Ir ao casino e perder dinheiro
Nem o tilintar das fichas nem o som das slot machines ou o desfile de empregadas semivestidas perturbam o meu exercício de memória. Não me lembro da última vez que fui a um casino, mas não é preciso fazer um grande esforço para recordar o dia em que, com 16 ou 17 anos, entrei pela primeira vez no da Póvoa de Varzim. A cerveja era barata -uns inacreditáveis 50 escudos- e essa era a principal razão da nossa visita. Em plenos anos 90, no auge da parvoíce, os preços convidativos tinham um propósito que não servia o nosso grupo de adolescentes: comer e beber barato, enquanto se gastava muito nas máquinas. Nós jogávamos pouco.
Passaram uns anos, o póquer evoluiu e generalizou-se, os jogos online passaram a fazer concorrência feroz aos casinos, os preços subiram. Também os cinzeiros-balde a transbordar de beatas entre as máquinas desapareceram, e as moedas ruidosas foram substituídas pela fita magnética dos cartões de crédito. É tudo mais higiénico e glamoroso, mas há coisas sobre as quais o tempo não exerce influência: ainda se veem as senhoras de formas generosas a investirem para cima de 500 euros numa noite, ou cavalheiros de camisa aberta até ao umbigo afundados nos ecrãs, entre gestos mecanizados e suspiros de azar.
No último piso do Casino de Lisboa, dezenas de orientais acotovelam-se à volta da roleta e do blackjack. Rodam de mesa em mesa, quando a sorte não lhes corre de feição. Os meandros da superstição até podem entusiasmar uma qualquer taróloga do jet set, mas o esforço pouco ou nada resulta para quem veio aqui gastar uns euros: são três minutos a pousar fichas, dois segundos para recolher. Ganhou a casa, outra vez.
Depois de uma espreitadela ao show erótico em cima do bar giratório - nada prático para quem segue os passos das bailarinas - decido gastar dez euros no póquer. Sentado na máquina ao lado da minha, um homem na casa dos 50 faz três jogadas enquanto eu ainda penso na primeira sequência. "Preto ou vermelho?" Escolho o vermelho, mas - touché - sai preto, e, apesar de toda a lentidão nos cálculos, consigo a proeza de esvaziar o bolso antes do copo de cerveja. Se fosse um habitué nestas andanças, provavelmente diria que a máquina estava a roubar, e saltava para a cadeira do lado. Mas nem vale a pena tentar, isso ia obrigar-me a levantar dinheiro e constatar a pobreza do meu saldo bancário. E, acreditem, não se trata de uma probabilidade.