Investir em Israel

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As informações sobre os planos do fundo de investimento privado Affinity Partners, administrado por Jared Kushner, genro do ex-presidente norte-americano Donald Trump, é mais uma prova de que as coisas nunca param no Médio Oriente. Foi noticiado que a Arábia Saudita, do seu Fundo Estatal, contribuiu com 2 mil milhões de dólares para o Fundo e que parte desse dinheiro será usado para investir em algumas start-ups israelitas. Para isso, obviamente, não precisavam de cerimónias de acordos de paz, embaixadas ou grandes reuniões com as mais altas autoridades. Foi feito como algo perfeitamente normal e usual, obviamente aprovado pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammad bin Salman.

É certo que os sauditas analisaram cuidadosamente a rentabilidade dos investimentos, mas também tinham outros motivos para aderir. Primeiro, politicamente, eles queriam enviar a mensagem de apoio ao relaxamento das relações entre árabes e Israel, indo o mais longe que pudessem, tendo em mente o seu papel especial no Islão como guardiães dos santuários sagrados. Além disso, eles estariam interessados em mostrar que podem mudar o antigo entendimento no Médio Oriente de que as coisas estão sempre a desenvolver-se nos bastidores com o objetivo de mais ligações entre Israel e os Estados árabes.

Nota-se que os países do Médio Oriente e os seus vizinhos entendem que é hora de encontrar uma maneira de superar o tradicional mal-entendido entre eles e Israel, significando que as novas relações dependem mais deles do que de qualquer entidade externa, incluindo os EUA. Como prova dessa teoria também estão as iniciativas turcas para normalizar as relações com todos ao seu redor, entendendo que somente em ambiente mais seguro se pode contar com benefícios económicos e uma nova onda de investimentos. No final, deve ser a economia a liderá-los mais do que qualquer outro objetivo tradicional. Nesse sentido, Jared Kushner desta vez representa mais Israel do que os EUA, representa-se mais a si próprio e ao sogro do que a qualquer outra entidade. Claro, deve haver outro elemento: algum tipo de dívida que os sauditas têm perante ele desde os tempos em que Trump estava no poder.

Do ponto de vista saudita, qualquer rede de segurança viável criada diretamente pelos países do Médio Oriente mais a Turquia pode ser muito importante para o futuro. Tendo isso em mente, é possível entender que a recente violência no Monte do Templo em Jerusalém entre a polícia israelita e os manifestantes palestinos não se transformou em nada difícil de gerir, sabendo que a ligação egípcia em Gaza com o Hamas produziu resultados positivos para acalmar a situação. É por isso que hoje existem ataques terroristas em Israel, realizados por iniciativa dos próprios perpetradores, não pelas organizações usuais como o Estado Islâmico, o Hamas, a Jihad Islâmica ou o Hezbollah.
Criar esse tipo de atmosfera no Médio Oriente pode ser visto como um sinal positivo para o futuro, mas haverá sempre perdedores e geralmente são palestinos.


Antigo embaixador da Sérvia em Portugal e investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE

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