Jáfumega regressam hoje aos palcos

Banda mítica do panorama pop nacional dos anos 80 atua hoje no Coliseu do Porto e dia 31 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Terão convidados em palco. E a possibilidade da edição posterior de um DVD ao vivo.
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Os Jáfumega regressam hoje aos palcos para o primeiro de um par de concertos que devolverão à vida um dos nomes mais marcantes da pop portuguesa dos anos 80. Hoje à noite o Coliseu do Porto assiste em primeira mão a este reencontro com os palcos, num concerto que contará com uma série de convidados. São eles Jorge Palma, Capicua e o rapper DEAU. Dia 31 é a vez do concerto passar pelo Coliseu dos Recreios, em Lisboa, dessa vez com António Zambujo como convidado. Ambas as noites serão registadas em suporte audiovisual para uma possível posterior edição em DVD, uma vez que o grupo nunca lançou qualquer gravação ao vivo. Entre o alinhamento dos concertos passarão temas clássicos da discografia da banda, assim como alguns inéditos que nunca chegaram a ser gravados.

"É uma história que nos dá muito gosto fazer e para a qual partimos com a mesma vitalidade e irreverência de há 30 anos", confessou recentemente o vocalista Luís Portugal em entrevista ao DN. O regresso foi trabalhando em segredo, revelado há apenas algumas semanas. "Não foi fácil", admitiu o músico, tendo até em conta o facto deste ano David Bowie ter protagonizado outra história envolvendo grande secretismo quando, em janeiro, e sem quem ninguém tivesse dado por isso, revelou que iria editar um álbum de originais após dez anos de silêncio. Quanto aos Jáfumega, Luís Portugal explicou que, pelo facto de o grupo sempre ter tido uma certa independência, o que, diz, "até foi importante para a saúde musical" da banda, "se calhar" tiveram "a possibilidade de chegar a esta altura com um segredo". Tentaram "não estar ligados de uma forma muito absorvente às redes sociais", sublinhando assim essa mesma "independência, esse afastamento". E tentaram também meter-se "nos tascos mais longínquos" quando tinham de falar em conjunto.

A ideia de uma reunião dos Jáfumega já fora levantada em outras ocasiões, mas só agora se tornou possível. "Conseguimos reunir condições que não havia nas outras alturas", explica o vocalista do grupo. "Sempre fomos muito defensores da qualidade que pretendemos para a nossa música e antes não tinham sido reunidas as condições para que tudo corresse a 200%, como sempre quisemos. Neste caso estamos com a Isabel Dantas, secundada por gente capaz... E depois dela ter feito a produção dos Ornatos, deu-nos essa garantia de qualidade. Tudo isso, juntamente com algum espaço entre nós. O Mário Barreiros, por exemplo, é um produtor muito querido. Precisávamos ainda de tempo para descansar um pouco, refletir naquilo que iríamos fazer e trabalhar em conjunto", explica.

Entre os últimos discos e concertos passaram quase três décadas. E na memória ficaram canções e ecos de uma certa qualidade gourmet que da banda fazia um dos nomes mais interessantes do panorama pop do Portugal de inícios dos oitentas, numa altura em que uma nova noção de cultura jovem ganhava forma e criava públicos. "Havia uma personalidade e esse é um valor que sempre defendemos e hasteámos bem alto em todo o nosso trabalho discográfico e no palco", recorda Luís Portugal. "Há um naipe de canções intemporal que temos gosto em ter deixado como o nosso legado", continua, frisando que, além disso, "é bastante atual não só em termos musicais, de produção, como até em termos de palavras". As canções envolvem "textos muito irreverentes, do Carlos Tê e do José Soares Martins", daí que o próprio músico reconheça a sua "importância" no panorama do rock português e, agora a o desafio em poder, em 2013, "levar esses dados a todo o público".

Hoje, tal como no próximo dia 31, os Jáfumega vão assim evocar memórias de juventude. Da sua e de muitos dos que certamente estarão do outro lado do palco, a vê-los. Mas passaram 30 anos. E eles são certamente homens diferentes... "Identificamo-nos musicalmente com o que foi feito e com as palavras", reconhece Luís Portugal, que sublinha que "houve uma longa viagem" de 30 anos. "As pessoas mudam, somos todos homens... Pode haver situações que tenham sido um pouco ultrapassadas no tempo. Mas o que vamos mostrar é a realidade dos anos 80 que, em parte, não foi muito alterada. Há situações que continuam com os mesmos problemas, que levantámos na altura. Estou-me a lembrar do texto do Assim Não, do Só Sai a Ti... Poderíamos alterar algo, tornar esses textos mais atuais. Pensámos nisso. Mas não queremos dar um desgosto à nossa legião de fãs e desejamos que em 2013 consigam reviver toda essa época. Por outro lado queremos chegar a uma nova geração pelo nosso lado musical, pela nossa vitalidade, que é diferente mas é grande. Com a mesma independência e a mesma irreverência que tivemos como banda e como pessoas".

Luís Portugal explicou também ao DN que o os afastou, por volta de 1985, está ultrapassado. A separação do grupo deveu-se "em grande parte, à busca individual de outros caminhos musicais e outras áreas culturais" onde a maioria dos elementos da banda hoje está inserida. E, acrescenta, talvez tenha refletido "um desgaste de mercado". Reconhece que tiveram "algumas pressões editoriais no sentido de procurar caminhos mais comerciais que foram recusados" pela banda. Resolveram por isso "parar, até para nós poder crescer". Hoje, conclui, estão "a pensar de forma calma e madura... Mas unicamente nestes dois espetáculos. Mas nunca se sabe..."

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