Já se começa a falar de moções de confiança no PS 

Há vozes descontentes na bancada socialista com comportamento do BE e do PCP quanto à redução da taxa social única acordada pelo governo com os parceiros sociais
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Os problemas internos na solução de esquerda que apoia o governo do PS levaram ontem um deputado independente do grupo parlamentar socialista, o economista Paulo Trigo Pereira, a falar na eventual necessidade de um dia destes o partido apresentar uma moção de confiança.

Segundo avançou a Lusa - e o DN confirmou -, Paulo Trigo Pereira falou em dois eventos "graves" recentes que dividiram o PS das restantes forças de esquerda e disse que perante um terceiro acontecimento se deveria ponderar seriamente fazer um teste à viabilidade da solução de esquerda apresentando uma moção de confiança ao governo.

O primeiro acontecimento, segundo referiu, foi o facto de o BE ter votado ao lado do PSD e do CDS para tornar irrefutável a obrigatoriedade de os administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentarem declarações de rendimentos e património no Tribunal Constitucional; e a segunda aconteceu quando o BE e o PCP se uniram para chamar ao Parlamento - visando o chumbo - o acordo na concertação social que reduziu a taxa social única (TSU). Carlos César contrapôs que, a haver dúvidas sobre a solidez plataforma que apoia o governo do PS, o PSD e o CDS que apresentem uma moção de censura.

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Seja como for, a discussão surgiu de um dado inegável: há sombras a pairar sobre a maioria de esquerda e sobre o seu futuro. Ontem, num artigo no Público e depois em declarações à Antena 1 e à Rádio Renascença, o eurodeputado socialista Francisco Assis - assumido crítico dos acordos do PS com os partidos à sua esquerda - falou de um risco de "paralisia" na governação do PS. Solução: "Por muitos custos que possa ter, não vislumbro outra que não passe a curto ou médio prazo pela realização de eleições legislativas antecipadas."

O PS "oficial" reagiu muito rapidamente. Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, acusou Assis de ter conseguido "a proeza de se antecipar ao PSD e ao CDS no pedido de eleições legislativas antecipadas, o que a acontecer provocaria instabilidade política".

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"Gostaria que Francisco Assis viesse à próxima reunião da Comissão Nacional do PS para, entre camaradas, podermos discutir o atual momento político em Portugal. É minha convicção de que a esmagadora maioria dos militantes do PS está realizada com o papel que o partido desempenha no governo - e Francisco Assis pode ter a certeza de que este governo vai durar até ao fim da legislatura", reagiu o governante (um dos principais responsáveis permanentes pelas negociações quotidianas entre o governo e os partidos à esquerda do PS).

Pedro Nuno Santos aludiu ainda ao facto de o eurodeputado socialista se "queixar de que a atual solução de governo impossibilita fazer reformas". "A atual solução de governo não permite as reformas que a direita quer, como a privatização da Segurança Social. Se é dessas reformas que Francisco Assis está a falar, essas, na realidade, não são possíveis com este governo - e não são possíveis não por causa do PCP ou do Bloco de Esquerda, mas porque o PS não as quer."

Em Davos, o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, foi chamado a comentar a tomada de posição de Francisco Assis. Depois de recusar especular sobre alternativas à redução na TSU, acrescentou, quanto a Assis: "Então sobre essa é que não digo mesmo nada."

Ao fim da tarde, no Parlamento, registou-se mais uma divisão na esquerda: o PS, aliado ao PSD e ao CDS, chumbou a proposta do PEV e do PAN para transformar a terça-feira de Carnaval em feriado.

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