Jane Birkin não se importa de continuar a cantar Gainsbourg

"Serge Gainsbourg & Jane via Japan" foi o nome que Jane Birkin deu à série de concertos que chegam quarta-feira à Casa da Música, no Porto, para recordar o "cantautor" francês, quando passam 20 anos sobre a sua morte.
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O título - "Serge Gainsbourg & Jane via Japan" - reflete a parceria do músico francês com a cantora e atriz britânica, que transformou o casal num ícone das décadas de 1960-70, gerando marcos da "cultura pop" como "Je t'aime... mon non plus", tema proibido no Portugal da ditadura.

Pelo título, porém, passa igualmente a preocupação de Jane Birkin com causas humanitárias, que a levou ao Japão pós-tsunami, onde encontrou a chave para a digressão que, "provavelmente, será a última", exclusivamente dedicada a Serge Gainsbourg.

Foi no Japão que Jane Birkin encontrou os músicos que a acompanham e, muito especialmente, Nobuyuki Nakajima, o pianista que orquestrou de novo antigos temas.

"Em março do ano passado, quando toda a gente estava a deixar Tóquio, achei que devia ir lá, para fazer concertos que pudessem reunir fundos", lembrou Birkin em entrevista telefónica à Lusa.

Quando regressou a França, foi confrontada pelo agente com a necessidade de cumprir seis datas nos Estados Unidos para recordar os 20 anos da morte do ex-companheiro, de quem foi a principal musa, e os 40 do disco conceptual "History de Melody Nelson", citado como influência por nomes como Jarvis Cocker, Beck, Portishead ou Air.

Birkin lembra que pediu ao agente para cancelar os concertos, mas era impossível. Acabou então por mobilizar os músicos japoneses e Nobuyuki, em particular, que deu assim "um ano da sua vida a Serge", o que a cantora considera "incrível", na conversa com a Lusa.

"Quem é que quer uma vida fácil? É aborrecido!", disse a mulher que deu nome a um saco da Hermés, o Birkin Bag, ao falar dos anos em que definia tendências e afrontava costumes.

"Nunca tive uma vida aborrecida e continuo a não ter uma vida aborrecida", diz hoje a mãe de dois nomes do mundo do espetáculo - Charlotte Gainsbourg e Lou Doillon -, explicando que "não é só o trabalho que importa", são os outros, os filhos, os netos, e garantindo que nunca se sentiu "uma figura icónica".

"As únicas pessoas que achava que estavam sob essa espécie de majestosidade, eram nomes como Audrey Hepburn ou Marilyn Monroe; nunca consegui imaginar que alguém como eu estivesse à altura delas", garantiu.

Birkin acredita, no entanto, "que qualquer um poderá mudar o curso das coisas". Por isso dá voz a causas como a do povo birmanês, a luta contra SIDA, a Amnistia Internacional ou a defesa dos gorilas da Indonésia.

Por isso, também mantém viva a memória de Serge Gainsbourg, porque "a única maneira de os escritores continuarem vivos, é pela interpretação das suas obras".

"Julguei que o ia fazer durante pouco tempo, mas o primeiro concerto foi complicado", disse Birkin, recordando a apresentação no Reino Unido, em 1994, três anos após a morte do compositor, quando a imprensa se limitava a perguntar-lhe "se ia fazer mais alguma canção porca".

Na altura, quando voltou a França, pediu a figuras públicas que conhecia, do então presidente François Mitterrand, ao seu sucessor, Jacques Chirac, do ministro da Cultura Jack Lang a Brigite Bardot, "para escreverem sobre o que Serge significava para eles, e todos acabaram por dizer que era uma figura como Baudelaire ou Apollinaire", diz Birkin, evocando os poetas franceses.

Birkin pegou nas frases que recolheu e incluiu-as no programa dos concertos.

Quase 20 anos depois e cerca de mil espetáculos mais tarde, já não precisa de explicar a ninguém "a excecionalidade" do "cantautor".

Atriz e realizadora, com planos para fazer mais filmes e representações, Jane Birkin não se importa de "continuar a cantar Serge" até ao final dos seus dias: "Ele fez tantas coisas boas por mim, continuou a escrever para mim até à morte... Era o mínimo que podia fazer", concluiu.

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