Isto é como um Big Brother
Carlos Costa é determinado quando afirma que concorreu ao Ídolos para "subir na carreira". O mesmo é dizer que quer ganhar a bolsa de estudo na London Music School, uma das mais prestigiadas escolas de música do mundo. Mas tão ou mais importante que o prémio, admite o finalista do concurso da SIC, é "poder tirar partido da projecção que a televisão dá através de um programa deste género". Afinal, ser "artista" tornou-se um objectivo de vida que não abandona desde os 15 anos, altura em que trocou a terra onde nasceu, Porto Moniz, pela "grande" Lisboa.
"Vencer o Ídolos seria óptimo por causa do prémio, porque quero o chamado 'dois em um': estudar e trabalhar em música ao mesmo tempo. Também porque a visibilidade perante produtores e público, em geral, é muito grande e, por isso, achei que era uma boa aposta ir ao programa." Aposta que parece estar ganha, pelo menos no que respeita ao reconhecimento. Durante as duas horas em que a Notícias TV esteve com Carlos junto à Estação do Oriente, no Parque das Nações, em Lisboa, o jovem madeirense não se cansou de dar autógrafos, sorrisos e beijos. "Olha o Carlos da televisão", "posso tirar-lhe uma fotografia para levar à minha netinha"?, ou, "já estava além quando o vi e tive de vir ter consigo", foram expressões que o concorrente ouviu muitas vezes. "É bom ouvir e sentir isto", confessou. "A única coisa que me assusta é estar a falar com alguém que não conheço e que pode pensar que sabe tudo sobre a minha vida quando, na verdade, não sabe", diz.
Mesmo assim, garante, a exposição pública não mudou a sua personalidade... à excepção da maneira como encara o mediatismo. "Sou fiel a mim mesmo, mas é verdade que sempre pensei que ser conhecido era uma coisa boa para um cantor, porque posteriormente quando desse um concerto iam aparecer o dobro das pessoas." Semanas depois do início do Ídolos, a teoria caiu por terra. "Há uma faceta menos boa. Agora assusta-me quando vejo que aquilo que damos a conhecer nem sempre é interpretado da forma como as coisas realmente são. E depois há coisas que gostava que fossem só minhas... Por exemplo, faz-me confusão ver o meu pai e a minha mãe aparecerem na televisão, parece que se tornam um bocadinho de toda a gente. Fui eu que me assumi como figura pública quando me inscrevi no Ídolos e não eles. Os meus pais não enviaram mensagem por mim. Apesar de eles não se importarem...", desabafa.
A preferida da "família Ídolos"
Ir a casa, estar com a irmã e os amigos à segunda e terça-feira - os dias de "folga", como lhes chama - serve para repor energias e ajuda a superar o cansaço que se sente nesta fase do concurso. "Às vezes, sinto-me um bocadinho cansado, sim! Depende dos dias. Mas o facto de irmos a casa é bom, até porque consigo estar com os meus amigos", adianta Carlos, que não é "daquele tipo de pessoas que gostam de sair e ir beber umas bejecas". Prefere receber os amigos em casa: "Quando muito, combino um chá em casa e eles vão lá ter, ou então vou ao shopping jantar, nada mais." Por isso, por não ser de grandes "borgas", não se sente "preso" quando está, todas as semanas, sob a alçada da produção do Ídolos, de quarta-feira a domingo, e não pode sair à noite ou ir ao cinema. "Isto é como se fosse um Big Brother, só que sem câmaras. Nós estamos aqui dentro, temos de lidar uns com os outros, acordar e ver as mesmas caras, adormecer e ver as mesmas caras, estar sempre com as mesmas caras..." E não estará ele cansado de ver sempre as mesmas caras? "Não, nós vivemos todos juntos, já somos a família "ídolos". Uma família que foi diminuindo e que agora tem apenas três elementos. Rivalidade, afiança, não existe. "Nunca considerei o Filipe um adversário. Nem a Diana. Não podemos ser adversários artisticamente porque somos diferentes. E em termos de concurso, a haver uma adversária, seria a Diana, sem dúvida. Aqui, ela é o meu ídolo e, se me perguntar quem é que ganhava, digo que era ela", revela. "É óbvio que gostava de receber o prémio, mas vejo a Diana como a sucessora daquilo que quero para mim."
Uma postura de artista
Carlos comporta-se e pensa como um artista. Nada é deixado ao acaso. Maquilhagem e a falta de sotaque madeirense fazem parte dessa construção. "As pessoas pensam que passo a vida maquilhado, mas não. Só o faço quando tenho alguma coisa oficial para fazer ou se tenho de aparecer e sei que vão estar fotógrafos ou câmaras." E engana-se quem pensa que o rapaz de Porto Moniz não sabe como se usa uma base para o rosto. "Tenho uma grande pochete com toda a maquilhagem que é necessária. Aprendi isto com os musicais que fiz. Quando se está em cima de um palco a fazer teatro, temos de estar muito bem caracterizados, para que as expressões passem para o público", esclarece. "No dia-a-dia não uso. Senão a minha pele não estaria... bem, ela já não está grande coisa... também estou com 17 anos, mas tenho muito orgulho na minha pele e não teria prazer nenhum em estragá-la com maquilhagem todos os dias".
O finalista do Ídolos vai mais longe ao esclarecer: "O que as pessoas recebem lá em casa é conteúdo criado" por si. "Tudo se constrói, incluindo a imagem. É como a falta de sotaque madeirense, que se deve a muito trabalho pessoal." Uma exigência que sempre lhe fizeram quando se propôs entrar no mundo artístico. "O sotaque trabalha-se e eu tive de o fazer por causa do teatro. Não falo como os lisboetas, nem como os portuenses, não falo como os madeirenses, e isto é uma coisa muito pública. Quando estou com pessoas do continente falo sempre assim, quando estou com pessoas da minha terra falo normal, com sotaque madeirense." Já quando está sozinho e à conversa "com os botões", Carlos baralha-se: "É uma mistura entre a Madeira e o continente. Às vezes digo umas coisas em madeirense, mas tenho sempre aquele cuidado... As palavras mais acentuadas acabam sempre por me fugir", diz, entre sorrisos.