e agora com a subida das tarifas, que resultará num aumento da conta a pagar ao final do mês. Oficialmente, só a EDP Comercial é que confirma a revisão em alta das tarifas em mais 2,4% ou 90 cêntimos por mês, mas o DN/Dinheiro Vivo sabe que a Iberdrola também já está a enviar cartas e e-mails aos seus clientes a informar que os preços vão subir. Informação também confirmada na linha de apoio telefónico.
No entanto, contactada, a empresa não respondeu até à hora de fecho desta edição, o que significa que não é possível saber de quanto será o aumento médio, porque depende do tipo de contrato e da potência do contador de cada cliente. É sim possível saber qual a razão, que em nada difere da da EDP Comercial. Na nota enviada aos clientes, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso, a empresa espanhola justifica a decisão com "a evolução crescente dos preços do mercado de eletricidade em Portugal, reflexo do atual contexto do preço da energia no Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL)". Contudo, na mesma nota, a Iberdrola ressalva que há a possibilidade de se denunciar o contrato "na forma e prazos previstos", ou então, "pode sempre negociar o valor", segundo informaram na linha telefónica de apoio ao cliente.
O DN/Dinheiro Vivo contactou também as outras empresas do mercado livre que têm mais clientes e as ofertas mais baratas, segundo os boletins da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). A Galp disse não ter quaisquer comentários a fazer neste momento e a Goldenergy referiu que o tarifário para 2022 ainda não está definido. Já a Endesa disse que "ainda não tomaram uma decisão, porque o mercado está muito volátil". "A semana passada houve um abrandamento dos preços, mas esta semana, em três dias, o MIBEL aumentou 40 euros/MWh e no mercado de futuros [onde se fazem contratos de longo prazo com preços mais baixos] estavam a fixar-se preços de 200 euros/MWh", reparou o presidente da empresa, Nuno Ribeiro da Silva. Por fim, o presidente da Associação dos Comercializadores de Energia no Mercado Liberalizado (ACEME), Ricardo Nunes, notou que as empresas associadas ainda estão à espera do documento final das tarifas da ERSE, que sai a 15 de dezembro, para tomarem uma decisão.
Seja como for, os preços grossistas continuam muito altos e tudo indica que estas empresas poderão seguir o mesmo caminho da EDP Comercial e da Iberdrola. "Aguentamos os preços baixos até ao possível, como quando vem uma onda e sustemos a respiração, mas isto não é uma onda, é um tsunami", disse Ribeiro da Silva. Quer isto dizer que o mercado livre não seguirá o aviso que o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, lhe deixou em setembro: "a tarifa de acesso é geral para todos os consumidores. Não existem razões para haver aumentos no mercado livre".
De facto, de acordo com a proposta da ERSE para os preços regulados de 2022, as tarifas de acesso às redes que são pagas pelos comercializadores e depois repercutidas nas contas da luz, vão ter uma redução inédita de mais de 50% para os clientes domésticos. Contudo, várias fontes do setor garantem que essa redução não chega para evitar aumentos, porque os preços grossistas subiram também para valores inéditos. Ainda esta quarta-feira voltaram a disparar para os 225 euros por MWh. No início do ano, os preços rondavam os 30 a 40 euros por MWh.