Preso na Bolívia o terrorista mais procurado por Itália
A caminhar sozinho numa rua de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) com uma barba falsa e um documento de identidade brasileiro. Estava assim o homem que um grupo de investigadores da Interpol, acompanhados por elementos da polícia boliviana, vigiou e seguiu até o deter e confirmar as suspeitas: o homem de calças azuis, camisa e óculos de sol era Cesare Battisti, procurado pelas autoridades italianas para cumprir uma pena de prisão perpétua a que foi condenado por quatro homicídios entre 1977 e 1979. Contam os jornais brasileiros e italianos que não ofereceu resistência e que foi "de cabeça erguida" com os agentes.
Logo após ser conhecida a detenção pelos agentes italianos e brasileiros - da qual o jornal italiano La Stampa mostra um vídeo, dos momentos anteriores à intervenção dos polícias - surgiram as primeiras declarações de satisfação. Como a do ministro do Interior transalpino Antonio Bernardini que na sua conta da rede social Twitter escreveu: "Battisti está preso! A democracia é mais forte que o terrorismo!!". E pouco depois um outro anúncio do governo liderado por Giuseppe Conte: neste domingo segue para a Bolívia um avião que vai buscar Cesare Battisti para se seja entregue à justiça italiana rapidamente.
A detenção do homem mais procurado por Itália - e que esteve no Brasil até dezembro tendo fugido do país depois de o antigo presidente Michel Temer ter assinado um decreto em que autorizava a extradição de Battisti, que morava em Cananéia, uma cidade do estado de São Paulo - foi confirmada durante a madrugada deste domingo por Filipe G. Martins, conselheiros especial do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Também no Twitter escreveu: "O terrorista italiano Cesare Battisti foi preso na Bolívia esta noite e em breve será trazido para o Brasil, de onde provavelmente será levado até a Itália para que ele possa cumprir pena perpétua, de acordo com a decisão da justiça italiana".
Antigo militante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), que pertencia ao grupo paramilitar de guerrilha Brigadas Vermelhas, fundado em Itália no final da década de 60 do século passado, Cesare Battisti foi condenado à revelia em 1993 a prisão perpétua por quatro mortes entre 1977 e 1979: dois polícias, um joalheiro e um talhante.
Em 1981 conseguiu fugir da prisão e refugiou-se França até aos anos 90. Quando este país estava para lhe revogar o estatuto de refugiado político foi para o México e depois para Brasil, onde esteve escondido até 2007. Em março desse ano foi preso numa operação que envolveu polícias do Brasil, Itália e França. O Supremo Tribunal brasileiro autorizou a sua extradição em 2009, mas a decisão não foi vinculativa e o ex-presidente brasileiro Lula da Silva acabou por no último dia do seu mandato - 31 de dezembro de 2010 - rejeitar a extradição. Battisti ficou assim a viver no litoral de São Paulo até que, devido à decisão de Michel Temer, saiu do Brasil.
O ministro do Interior italiano Matteo Salvini já agradeceu ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro a colaboração das autoridades do país, tal como das bolivianas, e afirmou que Battisti é "um delinquente que não merece uma vida cómoda na praia e sim acabar os seus dias na prisão". "O meu primeiro pensamento vai para os familiares das vítimas deste assassino que durante demasiado tempo gozou uma vida que tirou aos outros, protegido pela esquerda de meio mundo", frisou Salvini, segundo o jornal espanhol El Mundo.
Também o ministro da Justiça italiano, Alfonso Bonafede, comentou a detenção no Facebook: "Agora será entregue a Itália para que cumpra a sua pena. Quem erra tem de pagar e até Battisti vai pagar." E acrescentou: "O tempo que passou não aliviou as feridas que Battisti deixou nas famílias das suas vítimas e no povo italiano, assim como não fez diminuir o desejo humano e institucional de obter justiça."
Quem também comentou a prisão de Cesare Battisti foi Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro. No Twiter escreveu: "O Brasil não é mais terra de bandidos. Uma prenda vai chegar."