Os problemas internos na solução de esquerda que apoia o governo do PS levaram ontem um deputado independente do grupo parlamentar socialista, o economista Paulo Trigo Pereira, a falar na eventual necessidade de um dia destes o partido apresentar uma moção de confiança..Segundo avançou a Lusa - e o DN confirmou -, Paulo Trigo Pereira falou em dois eventos "graves" recentes que dividiram o PS das restantes forças de esquerda e disse que perante um terceiro acontecimento se deveria ponderar seriamente fazer um teste à viabilidade da solução de esquerda apresentando uma moção de confiança ao governo..O primeiro acontecimento, segundo referiu, foi o facto de o BE ter votado ao lado do PSD e do CDS para tornar irrefutável a obrigatoriedade de os administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentarem declarações de rendimentos e património no Tribunal Constitucional; e a segunda aconteceu quando o BE e o PCP se uniram para chamar ao Parlamento - visando o chumbo - o acordo na concertação social que reduziu a taxa social única (TSU). Carlos César contrapôs que, a haver dúvidas sobre a solidez plataforma que apoia o governo do PS, o PSD e o CDS que apresentem uma moção de censura..[artigo:5616960].Seja como for, a discussão surgiu de um dado inegável: há sombras a pairar sobre a maioria de esquerda e sobre o seu futuro. Ontem, num artigo no Público e depois em declarações à Antena 1 e à Rádio Renascença, o eurodeputado socialista Francisco Assis - assumido crítico dos acordos do PS com os partidos à sua esquerda - falou de um risco de "paralisia" na governação do PS. Solução: "Por muitos custos que possa ter, não vislumbro outra que não passe a curto ou médio prazo pela realização de eleições legislativas antecipadas.".O PS "oficial" reagiu muito rapidamente. Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, acusou Assis de ter conseguido "a proeza de se antecipar ao PSD e ao CDS no pedido de eleições legislativas antecipadas, o que a acontecer provocaria instabilidade política"..[artigo:5616989]."Gostaria que Francisco Assis viesse à próxima reunião da Comissão Nacional do PS para, entre camaradas, podermos discutir o atual momento político em Portugal. É minha convicção de que a esmagadora maioria dos militantes do PS está realizada com o papel que o partido desempenha no governo - e Francisco Assis pode ter a certeza de que este governo vai durar até ao fim da legislatura", reagiu o governante (um dos principais responsáveis permanentes pelas negociações quotidianas entre o governo e os partidos à esquerda do PS)..Pedro Nuno Santos aludiu ainda ao facto de o eurodeputado socialista se "queixar de que a atual solução de governo impossibilita fazer reformas". "A atual solução de governo não permite as reformas que a direita quer, como a privatização da Segurança Social. Se é dessas reformas que Francisco Assis está a falar, essas, na realidade, não são possíveis com este governo - e não são possíveis não por causa do PCP ou do Bloco de Esquerda, mas porque o PS não as quer.".Em Davos, o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, foi chamado a comentar a tomada de posição de Francisco Assis. Depois de recusar especular sobre alternativas à redução na TSU, acrescentou, quanto a Assis: "Então sobre essa é que não digo mesmo nada.".Ao fim da tarde, no Parlamento, registou-se mais uma divisão na esquerda: o PS, aliado ao PSD e ao CDS, chumbou a proposta do PEV e do PAN para transformar a terça-feira de Carnaval em feriado.