Já conhece o Dia de Aulas ao Ar Livre?
O conhecimento não está encerrado apenas nos livros e a pedagogia muito menos. E se as condições climatéricas nem sempre possibilitam a prática da Grécia Antiga de ensinar as crianças ao ar livre, ainda assim, o modelo deveria ser replicado quando possível, certo? Existe um movimento que está a dar passos significativos nesse sentido e conseguiu, em pouco mais de cinco anos, garantir um dia por ano em que as crianças aprendem no exterior, aplicando de forma prática, no mundo real, alguns dos conhecimentos que estão nos manuais escolares.
A génese deste movimento pode ser encontrada no Reino Unido, onde Anna Portch e um grupo de professores e educadores motivados, que faziam parte do Fórum de Escolas Sustentáveis de Londres (LSSF na sigla original em inglês), resolveram dedicar um dia a uma prática que alguns deles já realizavam a uma escala menor, levando alguns alunos a ter as suas aulas no meio da natureza. A motivação desta iniciativa nasceu depois de um estudo referir as inúmeras vantagens deste modelo pedagógico, dando origem ao projeto "Empty Classroom Day" que em 2011 se materializou num dia de aulas ao ar livre, em Londres, contando com cerca de uma dúzia de escolas. O movimento cresceu entretanto e, na última edição, foram mais de 3000 as escolas participantes, espalhadas por 51 países diferentes. Foram mais de 400 mil crianças a ter uma aula no exterior, em latitudes tão diferentes como a dos Estados Unidos, França, Brasil, India, Arábia Saudita, África do Sul ou Índia.
De Londres para o mundo
Para esta massificação do movimento foi crucial o envolvimento de uma marca que há muito se preocupa com as crianças e com o seu direito a brincar ao ar livre (mesmo que isso implique algumas nódoas). A marca SKIP da empresa Unilever associou-se ao movimento e em Portugal isso faz-se sentir com o "Dia de Aulas ao Ar Livre", em parceria com a Associação Nacional de Professores e com o apoio da Associação Make-A-Wish. Um dia em que escolas, professores e educadores são convidados a levar as crianças para o exterior, num ambiente que se quer diferente e positivo do ponto de vista pedagógico.
Em Portugal, a iniciativa contou com mais de 50.000 crianças e 500 escolas envolvidas em 2016, fazendo do nosso país um dos que mais contribui para este movimento de caráter global.
São conduzidas várias mecânicas de aprendizagem que provem as capacidades das crianças, não só as capacidades cognitivas, mas também motoras e sociais. Medir o perímetro de rochas, calcular distâncias num jogo de perícia a atirar bolas a latas, ou explorar os segredos das ciências naturais com o recurso a lupas, são apenas algumas das atividades propostas, que fazem a diferença na curva de aprendizagem das crianças.
Num mundo em que tanto se fala das soft skills no mundo do trabalho, o "Dia de Aulas ao Ar Livre" é para muitos destes futuros adultos um passo em frente no desenvolvimento de ferramentas criativas, promovendo o trabalho de equipa e a capacidade de liderança.
Porquê agora?
Bem, a resposta não é linear, mas podemos afirmar que, mais do que nunca, brincar se tornou numa commodity, e das mais caras. Num estudo que a marca SKIP realizou no ano passado, ficou patente que as crianças dos dias de hoje passam menos tempo ao ar livre do que as gerações anteriores. Aliás, este estudo revelou que uma criança passa hoje menos tempo em atividades ao ar livre, em média, do que um recluso de uma instituição prisional. Esta situação poderá colocar em causa o futuro das nossas crianças, tanto no que diz respeito à sua capacidade física como intelectual e até mesmo social.
E porquê assistirmos impassíveis? Qual a razão pela qual, tão facilmente, deixamos de lutar pelo direito das crianças ao seu tempo de brincadeiras no exterior? Nos países nórdicos, onde as temperaturas são muitas vezes inferiores a 0º C., o tempo de recreio no exterior é ainda assim assegurado, com benefícios constatados para as crianças. Que desculpa temos nós, então, agraciados com o nosso clima temperado?
Se existe altura para mudar o rumo e formar crianças mais capazes para o futuro, essa altura é agora. Podemos marcar a diferença de forma pessoal, motivando as crianças do nosso círculo familiar a passar mais tempo ao ar livre e partilhando com elas esses momentos. E podemos potenciar essa mudança positiva participando de forma ativa neste movimento de dimensão global, que se vai repetir já no próximo dia 18 de maio, com escolas de todo o país. Entre em contacto com a escola dos seus filhos e saiba como se pode envolver e ajudar a que o mundo de amanhã seja vivido por adultos que sabem qual o verdadeiro valor de brincar e aprender ao ar livre.