Israel avisa Síria para não brincar com o fogo após queda de um F16
O alerta é claro: "Os sírios estão a brincar com o fogo quando permitem aos iranianos atacar Israel". E se o porta-voz das Forças Armadas israelita, Jonathan Conricus, garantiu que não querem "uma escalada da situação", a verdade é que a queda de um caça israelita depois de uma ofensiva na Síria contra alvos iranianos marca sem dúvida uma nova fase no envolvimento do Estado hebraico na guerra que desde 2011 abala o país vizinho.
Tudo começou quando um helicóptero Apache intercetou o que as autoridades israelitas garantem ser um drone iraniano que teria violado o seu espaço aéreo. "O Irão é responsável por esta violação muito grave da soberania israelita", afirmou Conricus. A resposta não se fez esperar com a Força Aérea israelita a entrar no território sírio e a destruir o local de lançamento do drone. Nos Montes Golã, capturados à Síria e ocupados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias em 1967 e anexados em 1981, as sirenes soaram. O regime de Damasco reagiu com tiros de antiaéreas e um F16 acabou por regressar a território israelita, despenhando-se em Harduf, perto de Haifa. Os dois pilotos ejetaram-se, tendo sido levados para o hospital, um deles em estado grave.
A resposta foi um "ataque de grandes proporções" contra "12 alvos", explicara as Forças Armadas israelitas, entre os quais o sistema de defesa anti-aérea sírio e quatro alvos iranianos.
Esta não foi a primeira incursão israelita na Síria. O que mudou foi a dimensão e rapidez da operação e a denúncia do envolvimento iraniano. Oficialmente neutro em relação ao conflito sírio, Israel até tem recebido alguns combatentes feridos na guerra, proporcionando-lhes cuidados médicos e devolvendo-os depois ao outro lado da fronteira. Mas desde o início do ano que se sentia um subir da tensão. A 6 de fevereiro, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já alertara: "Estamos preparados para todos os cenários, não aconselho ninguém a testar-nos". Dois dias depois, o International Crisis Group publicava um relatório em que alertava para o risco de uma nova frente no conflito sírio, envolvendo Israel.
Em entrevista ao Le Monde, Ofer Zalzberg, um dos autores do documento, analisou ontem os acontecimentos das últimas horas. Para o especialista, a entrada do drone em espaço aéreo israelita é "um indício claro da recolha de informações pelo Irão para se preparar para um conflito armado". Zalzberg alerta que estamos a assistir um "ciclo de ação-reação em que as várias partes mostram estar dispostas a correr riscos superiores aos que correram no passado recente: o Irão para aumentar as suas capacidades de recolha de informações sobre Israel, Israel para traçar as linhas vermelhas que protegem o seu espaço aéreo e, por fim, a Síria, para proteger o seu espaço aéreo contra ataques israelitas".
A resposta síria, garante o mesmo analista revela que - reforçado pelo apoio russo que lhe permitiu fortes ganhos no terreno nos últimos meses - o presidente Bashar al-Assad se sente confortado para reorientar os seus recursos da luta contra os rebeldes e contra o Estado Islâmico para uma resposta às operações israelitas. Ora há duas coisas que Israel não pode aceitar: "as tentativas do Irão de se instalar militarmente na Síria", onde já desempenha um papel através do Hezbollah, o grupo xiita libanês apoiado por Teerão que tem combatido ao lado das forças de Assad, e as tentativas dos iranianos para "produzir no Líbano os seus mísseis de alta precisão contra Israel", explica Zalzberg. Para o analista só a Rússia pode travar esta escalada entre Israel e Síria.
Para já, as reações diplomáticas à queda do F16 - a primeira aeronave militar que Israel perde em combate desde 2006, quando um helicóptero foi abatido por um rocket do Hezbollah na guerra do Líbano, segundo o Jerusalem Post - e à consequente operação na Síria foram duras. O Irão rejeitou de forma veemente que o drone que iniciou esta sequência de eventos fosse seu. "As alegações a propósito de um drone iraniano são ridículas", garantiu Bahram Ghassemi. Para o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano "para encobrir os seus crimes na região, os dirigentes israelitas recorrem a mentiras contra os outros países". Segundo a agência iraniana Tasnim, citada pelo diário israelita Yediot Ahronoth, Hossein Salami o vice-líder dos Guardas da Revolução, unidade de elite iraniana, garantiu: "O Irão pode destruir todas as bases militares americanas na região e criar um verdadeiro inferno para o Estado sionista". Já o Hezbollah considerou a queda do caça israelita como "o fracasso completo das velhas equações" e o "início de uma nova fase que vai pôr fim à exploração dos céus e da terra na Síria".