Em abril, Faezeh Rafsanjani, ativista pelos direitos das mulheres e irmã do antigo presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, anunciou que iria boicotar as eleições presidenciais porque o movimento reformista tinha chegado a "um beco sem saída". Estava ainda longe de saber que o seu sobrinho Mohsen viria a ser barrado de concorrer pelo Conselho de Guardiães, a entidade próxima do guia supremo que aprova ou desaprova as candidaturas. Em declarações à France 24, o filho do presidente entre 1989 e 1997 não aceitou a decisão daquele órgão, mas fez um apelo para os iranianos irem "expressar as suas opiniões para que estas eleições predeterminadas não transformem a república islâmica num governo islâmico"..Mohsen Rafsanjani parece estar em minoria, a avaliar pelas sondagens, que apontam para uma taxa de abstenção recorde, bem como pela vox populi recolhida pelos meios de comunicação. "Eu quero liberdade, quero democracia. Os presidentes iranianos não têm autoridade nem desejo de mudar as nossas vidas... Por que razão deveria eu votar?", questiona a estudante de literatura francesa Shirin, 22 anos, de Teerão, à Reuters. Para Maryam, a abstenção é "uma forma de protesto", a única aliás que não terá consequências imediatas para o eleitor. "Se houvesse um candidato com que me identificasse eu iria votar", disse à AFP..Apresentaram-se 592 candidatos, mas o Conselho de Guardiães reduziu o número para sete, tendo deixado de fora pesos pesados como o ex-presidente do Parlamento Ali Larijani ou o antigo presidente Mahmud Ahmadinejad. Entre os sete, apenas dois candidatos sem peso no campo reformista. "A competição não é muito séria... considerando as ações do Conselho de Guardiães", comentou o ministro do Interior Abdolreza Rahmani Fazli. "Podemos dizer que as razões são a fraca competição e a situação do coronavírus", disse sobre a fraca mobilização nas vésperas das presidenciais.."Não, não e não. Não vou votar. Estou desempregado e sem esperança", disse Jamshid, de 27 anos, da cidade de Ahvaz, no sul, à Reuters. No norte, em Sari, a estudante universitária Saharnaz, de 21 anos, revela que enquanto as suas liberdades continuarem restringidas não irá votar. "Agora que precisam do meu voto para continuarem a sua agenda política prometem levantar a proibição das redes sociais", aponta. No Irão, quem pode contorna o bloqueio às redes sociais através das redes privadas virtuais (VPN). A abstenção deverá ser a arma usada pelos mais novos, mas não só. Nasrollah, que foi mecânico de automóveis durante 47 anos, disse ter sido obrigado a fecha o negócio e a deixar os seus empregados em inatividade. "Não tenho dinheiro. Todas as famílias estão agora a enfrentar um problema económico. Como podemos votar a favor destas pessoas que nos fizeram isto?".O ex-presidente Ahmadinejad, reeleito em 2009 num ato considerado fraudulento pelo derrotado de então, Mir Hossein Mussavi, e por largos milhares de jovens que protagonizaram o movimento verde, foi agora impedido de se candidatar, tal como em 2017. O homem que se destacou pelo radicalismo ameaçara boicotar as eleições caso ficasse de fora, e uma vez confirmado o cenário reiterou que não apoiava qualquer candidatura. Outro ex-presidente, Mohammad Khatami (este da ala reformista), disse que a decisão do Conselho de Guardiães punha em causa a república..Nas eleições parlamentares do ano passado batera-se o recorde de abstenção (57%) e o cenário da fraca participação eleitoral preocupa a elite. De tal forma que o guia supremo, de 82 anos, dirigiu-se à população numa mensagem televisiva para apelar ao voto. "Se o povo não participar nas eleições, os inimigos irão aumentar a pressão sobre nós", disse Khamenei, tendo nomeado os meios de comunicação social norte-americanos e britânicos, os quais acusou "terem como objetivo distanciar as pessoas da república islâmica". Na véspera das eleições, o porta-voz do Conselho de Guardiães afirmou que as eleições são uma "competição séria"..O Irão atravessa uma grave crise económica devido aos efeitos das sanções económicas e da pandemia, mas também pelos gastos militares, oficiais e não oficiais, no apoio a conflitos e movimentos armados no estrangeiro. "O nosso dinheiro é gasto em mísseis e ajuda [milícias estrangeiras] e não em medicamentos de que o nosso povo necessita", lamenta Faezeh Rafsanjani..Ebrahim Raisi.