"Isto vai ter um impacto brutal a nível das infeções hospitalares"
Qual é o impacto dos dois dias de espera para se saber que antibiótico aplicar?
O primeiro impacto é nos doentes críticos, nas infeções hospitalares graves. Se pensarmos em todas as infeções, verificamos que a medicina vive com um problema que é a era pós-antibiótica. Os nossos bisavós morreram até com infeções relativamente simples por não haver antibióticos. Os nossos avós e pais poderiam ter morrido se não houvesse antibióticos mas já não morriam porque se tomava um antibiótico atempadamente e foi eficaz. Mas provavelmente os nossos filhos, e nós, podemos vir a morrer se não houver nada que mude a situação presente. Neste momento, infeções aparentemente simples correm o risco de não poder vir a ser tratadas por causa das resistências aos antibióticos, em termos médicos os antimicrobianos.
Porquê?
Quando estamos a tratar as infeções corremos atrás do cavalo que vai à frente. Porque a resposta laboratorial é um bocado atrasada no tempo. A metodologia convencional dá uma resposta tardia. Na unidade de queimados tenho um doente que está a desenvolver uma infeção, solicitei exames microbiológicos e vou ter uma resposta que vai levar tempo, com o risco de poder estar a criar resistências. Este produto dá--nos uma resposta precoce que nos permite direcionar a um alvo e, portanto, não estar a atingir colaterais, não estar a criar resistências. Isto vai ter um impacto brutal.
De que forma?
Vou poder selecionar um antibiótico mais rápido, ter custos diretos mais reduzidos, custos de internamento muito menores. Esta metodologia tem um outro potencial de aplicação a ser desenvolvido: a medicina sabe que uma das razões da ineficácia da terapia antimicrobiana tem que ver com alguns fármacos não atingirem concentrações eficazes a nível do alvo, do sangue, dos tecidos. Ora esta metodologia serve para fazer esses doseamentos. Por exemplo, um doente que estou a tratar está a receber um fármaco que tem um doseamento e uma metodologia complicada, morosa, que não é até funcional. Só no dia seguinte vou ter os níveis terapêuticos. Com esta metodologia vou ter em poucas horas essa resposta. E é funcional, célula a célula vejo o que está acontecer.
Pode ser eficaz contra as infeções hospitalares?
Além de avaliar o perfil de suscetibilidade aos fármacos, avalia os mecanismos de resistência. Se a bactéria for resistente, permite saber qual é o mecanismo. O problema desta era pós-antibiótica e das resistências, com bactérias a "passearem" pelos hospitais, é uma coisa que a Organização Mundial da Saúde considera uma emergência global. Estas bactérias multirresistentes rapidamente aparecem noutro continente. Está preocupada a OMS e a indústria farmacêutica. A utilidade clínica de um antimicrobiano era dez anos, agora passou a quatro ou três. Na unidade de queimados já recebi doentes de Angola que trazem bactérias multirresistentes. É a globalização, o que leva que as bactérias circulem por todo o lado.