Jake Gyllenhaal em versão herói de acção

Depois de já ter sido o príncipe do cinema independente norte-americano em <em>Donnie Darko</em> e actor nomeado par o Óscar em <em>O Segredo de Brokeback Mountain,</em> Jake Gyllenhaal aponta ao superestrelato em <em>Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo,</em> de Mike Newell, extravagância Disney com estreia marcada para a próxima semana. Ainda inchado pelos músculos, o actor símbolo sexual confessa que sempre quis ser o herói.<br />
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Interpretar um herói de aventuras como o Príncipe da Pérsia é um pouco como cumprir um sonho de infância?
Desde os 8 anos que sonhava estar num filme de aventuras como este. Era uma criança que adorava filmes como Indiana Jones, Os Goonies, e todos clássicos dos anos oitenta. Concretizei o meu sonho de infância.

À excepção de O Dia depois de Amanhã, as pessoas em Hollywood associam-no a projectos mais sérios.
Estava cansado de me levar a sério. No começo da minha carreira tive a oportunidade de fazer muitos filmes, o que foi uma honra. Aí achava que só contava uma coisa: provar que era um actor dramático com seriedade. Depois disso, comecei a ficar com dúvidas. Na verdade, pensei que tinha sentido de humor e percebi que queria divertir-me. Quis então fazer um filme que pudesse ter tudo isso. Há quem pense que isto é uma decisão de carreira, mas para mim é uma declaração para não me levar tanto a sério. Há jovens actores que se levam tão a sério que julgam que é obrigatório terem de sofrer o tempo todo, acham que isso é que é representar.

Não haverá perigo de alguns cineastas autores poderem no futuro pensar duas vezes antes de o escolherem?
Com qualquer escolha que fazemos estamos a perder outras hipóteses – para se abrirem algumas portas, outras fecham-se. Acho importante um actor poder seguir aquilo de que gosta. Por exemplo, adoro o Mike Leigh, adoro o Lars von Trier, mas se eles acharem que não sou ideal para um eventual projecto, não posso fazer nada. Limito-me a seguir o meu coração. Não posso estar a condicionar as minhas escolhas em função de uma certa imagem com que possa vir a ficar.

Importante aqui foi levar a sério a parte da preparação física. Por exemplo, o seu corpo mudou!
O produtor Jerry Bruckheimer pagou-me muito bem para aprender esgrima! A sério, seis meses antes de começar a rodagem comecei a pôr-me em forma, ou seja, deixei crescer o cabelo e comecei a lavá-lo diariamente. Aos poucos, os músculos nos meus braços começaram a crescer. Para o resto do corpo, os músculos foram sendo esculpidos usando um sabonete. É incrível o que um sabonete pode fazer pelos teus abdominais [risos].

Durante a rodagem do filme saíram para a imprensa muitas fotos do seu corpo musculado. De repente, o seu novo visual pareceu sobrepor-se a tudo…
É um bocado ridículo, sim. Há, de facto, muito interesse em Hollywood pelas coisas da vaidade. Mas o importante é que serve para promoção do filme e não deixa de ser lisonjeador para mim.

Durante os próximos tempos vai ter de promover este filme através de maratonas de entrevistas e aparições em eventos. Tem alguma estratégia de discurso, sabe já que tipo de conversa mole vai inventar para aqueles talk-shows tolos da televisão americana?
Mas eu adoro conversa mole! Digo-lhe apenas que estou completamente preparado. Esse é o meu trabalho. Quando me dizem, a medo, que tenho de estar um dia inteiro num hotel a dar entrevistas, respondo sempre que é o meu trabalho. Por muito que seja uma maratona, gosto desse trabalho. E ainda que me canse um pouco, é um trabalho fácil. Não posso queixar-me das obrigações promocionais de um épico tão divertido como este. A sério, estou muito entusiasmado.

