Morreu Isabel II, a monarca britânica que mais tempo reinou
Chegou ao trono por causa de uma história de amor, a do tio, Eduardo VIII, que em dezembro de 1936 abdicou do trono em prol de uma relação amorosa com a socialite americana divorciada Wallis Simpson. Com apenas 10 anos, Isabel, filha de Jorge VI, que foi rei entre 1936 e 1952, passava a estar na primeira linha de sucessão. Aos 25 anos, após a morte do pai, tornou-se rainha.
Em novembro de 1947 casa-se com Filipe, duque de Edimburgo. Tinham-se conhecido mais de uma década antes e durante anos a fio trocaram cartas antes de darem o nó. Tiveram quatro filhos: os príncipes Carlos (primeiro na linha de sucessão), Ana, André e Eduardo. O primeiro deu sempre muito que falar por causa da sua alegada relação amorosa com Camila Parker-Bowles, com quem viria a casar-se depois da morte da princesa Diana num acidente em Paris em 1997, aos 36 anos. Diana, que ficou conhecida também como Lady Di ou princesa do povo, é a mãe dos netos mais famosos de Isabel II, William e Harry, tendo o primeiro casado com Kate Middleton e dado a Isabel II três bisnetos, George, Charlotte e Louis, nascidos em 2013, 2015 e 2018, e o segundo casado com a atriz americana Meghan Markle, tendo os duques de Sussex sido pais de Archie em maio de 2019 e de Lilibet Diana em junho de 2021.
Com uma juventude marcada pela Segunda Guerra Mundial (ainda teve de usar senhas de racionamento para conseguir obter os materiais que queria para o seu vestido de noiva), Isabel II, rainha do Reino Unido, líder da Commonwealth e da Igreja Anglicana, testemunhou todos os grandes acontecimentos e fenómenos do século XX e início do século XXI. Da descolonização à Guerra Fria e à guerra das Malvinas, passando pelas Guerras do Golfo até à luta contra o terrorismo depois dos atentados do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
A 25 de outubro de 1965 recebeu no Palácio de Buckingham, em Londres, os Beatles, fenómeno musical e de massas. A monarca, que enviou o seu primeiro e-mail em 1976 a partir de uma base do Exército, assistiu à forma como a internet mudou os hábitos, as pessoas, o mundo. Apaixonada por cães, os de raça corgi ficaram conhecidos como os seus melhores companheiros.
Rainha num país que sempre teve um pé fora e outro dentro da União Europeia, Isabel II era a monarca quando o Reino Unido aderiu à então CEE em 1973 e também quando em 2016 realizou um referendo que deu a vitória ao Brexit, ou seja, à saída dos britânicos da UE. Visitou Portugal em duas ocasiões, a primeira em 1957, a segunda em 1985. Durante as suas mais de seis décadas de reinado a monarca conheceu 15 primeiros-ministros britânicos: de Winston Churchill a Margaret Thatcher, passando por Tony Blair, David Cameron, Boris Johnson e agora Liz Truss. As várias etapas da sua vida e da sua família inspiraram vários filmes e séries de TV, como, por exemplo, A Rainha e O Discurso do Rei no cinema e The Crown no Netflix.
Em 2016 Isabel II faltou, pela primeira vez em 30 anos, à missa de Natal na Igreja de Sandringham, no condado de Norfolk, a 180 quilómetros de Londres, devido a um resfriado. A sua tradicional mensagem de Natal, essa, dedicou-a às pessoas comuns que fazem coisas extraordinárias e, citando a Santa Madre Teresa de Calcutá, sublinhou: "Não podemos todos fazer grandes coisas, mas podemos fazer pequenas coisas com um grande amor."
Nos últimos meses, o estado de saúde da monarca degradou-se, com Isabel II a cancelar vários compromissos devido a problemas de mobilidade. Estas dificuldades pioraram depois da morte do marido, o príncipe Filipe, em abril de 2021, aos 99 anos, um duro golpe para a rainha que tinha no marido do seu "rochedo".
Com a morte de Isabel II abre-se a via da sucessão para Carlos. Apesar disso, sondagens ao longo dos últimos anos mostram que mais de metade dos britânicos gostariam que o sucessor da rainha fosse o neto William e não o filho Carlos.