Jacques Monsieur. O traficante que se apaixonou por armas no exército belga
É nos anos 80 que se encontram as primeiras pistas de Jacques Monsieur no negócio do tráfico ilegal de armas. Nascido na cidade belga de Hal em 1952, este filho de um notário criado numa família da classe média-alta, estudou para seguir os passos do pai. Formado em Direito notarial, é contudo no exército, quando cumpre o serviço militar, que se começa a interessar por armas.
Naqueles anos 80, com a guerra entre Irão e Iraque no auge e o regime dos ayatollahs que chegara ao poder em Teerão em 1979 colocado sob embargo, aquele a quem já chamam na altura "O Marechal" ou "A Raposa" começa a vender mísseis americanos aos líderes do Irão. Um negócio que passa por Israel e que alguns anos mais tarde lhe valem os primeiros problemas com a justiça.
Julgados nos Estados Unidos por tráfico ilegal de armas, passa dois anos numa prisão americana. O mesmo tempo que cumprirá de seguida no Irão, onde é condenado por espionagem, conta a televisão belga RTBF.
A guerra Irão-Iraque está longe de ser o único conflito de finais do século XX a que o nome de Monsieur surge associado: da Ex-Jugoslávia ao Congo, da Colômbia ao Médio Oriente. Jacques Monsieur habituou os clientes a uma resposta pronta aos seus pedidos. E não se limita a entregar espingardas, o seu negócio inclui o fornecimento de mísseis, helicópteros e tanques.
Uma atividade que desperta a atenção das justiças belga e francesas, com "A Raposa" a ser condenado em várias ocasiões em cada um destes países, cumprindo várias penas de prisão.
De cada vez que sai em liberdade, Monsieur garante estar reformado, mas o seu nome vai continuando a surgir ligado a casos de tráfico de armas.
Jacques Monsieur foi detido na quarta-feira em Portugal. Foi um negócio de cavalos que elevou a polícia portuguesa até ao esconderijo de um dos maiores traficantes de armas da Bélgica. Aos 66 anos, "O Marechal". foi detido na Herdade do Zambujal, perto de Évora, onde estava escondido há quase um ano, depois de ter sido condenado em 2018 a quatro anos de prisão no seu país e ao pagamento de uma multa de 1,2 milhões de euros por tráfico de armamento para a Líbia, Chade, Paquistão e Irão. Um agravamento depois de ter recorrido da pena aplicada em primeira instância - três anos de prisão e 300 mil euros de multa.
Dono de uma quinta em França, que vendeu em março, Monsieur decidiu transportar nove cavalos da quinta para Portugal. Transporte no valor de 2 500 euros que Monsieur nunca terá pago. Mais foi esta pista de Tarascon que trouxe a equipa especial belga FAST a Évora, em estreita colaboração com as polícias portuguesa e francesa.
A polícia encontrou-o escondido num pequeno abrigo, junto aos estábulos da herdade.
Jacques Monsieur foi presente a juiz na sexta-feira, tendo o Tribunal da Relação de Évora decretado que fica em prisão preventiva até ser extraditado.