Ismaelitas casam bem com Portugal

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Na sua história com mais de mil anos contam-se tanto o califado fatimita do Cairo como a seita dos Assassinos (Amin Maalouf fala dela sem preconceitos em Samarcanda), mas o presente é o de uma comunidade que se destaca como uma das mais progressistas do islão e que através do Aga Khan se mantém unida, vivam os crentes no Paquistão, na Ásia Central ex-soviética, na Síria ou neste Portugal pós-colonial.

Porquê pós-colonial? Porque os sete a oito mil ismaelitas portugueses vieram quase todos de Moçambique, para onde os antepassados tinham imigrado a partir do Gujarate, terra indiana vizinha de Damão e Diu. Com tradição de bons comerciantes e reputada ética do trabalho, muitos abriram lojas em Lisboa e outras cidades, prosperando. As mais comuns são as de móveis, mas também existe a cadeia de pronto a vestir dos irmãos Sacoor.

Ramo do islão xiita, do qual se individualizou por questões teológicas de explicação baseada em acontecimentos de finais do primeiro milénio, o ismaelismo não terá hoje mais de 15 milhões de seguidores a nível mundial. Mas a influência supera em muito o número, graças à Fundação Aga Khan, que é capaz de construir hospitais no Paquistão, recuperar escolas no Afeganistão, refazer o abastecimento de água em aldeias da Síria ou construir e abrir a todos em Lisboa o centro ismaili (é assim que preferem ser chamados), obra de arquitetura que se inspira tanto na Índia como no legado do Al-Andaluz.

Estão decididos também a instalar a sua sede mundial em Portugal. Pois são bem--vindos. Ismaelitas e Portugal afinal são duas histórias de descoberta do mundo que se cruzam há muito, no oriente como no ocidente. De certeza, antes até de o xá da Pérsia dar no início do século XIX o título de Aga Khan ao seu imã e de os britânicos o terem reconhecido como príncipe.

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