Já há quem aposte em Maia para suceder a Temer

Com o presidente Michel Temer ainda mais acossado pela polícia e a perder apoio, políticos e empresários da Av. Paulista preparam-se para o sucessor
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A tempestade perfeita que atingiu nos últimos dias o governo liderado por Michel Temer (PMDB) deve ter como desfecho a queda do presidente e a subida à presidência de Rodrigo Maia (DEM), líder da Câmara dos Deputados e seu sucessor direto segundo a Constituição. Em Brasília, os congressistas já trabalham nesse cenário e na Av. Paulista, o coração da alta finança em São Paulo, também.

"O país caminha para a ingovernabilidade", sentenciou Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, maior partido da base aliada de Temer, na quinta-feira. Segundo o senador, "[Rodrigo Maia] tem condições, até pelo cargo que exerce de presidente da Câmara, de juntar os partidos ao redor de um mínimo de estabilidade no país", concluiu.

Maia tem 47 anos, é deputado desde os 29 e pertence a um dos partidos mais à direita do Parlamento, o DEM, que também vem dando indicações de pretender abandonar o governo. Citado como beneficiário de subornos nas delações dos executivos da construtora Odebrecht na Operação Lava-Jato, passou de uma posição de apoio declarado a Temer a uma atitude classificada como apática por colegas parlamentares porque sabe que o Planalto lhe pode cair no colo.

Dado este cenário, os tubarões do mercado já adequam a sua atuação à possível queda de Temer, cuja subida ao poder em maio de 2016 por troca com Dilma patrocinaram. Maia, diz o jornal Valor Económico, tem-se reunido na sua residência oficial com investidores e analistas para falar do seu plano de governo.

Entre os sinais no Congresso da perda de força de Temer estão os trabalhos na comissão da Câmara dos Deputados, dirigida por Maia, que vai analisar a acusação do Ministério Público contra o presidente: dos 66 deputados que a compõem, só sete (são necessários 34) estão contra a aceitação da denúncia, sendo que o presidente da Comissão e o relator do processo são críticos do presidente da República mesmo pertencendo ao seu PMDB. No Senado, a aprovação da reforma laboral, um das mais emblemáticas do governo Temer, está a um voto de ser rejeitada. E um dos senadores que mais tem trabalhado pelo seu chumbo é Renan Calheiros, mesmo sendo do PMDB e até há meses um dos fiadores do governo.

Com eleições gerais em 2018, os congressistas sentem que um eventual apoio ao impopular Temer e às suas reformas é um risco acrescido de não reeleição. Consciente disso, o presidente tem tentado evitar a debandada ao dar recursos - num total já de 2,5 mil milhões de reais - para os parlamentares usarem nos seus círculos eleitorais. O expediente, criticado na imprensa e pela opinião pública, foi usado também por Dilma Rousseff (PT), embora numa quantia inferior, como tentativa de travar o impeachment em 2016.

Aos problemas de Temer no Congresso juntam-se os dos tribunais. A procuradoria prepara novas denúncias contra o presidente. Acresce que Eduardo Cunha (PMDB), ex- presidente da Câmara que conduziu o impeachment e está hoje detido por corrupção, assinou acordo de delação premiada com as autoridades. Com mais de cem anexos, a delação será explosiva, para Temer e o seu braço direito no executivo, Moreira Franco.

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