No espaço de uma semana, o Irão foi palco de uma série de incidentes que podem estar totalmente, ou em parte, relacionados. Assim o dizem especialistas que apontam o dedo a Israel. De certa forma o ministro da Defesa israelita acabou por confirmar a participação do seu país ao rejeitar responsabilidade em todos os incidentes.."Nem todos os incidentes que acontecem no Irão têm necessariamente algo a ver connosco. Todos esses sistemas são complexos, têm limitações de segurança muito elevadas e não tenho a certeza de que saibam sempre como mantê-los", disse Benny Gantz, citado pela Reuters..No dia 26 de junho uma enorme explosão destruiu parte de uma instalação secreta associada ao programa nuclear iraniano junto à base militar de Parchin, 30 quilómetros a sudeste da capital..Horas depois, a cidade de Shiraz, mil quilómetros a sul, ficou sem eletricidade. Na mesma cidade, que tem uma base aérea importante, ocorreu no dia 2 um incêndio de grandes proporções num jardim..No mesmo dia, um 'incidente' foi noticiado pelos meios de comunicação iranianos na instalação nuclear de Natanz..Dias antes, em 30 de junho, uma explosão numa clínica médica no centro de Teerão matou 19 pessoas. A causa foi atribuída a uma fuga de oxigénio -- e de todos os incidentes este é o que gera menos suspeitas..Por fim, no sábado, uma explosão seguida de incêndio atingiu uma central elétrica em Ahvaz, no sul do Irão..Cautela iraniana.As autoridades iranianas começaram por afirmar que a explosão de 26 de junho não causou vítimas e que foi causada por uma fuga de gás na "área pública" da base militar de Parchin, a qual tem centenas de edifícios e dezenas de fábricas e no qual o Irão tinha sido suspeito de realizar testes para ogivas nucleares..A área de armazenamento de gás faz parte das instalações de Khojir e a explosão terá destruído a fábrica que produz combustível sólido para foguetes, mísseis de cruzeiro, bem como para o míssil balístico Sajil. Pressupõe-se que o complexo de mísseis Khojir, contém áreas de investigação, desenvolvimento e fabrico..As imagens de satélite em código aberto mostram uma grande área de terra queimada, estando os efeitos da explosão espalhados por uma área de quase um quilómetro e ligada em rede de túneis subterrâneos..Em 2012, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) quis que os seus inspetores visitassem Parchin na sequência de informações sobre atividade nuclear no local, mas os iranianos não autorizaram a inspeção antes de 2015, já depois da assinatura do acordo nuclear multilateral e da demolição de edifícios nos quais as atividades suspeitas terão ocorrido..Ainda assim, os inspetores da AIEA detetaram partículas de urânio que só poderiam ter sido produzidas durante explosões de dispositivos nucleares de ensaio a frio..O que aconteceu no dia 26? Segundo uma fonte do jornal Al Jarida, do Koweit, a explosão resultou de um bombardeamento de um caça F-35 israelita. Uma alegação que o executivo de Telavive se negou a comentar..A mesma cautela, ou limitação de danos de imagem, foi usada na sequência de uma explosão seguida de incêndio na principal fábrica de enriquecimento de urânio do Irão, em Natanz. Inicialmente, o regime subestimou a extensão dos danos em Natanz, com o porta-voz da Organização da Energia Atómica do Irão, Behruz Kamalvandi, a afirmar que tinha deflagrado um incêndio num "armazém industrial que estava em construção" e que não tinha resultado em baixas nem sequer em poluição ambiental..Na sexta-feira, um porta-voz do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão afirmou que "as investigações dos organismos relevantes determinaram com precisão a causa do acidente" no complexo nuclear de Natanz, mas "devido a certas preocupações de segurança, a causa e os pormenores" do sucedido "serão anunciados no momento apropriado", citou a agência noticiosa estatal IRNA..Dias depois, o regime afina a mensagem: afinal há "danos significativos". No domingo, o mesmo porta-voz que falava num acidente num armazém em construção reconhece que pode atrasar a produção das centrifugadoras utilizadas para enriquecer urânio. "A médio prazo, este acidente pode atrasar o desenvolvimento e a produção" das centrifugadoras avançadas", reconheceu o porta-voz da Organização da Energia Atómica do Irão, Behrouz Kamalvandi, numa entrevista publicada pela IRNA. "Não houve vítimas, mas os danos são significativos a nível financeiro", reconheceu..Avisos aos inimigos.A IRNA publicou um