Ir a banhos com amigas geniais

Uma delícia paradisíaca com humor ao minuto, <em>As Férias Loucas de Barb e Star</em> junta as amigas quarentonas Kristen Wiig e Annie Mumolo na aventura absurda de uma semana num resort ameaçado.
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É bom saber que ainda se fazem filmes assim, sem medo do ridículo e com uma noção afinada desse ridículo. Imagine-se um episódio de Saturday Night Live com material para uma longa-metragem: podia muito bem ser As Férias Loucas de Barb e Star.

O argumento de Kristen Wiig e Annie Mumolo, que antes escreveram juntas A Melhor Despedida de Solteira (2011), de Paul Feig - esse com direito a nomeação para Óscar -, é um território sem quaisquer pretensões, mas com um sentido apuradíssimo de comédia kitsch à moda antiga, combinando elementos narrativos que, nas mãos erradas, o mais certo era darem origem a uma pequena desgraça. Desta feita com realização de Josh Greenbaum, autor do documentário Becoming Bond, sobre a vida curta do James Bond de George Lazenby, não será estranho encontrar-se no filme os elementos primordiais da saga 007... em modo hilariante.

Vamos por partes.

Barb e Star,maravilhosamente interpretadas por Mumolo e Wiig, são as melhores amigas do mundo. Uma viúva, a outra divorciada, trabalham e vivem juntas numa pequena cidade do Nebraska, contentes com a simples possibilidade de passar o resto dos seus dias numa tagarelice ad infinitum, seja em casa, seja sentadas no sofá de estimação da loja onde trabalham, espécie de Conforama lá do sítio. Quando perdem o emprego e a rotina a que se apegaram, cai do céu a ideia de umas férias num resort de Vista Del Mar, na Florida, que, por "coincidência", é o alvo de ataque de uma vilã (também interpretada por Wiig, que parece saída de um videoclip do primeiro álbum de Lady Gaga) com um plano para destruir aquela comunidade, usando mosquitos geneticamente modificados.

É aqui que entra o tópico "Bond" de As Férias Loucas de Barb e Star, já que as duas quarentonas se vão envolver nessa trama de ficção científica ao conhecer o capanga bem-parecido que está hospedado no resort para levar a cabo a missão maléfica, enquanto mantém contacto com a patroa e um agente secreto incompetente... Enfim, só a destreza cómica da dupla Wiig/Mumolo e os tempos certos da realização de Greenbaum, que sabe manter a loucura em andamento - entre um par de números musicais insólitos e detalhes aleatórios, como um caranguejo suicida com uma imitação da voz de Morgan Freeman -, garantem ao filme a sua insanidade colorida e alegria incurável.

O curioso é que, para lá da dimensão piadética, a amizade destas mulheres, e sobretudo a sua forma de estar, contêm algo de uma certa normalidade da classe média americana, uma postura caseira que as atrizes moldam dentro da idiotice ternurenta. Há nelas um verdadeiro compromisso com a leveza e conforto destas personagens a trabalhar a fronteira entre a caricatura e o humano - mesmo que isso pareça só um pormenor dentro da engrenagem absurda do todo.

As Férias Loucas de Barb e Star pode não ser a comédia genial e "adulta" que, de quando em vez, irrompe na paisagem deprimente do que chega às salas de cinema nesse registo, mas é uma comédia genialmente refrescante na sua despachada mistura de géneros. Na dúvida, vale a pena fazer férias com Kristen Wiig, Annie Mumolo e as suas perucas.

dnot@dn.pt

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