É o candidato mais próximo do guia supremo, Ali Khamenei, e não falta quem o veja como o seu sucessor. O clérigo e atual chefe da magistratura, de 60 anos, é também o administrador de um fundo de caridade de milhares de milhões de dólares. A sua campanha assenta na luta contra a corrupção. Nas eleições de 2017 perdeu para Hassan Rohani, com 37%, ou 16 milhões de votos. Se os níveis de abstenção se confirmarem, poderá ser eleito com um número de votantes semelhante..Abdolnaser Hemmati.O homem que aos 64 anos deixou o cargo de governador do banco central para concorrer ao cargo de presidente é a voz mais moderada e realista. Defende o controlo da inflação e a melhoria do nível de vida dos mais desfavorecidos, e no plano externo encontrar-se como o presidente dos EUA para ajudar a acabar com as sanções e restaurar o acordo nuclear. Mas não parece convencer os reformistas nem a juventude..Mohsen Rezaie.Ex-comandante dos Guardas da Revolução, de 66 anos, à quarta candidatura presidencial defende o fim do acordo nuclear e em subsidiar fortemente os mais necessitados. No passado advogou o rapto de cidadãos norte-americanos para depois se cobrar o resgate. Aparece em segundo lugar nas sondagens, embora com menos de 6% de intenções de voto..Amir Ghazizadeh Hashemi.Apresenta-se como o putativo líder de uma nova geração (tem 50 anos) para levar a revolução islâmica mais longe, em harmonia com as orientações do guia supremo, mas as suas propostas não convenceram mais do que 2,6% das pessoas que vão votar. Otorrinolaringologista e deputado há quatro mandatos, Ghazizadeh Hashemi pertence a uma família de políticos conservadores..cesar.avo@dn.pt
Em abril, Faezeh Rafsanjani, ativista pelos direitos das mulheres e irmã do antigo presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, anunciou que iria boicotar as eleições presidenciais porque o movimento reformista tinha chegado a "um beco sem saída". Estava ainda longe de saber que o seu sobrinho Mohsen viria a ser barrado de concorrer pelo Conselho de Guardiães, a entidade próxima do guia supremo que aprova ou desaprova as candidaturas. Em declarações à France 24, o filho do presidente entre 1989 e 1997 não aceitou a decisão daquele órgão, mas fez um apelo para os iranianos irem "expressar as suas opiniões para que estas eleições predeterminadas não transformem a república islâmica num governo islâmico"..Mohsen Rafsanjani parece estar em minoria, a avaliar pelas sondagens, que apontam para uma taxa de abstenção recorde, bem como pela vox populi recolhida pelos meios de comunicação. "Eu quero liberdade, quero democracia. Os presidentes iranianos não têm autoridade nem desejo de mudar as nossas vidas... Por que razão deveria eu votar?", questiona a estudante de literatura francesa Shirin, 22 anos, de Teerão, à Reuters. Para Maryam, a abstenção é "uma forma de protesto", a única aliás que não terá consequências imediatas para o eleitor. "Se houvesse um candidato com que me identificasse eu iria votar", disse à AFP..Apresentaram-se 592 candidatos, mas o Conselho de Guardiães reduziu o número para sete, tendo deixado de fora pesos pesados como o ex-presidente do Parlamento Ali Larijani ou o antigo presidente Mahmud Ahmadinejad. Entre os sete, apenas dois candidatos sem peso no campo reformista. "A competição não é muito séria... considerando as ações do Conselho de Guardiães", comentou o ministro do Interior Abdolreza Rahmani Fazli. "Podemos dizer que as razões são a fraca competição e a situação do coronavírus", disse sobre a fraca mobilização nas vésperas das presidenciais.."Não, não e não. Não vou votar. Estou desempregado e sem esperança", disse Jamshid, de 27 