Isaltino ataca MP e diz que não é "um monstro"
O presidente da Câmara de Oeiras não poupa adjectivos para classificar as acusações de que é alvo, juntamente com mais quatro arguidos, no processo em que é acusado de sete crimes. Na primeira sessão do julgamento que decorreu ontem em Sintra por motivos logísticos, Isaltino Morais considerou que o Ministério Público baseia-se em "mentiras" e "suposições delirantes".
"Ao ouvir a acusação concluo que o monstro que ali é apresentado não sou eu. É uma personagem totalmente inventada", afirmou. Durante mais de uma hora, Isaltino Morais esclareceu a juíza Paula Albuquerque sobre a maioria das acusações, cumprindo a "vontade de falar".
"Não me identifico com a acusação, que considero totalmente falsa e, por isso, não haverá hipótese de provar qualquer acto ilegal praticado por este presidente de câmara", assegurou. "Sinto-me bem porque é a primeira vez que posso esclarecer as acusações que me são feitas. Demonstrarei que não há crime, e como não há crime não pode haver provas", disse ao DN.
Isaltino Morais, o único arguido a prestar declarações, diz-se "totalmente confiante", apesar de lamentar já ter sido "difamado, julgado e condenado na praça pública". "Era o momento que esperava porque nunca ninguém me quis ouvir. Há quatro anos quiseram ouvir-me sem advogado presente e recusei. Agora, vou a um quinto das minhas declarações que serão esclarecedoras."
A primeira sessão de um julgamento que promete ser longo foi marcada por incidentes processuais e atrasos. E por repetidas referências a montantes na ordem dos milhares e dos milhões, ora em escudos ora em euros, francos suíços e dólares. O MP alega que entre 1993 e 2002, o autarca auferiu 351 mil euros de vencimento (enquanto presidente da Câmara e ministro do Ambiente), mas depositou mais de um milhão e trezentos mil euros em várias contas, sobretudo na Bélgica e na Suíça.
A acusação implica a irmã do autarca Floripes Morais, o jornalista Fernando Trigo e dois empresários, Mateus Marques e João Algarvio, este representado pelo advogado Rogério Alves. A irmã é acusada de "proceder à ocultação dos benefícios financeiros", enquanto o amigo jornalista é suspeito de ter "agido como procurador" na compra de moeda estrangeira e de ter uma "avença na Câmara de Oeiras por serviços nunca prestados", entre outros.
Já os empresários são acusados do envolvimento em episódios como a aquisição de um automóvel ou de dois quadros como contrapartidas por decisões do autarca. Há ainda referências à geminação de Oeiras com o Mindelo, em Cabo Verde, "com intenção de obter vantagens patrimoniais".