Israel controla Shejaiya e diz já ter matado dois mil terroristas desde a trégua

Netanyahu insiste que os combates não vão parar até o Hamas ter sido eliminado, com oficiais a negar estarem a negociar trégua. Conselho de Segurança previa votar resolução.
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As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) anunciaram esta quinta-feira ter assumido o "controlo operacional" total no bairro de Shejaiya, na cidade de Gaza, desmantelando as "capacidades centrais" do Hamas na área. Em 24 horas, as IDF anunciaram a destruição de 230 alvos do grupo terrorista palestiniano, incluindo um complexo de túneis no centro de Gaza que incluía escritórios dos seus líderes. Desde o final da trégua, a 1 de dezembro, Israel diz já ter matado mais de dois mil combatentes.

Entre os mortos estão, segundo o seu porta-voz das IDF em árabe, Aichay Adraee, quatro dos sete comandantes de brigada do Hamas, "As IDF continuam a desmantelas as brigadas do Hamas em Gaza", escreveu no X (antigo Twitter). "Dos sete comandantes seniores, quatro já foram liquidados, deixando apenas três comandantes seniores na linha de comando", acrescentou. Contudo, Israel ainda não conseguiu apanhar aqueles que dizia serem os seus principais alvos, nomeadamente o líder do grupo terrorista em Gaza, Yahya Sinwar, ou o comandante das Brigadas Al-Qassam, Mohammed Deif.

"A escolha que ofereço ao Hamas é muito simples: rendam-se ou morram", disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em mais uma mensagem vídeo publicada no X. "Eles não têm e não vão ter outra escolha", acrescentou. Netanyahu insiste ainda que nem o Hamas nem a Fatah, partido do líder da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, vão governar a Faixa de Gaza após o final das operações militares israelitas, insistindo que os combates não vão parar até o Hamas ter sido "eliminado".

Por seu lado, o porta-voz das Brigadas Al-Qassam, Abu Oeida, indicou num comunicado (citado pela Al-Jazeera) que se Israel quer os seus prisioneiros com vida, "não tem outra escolha a não ser parar a agressão". Tem havido notícias de que um novo acordo para a libertação dos reféns do Hamas, mas Israel nega qualquer negociação. "Neste momento, não temos negociações, mas há uma espécie de progresso no facto de nos termos reunidos duas vezes com os qataris na última semana, e deixámos claro a todos em Israel e fora de Israel que é hora de renovar a configuração de uma nova estrutura [de libertação] de reféns", indicou um responsável à imprensa estrangeira, citado pelo The Times of Israel.

O porta-voz das Brigadas Al-Qassam lembrou ainda que "o inimigo assassinou líderes e combatentes da resistência no passado e que isso só aumenta a determinação" do grupo para se "vingar dos seus crimes". E agradeceu aos combatentes que estão a "distrair o inimigo" no Líbano e Iémen. No Líbano, continuam as trocas de tiros entre as IDF e o Hezbollah junto à fronteira - pelo menos dois civis israelitas ficaram esta quinta-feira feridos -, enquanto no Iémen os rebeldes hutis têm como alvo os navios no Mar Vermelho. O braço armado do Hamas reivindicou ainda o ataque com 35 rockets contra Telavive.

Desde segunda-feira que o Conselho de Segurança das Nações Unidas adiava diariamente a votação de uma resolução que pedia a "suspensão urgente" dos combates na Faixa de Gaza para permitir a entrega segura e sem entraves de ajuda humanitária aos civis do enclave palestiniano. Esta quinta-feira, os EUA, aliados de Israel, continuavam a travar uma votação, por não estarem de acordo com a linguagem do texto, ameaçando usar o direito de veto, mas ainda assim um voto estava previsto para o início da madrugada em Lisboa. Em média, a cada dia que passa, morrem 300 pessoas em Gaza - já são mais de 20 mil mortos - e a ONU avisava que mais de dois milhões estão a passar fome.

Os entraves dos EUA prendiam-se com a criação de um sistema de monitorização das Nações Unidas que substituiria as atuais inspeções dos bens que entram em Gaza. Os EUA insistem que Israel tem que estar envolvido nas inspeções, com Emirados Árabes Unidos e Egito - os primeiros estão por detrás da resolução e os segundos controlam a fronteira de Rafah - a querer que a ONU assuma o controlo para permitir a entrada de mais ajuda.

O porta-voz da missão dos EUA nas Nações Unidas, Nate Evans, dizia esta quinta-feira que Washington tinha "sérias preocupações" com o facto de que a resolução, como estava redigida, "retardaria a entrega de ajuda humanitária com um mecanismo de monitorização impraticável". E insistia que o importante é "garantir que qualquer resolução ajuda e não prejudica a situação no terreno".

Ao longo da semana, a resolução já tinha sido alterada, respondendo aos pedidos dos EUA, pedindo, por exemplo, a "suspensão" das hostilidades em vez da "cessação". O Conselho de Segurança estava esta quinta-feira à noite reunido à porta fechada para ver se ainda seria possível desbloquear a situação, evitando um novo veto norte-americano, com a votação prevista para a madrugada de hoje. Os diplomatas falavam em "progressos" nos parágrafos chave. No dia 8 de dezembro, os EUA usaram o direito de veto para travar o último texto, tendo sido os únicos a votar contra.

susana.f.salvador@dn.pt

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