Muitos colegas seus queixam-se abertamente da dureza das obrigações promocionais…
Pois, armam-se em vítimas. Acham muito difícil estar a dar todas estas entrevistas e não sei mais o quê… Enfim, gente que acha muito complicado ser actor. Não vou queixar-me por sido pago para ficar em forma, isso nunca! Aqui até tive de jogar videojogos como método de pesquisa para a personagem! Ui, que coisa tão dura… Obviamente joguei o Areias do Tempo, para perceber como a história começava. E joguei mesmo!

A questão do sotaque britânico foi também trabalho duro?
Foi muito duro, foi o que custou mais. Desenvolvi um bocadinho aquele sotaque do Sul de Londres, uma vez que muitos técnicos eram ingleses. Quis realmente ter um bom sotaque britânico. Demorei três meses a conseguir atingir o nível desejado. Também ajudou muito ouvir o realizador Mike Newell a falar, sobretudo quando ele me dizia «não estás a soar a um príncipe da Pérsia!». Mal chegava ao plateau, falava só com aquele sotaque. Foi uma experiência incrivelmente libertadora. Isso e poder dar humor à personagem através do sotaque. Com um sotaque britânico é mais fácil deixar o humor sair. O sotaque americano obriga a uma outra expressividade, enquanto o inglês torna tudo mais subtil.

Apesar de ser um rosto muito reconhecível, está ciente de que depois deste filme o seu estatuto de famoso vai ainda aumentar mais, não está? Sobretudo junto da criançada
Eu quero que as crianças sejam minhas fãs! Ser adorado por crianças é a coisa mais cool que pode acontecer-me! Fico entusiasmado com a ideia de que os miúdos vão adorar este Príncipe. Mais do que os adultos, o público mais importante para mim são as crianças.

Está mentalizado de que a sua vida vai mudar?
Estou entusiasmado e sei também que as crianças vão perseguir-me de forma louca. Até estou com medo de que me façam coisas perigosas [risos]! Acho que vou ter de tomar precauções com os mini-paparazzi…Tenho de estar sempre à espera de que um puto apareça de repente para tirar-me uma fotografia. Sei que isto pode parecer «budista», mas amo a energia das crianças. Foi por isso que quis fazer este filme. Essa é a energia que agora quero trazer à minha vida. Estou muito orgulhoso de Prince of Pérsia – Sands of Time! Era o filme que queria mesmo fazer. Tem que ver com a minha actual energia!

UM ACTOR PARA TODOS OS GOSTOS
O mundo olhou para ele como adolescente. Primeiro em October Sky, que em Portugal nunca foi visto nos cinemas, depois no imenso Donnie Darko, em que personificava a angústia teen de uma geração. Quando parecia que iria ser actor de culto, através de pequenos papéis em produções de prestígio, deu um salto para a megafama em O Dia depois de Amanhã, fábula apocalíptica de uma Nova Iorque destruída pelas mudanças climáticas. Mas ainda era jovem. Só depois chegou o Jake adulto. Primeiro papel a sério… O Segredo de Brokeback Mountain, no qual foi premiado com a nomeação para o Óscar de melhor actor de elenco/secundário. Muitos acharam que deveria estar nomeado para o Óscar de melhor actor, ponto final. Ainda assim, sentia-se que lhe faltava aquele rasgo de génio que Heath Ledger mostrava. De seguida, prova de fogo superada em Máquina Zero, filme sobre a guerra no Golfo, de Sam Mendes. Não foi aos Óscares mas ganhou respeitabilidade e perdeu a namorada na vida real, a actriz Kristen Dunst. A melhor interpretação estava ainda por vir – foi em Zodiac, o thriller de David Fincher. Por esta altura, Jake Gyllenhaal trabalhava com a nata da lista A de Hollywood, mas queria mais. Os fracassos de bilheteira de Rendition – Detenção Secreta e Brothers quase que adivinhavam este mergulho nos blockbusters em Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo. O actor gostou tanto que já disse que quer fazer mais filmes desta série. É muito simples, Jake quer ser como Johnny Depp. Popular e respeitado. Só é pena que em Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo o seu herói peça mais provas de atleta do que de… actor.

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