editorial a advertir os inimigos do Irão contra ações hostis: "Se há sinais de países hostis a atravessarem de alguma forma as linhas vermelhas do Irão, especialmente o regime sionista (Israel) e os Estados Unidos, a estratégia do Irão para enfrentar a nova situação deve ser fundamentalmente reconsiderada", disse a agência..Na segunda-feira, o tom endureceu, não tanto com uma ameaça direta, mas com a revelação da alegada existência de "cidades subterrâneas de mísseis". "O Irão estabeleceu cidades subterrâneas de mísseis em terra e no mar ao longo das costas do Golfo Pérsico e do Golfo de Omã que seriam um pesadelo para os inimigos do Irão", disse o chefe da Marinha dos Guardas da Revolução, almirante Ali Reza Tangsiri. .Faz parte da política de Telavive impedir que Teerão alcance uma bomba atómica, alegando que é objetivo do regime iraniano destruir Israel. O regime teocrático xiita nega querer armas nucleares e afirma que o programa nuclear tem fins pacíficos..Natanz, uma das principais instalações de enriquecimento de urânio do Irão, foi o local visado pelo vírus informático Stuxnet em 2010, numa ação atribuída a israelitas e norte-americanos. Então os danos infligidos às centrifugadoras atrasaram consideravelmente o programa nuclear iraniano..Teerão anunciou em maio do ano passado que iria suspender progressivamente certos compromissos no âmbito de um acordo nuclear de 2015 com as grandes potências, em resposta ao abandono unilateral dos Estados Unidos, em 2018..O Irão reiniciou o enriquecimento de urânio em Natanz em setembro passado, apesar de ter concordado, ao abrigo do acordo, em suspender tais atividades..Chitas da Pátria ou Mossad?.Para lançar mais confusão, antes da notícia do incidente se tornar pública na quinta-feira, o serviço persa da BBC recebeu e-mails de um até agora desconhecido grupo denominado Chitas da Pátria, que reivindicou o ataque a Natanz..A mensagem estava acompanhado com um vídeo no qual alegava que o grupo inclui "soldados pertencentes ao coração das organizações de segurança do regime" que querem impedir o Irão de adquirir uma arma nuclear..À Associated Press, Meir Javedanfar, professor iraniano no Centro Interdisciplinar em Herzliya, Israel, disse que qualquer grupo interno que conseguisse penetrar nas instalações nucleares fortemente vigiadas do Irão dificilmente arriscaria ser capturado divulgando tal vídeo..Deixou no ar quer a hipótese de ser um trabalho da israelita Mossad ou de outra agência de espionagem, "a fim de semear a discórdia", quer de uma operação interna iraniana, "a fim de reprimir", disse Javedanfar..O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita também contribuiu para alimentar a especulação. "Temos uma política a longo prazo de não permitir que o Irão tenha capacidades nucleares", disse Gabi Ashkenazi quando questionado sobre o sucedido em Natanz.."Este regime com essas capacidades é uma ameaça existencial para Israel. Tomamos medidas que é melhor deixar por dizer", disse o ministro israelita..Prova de que o tema é prioritário na agenda de Telavive foi o lançamento do satélite Ofek 16 na segunda-feira. Em nenhuma declaração oficial se explicou qual a missão do satélite de reconhecimento, mas a rádio pública israelita disse que seria utilizada para monitorizar as atividades nucleares do Irão..Inverno cibernético.Estes incidentes devem ser vistos à luz do ciberataque que Israel sofreu em abril. Segundo uma notícia do Financial Times, mais tarde confirmada pelas autoridades israelitas, o regime iraniano levou a cabo uma operação cibernética na qual tentou elevar os níveis de cloro nas águas residenciais, tendo o ataque falhado por pouco..O chefe da Direção Nacional Cibernética israelita, Yigal Unna, disse que aqueles acontecimentos deram início a uma nova era de guerra encoberta, tendo avisado que "o inverno cibernético está a chegar".."Se os maus da fita tivessem tido sucesso na sua trama, estaríamos agora a enfrentar, no meio da crise do coronavírus, danos muito grandes para a população civil e escassez de água ou ainda pior do que isso", acrescentou..Numa reportagem do Canal 13, os políticos israelitas viram o ataque aos sistemas hídricos como uma escalada significativa por parte do Irão e um cruzar de uma linha vermelha porque pela primeira vez visou as infraestruturas civis.."Este é um ataque que vai contra todos os códigos de guerra. Nem dos iranianos esperávamos algo assim", disse um dirigente citado pelo canal televisivo.