anos, da cidade de Ahvaz, no sul, à Reuters. No norte, em Sari, a estudante universitária Saharnaz, de 21 anos, revela que enquanto as suas liberdades continuarem restringidas não irá votar. "Agora que precisam do meu voto para continuarem a sua agenda política prometem levantar a proibição das redes sociais", aponta. No Irão, quem pode contorna o bloqueio às redes sociais através das redes privadas virtuais (VPN). A abstenção deverá ser a arma usada pelos mais novos, mas não só. Nasrollah, que foi mecânico de automóveis durante 47 anos, disse ter sido obrigado a fecha o negócio e a deixar os seus empregados em inatividade. "Não tenho dinheiro. Todas as famílias estão agora a enfrentar um problema económico. Como podemos votar a favor destas pessoas que nos fizeram isto?".O ex-presidente Ahmadinejad, reeleito em 2009 num ato considerado fraudulento pelo derrotado de então, Mir Hossein Mussavi, e por largos milhares de jovens que protagonizaram o movimento verde, foi agora impedido de se candidatar, tal como em 2017. O homem que se destacou pelo radicalismo ameaçara boicotar as eleições caso ficasse de fora, e uma vez confirmado o cenário reiterou que não apoiava qualquer candidatura. Outro ex-presidente, Mohammad Khatami (este da ala reformista), disse que a decisão do Conselho de Guardiães punha em causa a república..Nas eleições parlamentares do ano passado batera-se o recorde de abstenção (57%) e o cenário da fraca participação eleitoral preocupa a elite. De tal forma que o guia supremo, de 82 anos, dirigiu-se à população numa mensagem televisiva para apelar ao voto. "Se o povo não participar nas eleições, os inimigos irão aumentar a pressão sobre nós", disse Khamenei, tendo nomeado os meios de comunicação social norte-americanos e britânicos, os quais acusou "terem como objetivo distanciar as pessoas da república islâmica". Na véspera das eleições, o porta-voz do Conselho de Guardiães afirmou que as eleições são uma "competição séria"..O Irão atravessa uma grave crise económica devido aos efeitos das sanções económicas e da pandemia, mas também pelos gastos militares, oficiais e não oficiais, no apoio a conflitos e movimentos armados no estrangeiro. "O nosso dinheiro é gasto em mísseis e ajuda [milícias estrangeiras] e não em medicamentos de que o nosso povo necessita", lamenta Faezeh Rafsanjani..Ebrahim Raisi.É o candidato mais próximo do guia supremo, Ali Khamenei, e não falta quem o veja como o seu sucessor. O clérigo e atual chefe da magistratura, de 60 anos, é também o administrador de um fundo de caridade de milhares de milhões de dólares. A sua campanha assenta na luta contra a corrupção. Nas eleições de 2017 perdeu para Hassan Rohani, com 37%, ou 16 milhões de votos. Se os níveis de abstenção se confirmarem, poderá ser eleito com um número de votantes semelhante..Abdolnaser Hemmati.O homem que aos 64 anos deixou o cargo de governador do banco central para concorrer ao cargo de presidente é a voz mais moderada e realista. Defende o controlo da inflação e a melhoria do nível de vida dos mais desfavorecidos, e no plano externo encontrar-se como o presidente dos EUA para ajudar a acabar com as sanções e restaurar o acordo nuclear. Mas não parece convencer os reformistas nem a juventude..Mohsen Rezaie.Ex-comandante dos Guardas da Revolução, de 66 anos, à quarta candidatura presidencial defende o fim do acordo nuclear e em subsidiar fortemente os mais necessitados. No passado advogou o rapto de cidadãos norte-americanos para depois se cobrar o resgate. Aparece em segundo lugar nas sondagens, embora com menos de 6% de intenções de voto..Amir Ghazizadeh Hashemi.Apresenta-se como o putativo líder de uma nova geração (tem 50 anos) para levar a revolução islâmica mais longe, em harmonia com as orientações do guia supremo, mas as suas propostas não convenceram mais do que 2,6% das pessoas que vão votar. Otorrinolaringologista e deputado há quatro mandatos, Ghazizadeh Hashemi pertence a uma família de políticos conservadores..cesar.avo@dn.pt