No espaço de uma semana, o Irão foi palco de uma série de incidentes que podem estar totalmente, ou em parte, relacionados. Assim o dizem especialistas que apontam o dedo a Israel. De certa forma o ministro da Defesa israelita acabou por confirmar a participação do seu país ao rejeitar responsabilidade em todos os incidentes.."Nem todos os incidentes que acontecem no Irão têm necessariamente algo a ver connosco. Todos esses sistemas são complexos, têm limitações de segurança muito elevadas e não tenho a certeza de que saibam sempre como mantê-los", disse Benny Gantz, citado pela Reuters..No dia 26 de junho uma enorme explosão destruiu parte de uma instalação secreta associada ao programa nuclear iraniano junto à base militar de Parchin, 30 quilómetros a sudeste da capital..Horas depois, a cidade de Shiraz, mil quilómetros a sul, ficou sem eletricidade. Na mesma cidade, que tem uma base aérea importante, ocorreu no dia 2 um incêndio de grandes proporções num jardim..No mesmo dia, um 'incidente' foi noticiado pelos meios de comunicação iranianos na instalação nuclear de Natanz..Dias antes, em 30 de junho, uma explosão numa clínica médica no centro de Teerão matou 19 pessoas. A causa foi atribuída a uma fuga de oxigénio -- e de todos os incidentes este é o que gera menos suspeitas..Por fim, no sábado, uma explosão seguida de incêndio atingiu uma central elétrica em Ahvaz, no sul do Irão..Cautela iraniana.As autoridades iranianas começaram por afirmar que a explosão de 26 de junho não causou vítimas e que foi causada por uma fuga de gás na "área pública" da base militar de Parchin, a qual tem centenas de edifícios e dezenas de fábricas e no qual o Irão tinha sido suspeito de realizar testes para ogivas nucleares..A área de armazenamento de gás faz parte das instalações de Khojir e a explosão terá destruído a fábrica que produz combustível sólido para foguetes, mísseis de cruzeiro, bem como para o míssil balístico Sajil. Pressupõe-se que o complexo de mísseis Khojir, contém áreas de investigação, desenvolvimento e fabrico..As imagens de satélite em código aberto mostram uma grande área de terra queimada, estando os efeitos da explosão espalhados por uma área de quase um quilómetro e ligada em rede de túneis subterrâneos..Em 2012, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) quis que os seus inspetores visitassem Parchin na sequência de informações sobre atividade nuclear no local, mas os iranianos não autorizaram a inspeção antes de 2015, já depois da assinatura do acordo nuclear multilateral e da demolição de edifícios nos quais as atividades suspeitas terão ocorrido..Ainda assim, os inspetores da AIEA detetaram partículas de urânio que só poderiam ter sido produzidas durante explosões de dispositivos nucleares de ensaio a frio..O que aconteceu no dia 26? Segundo uma fonte do jornal Al Jarida, do Koweit, a explosão resultou de um bombardeamento de um caça F-35 israelita. Uma alegação que o executivo de Telavive se negou a comentar..A mesma cautela, ou limitação de danos de imagem, foi usada na sequência de uma explosão seguida de incêndio na principal fábrica de enriquecimento de urânio do Irão, em Natanz. Inicialmente, o regime subestimou a extensão dos danos em Natanz, com o porta-voz da Organização da Energia Atómica do Irão, Behruz Kamalvandi, a afirmar que tinha deflagrado um incêndio num "armazém industrial que estava em construção" e que não tinha resultado em baixas nem sequer em poluição ambiental..Na sexta-feira, um porta-voz do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão afirmou que "as investigações dos organismos relevantes determinaram com precisão a causa do acidente" no complexo nuclear de Natanz, mas "devido a certas preocupações de segurança, a causa e os pormenores" do sucedido "serão anunciados no momento apropriado", citou a agência noticiosa estatal IRNA..Dias depois, o regime afina a mensagem: afinal há "danos significativos". No domingo, o mesmo porta-voz que falava num acidente num armazém em construção reconhece que pode atrasar a produção das centrifugadoras utilizadas para enriquecer urânio. "A médio prazo, este acidente pode atrasar o desenvolvimento e a produção" das centrifugadoras avançadas", reconheceu o porta-voz da Organização da Energia Atómica do Irão, Behrouz Kamalvandi, numa entrevista publicada pela IRNA. "Não houve vítimas, mas os danos são significativos a nível financeiro", reconheceu..Avisos aos inimigos.A IRNA publicou um editorial a advertir os inimigos do Irão contra ações hostis: "Se há sinais de países hostis a atravessarem de alguma forma as linhas vermelhas do Irão, especialmente o regime sionista (Israel) e os Estados Unidos, a estratégia do Irão para enfrentar a nova situação deve ser fundamentalmente reconsiderada", disse a agência..Na segunda-feira, o tom endureceu, não tanto com uma ameaça direta, mas com a revelação da alegada existência de "cidades subterrâneas de mísseis". "O Irão estabeleceu cidades subterrâneas de mísseis em terra e no mar ao longo das costas do Golfo Pérsico e do Golfo de Omã que seriam um pesadelo para os inimigos do Irão", disse o chefe da Marinha dos Guardas da Revolução, almirante Ali Reza Tangsiri. .Faz parte da política de Telavive impedir que Teerão alcance uma bomba atómica, alegando que é objetivo do regime iraniano destruir Israel. O regime teocrático xiita nega querer armas nucleares e afirma que o programa nuclear tem fins pacíficos..Natanz, uma das principais instalações de enriquecimento de urânio do Irão, foi o local visado pelo vírus informático Stuxnet em 2010, numa ação atribuída a israelitas e norte-americanos. Então os danos infligidos às centrifugadoras atrasaram consideravelmente o programa nuclear iraniano..Teerão anunciou em maio do ano passado que iria suspender progressivamente certos compromissos no âmbito de um acordo nuclear de 2015 com as grandes potências, em resposta ao abandono unilateral dos Estados Unidos, em 2018..O Irão reiniciou o enriquecimento de urânio em Natanz em setembro passado, apesar de ter concordado, ao abrigo do acordo, em suspender tais atividades..Chitas da Pátria ou Mossad?.Para lançar mais confusão, antes da notícia do incidente se tornar pública na quinta-feira, o serviço persa da BBC recebeu e-mails de um até agora desconhecido grupo denominado Chitas da Pátria, que reivindicou o ataque a Natanz..A mensagem estava acompanhado com um vídeo no qual alegava que o grupo inclui "soldados pertencentes ao coração das organizações de segurança do regime" que querem impedir o Irão de adquirir uma arma nuclear..À Associated Press, Meir Javedanfar, professor iraniano no Centro Interdisciplinar em Herzliya, Israel, disse que qualquer grupo interno que conseguisse penetrar nas instalações nucleares fortemente vigiadas do Irão dificilmente arriscaria ser capturado divulgando tal vídeo..Deixou no ar quer a hipótese de ser um trabalho da israelita Mossad ou de outra agência de espionagem, "a fim de semear a discórdia", quer de uma operação interna iraniana, "a fim de reprimir", disse Javedanfar..O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita também contribuiu para alimentar a especulação. "Temos uma política a longo prazo de não permitir que o Irão tenha capacidades nucleares", disse Gabi Ashkenazi quando questionado sobre o sucedido em Natanz.."Este regime com essas capacidades é uma ameaça existencial para Israel. Tomamos medidas que é melhor deixar por dizer", disse o ministro israelita..Prova de que o tema é prioritário na agenda de Telavive foi o lançamento do satélite Ofek 16 na segunda-feira. Em nenhuma declaração oficial se explicou qual a missão do satélite de reconhecimento, mas a rádio pública israelita disse que seria utilizada para monitorizar as atividades nucleares do Irão..Inverno cibernético.Estes incidentes devem ser vistos à luz do ciberataque que Israel sofreu em abril. Segundo uma notícia do Financial Times, mais tarde confirmada pelas autoridades israelitas, o regime iraniano levou a cabo uma operação cibernética na qual tentou elevar os níveis de cloro nas águas residenciais, tendo o ataque falhado por pouco..O chefe da Direção Nacional Cibernética israelita, Yigal Unna, disse que aqueles acontecimentos deram início a uma nova era de guerra encoberta, tendo avisado que "o inverno cibernético está a chegar".."Se os maus da fita tivessem tido sucesso na sua trama, estaríamos agora a enfrentar, no meio da crise do coronavírus, danos muito grandes para a população civil e escassez de água ou ainda pior do que isso", acrescentou..Numa reportagem do Canal 13, os políticos israelitas viram o ataque aos sistemas hídricos como uma escalada significativa por parte do Irão e um cruzar de uma linha vermelha porque pela primeira vez visou as infraestruturas civis.."Este é um ataque que vai contra todos os códigos de guerra. Nem dos iranianos esperávamos algo assim", disse um dirigente citado pelo canal televisivo.