Investigadores demonstram como se altera o cérebro com esquizofrenia

Um novo olhar para o cérebro das pessoas com esquizofrenia, possibilitando compreender que zonas são mais afetadas em determinadas tarefas e como as alterações são diferentes nos diferentes estados da doença
Publicado a
Atualizado a

Uma equipa de investigadores da Universidade do Minho, liderada por Pedro Morgado, conseguiu demonstrar, pela primeira vez, que existem certas alterações na estrutura do cérebro em pessoas com um estado inicial de esquizofrenia e outras alterações que decorrem com o avanço da doença.

Como se altera o nosso cérebro quando temos esquizofrenia? A meta-análise da equipa de investigação do Instituto de Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), da Escola de Medicina da UMinho, "traz um novo olhar para o cérebro das pessoas com esquizofrenia, possibilitando compreender que zonas são mais afetadas em determinadas tarefas", descreve a instituição, em comunicado.

"Os nossos dados demonstram que depois do diagnóstico, e apesar do tratamento, as alterações cerebrais continuam a progredir ao longo dos anos de doença. Isto torna claro que precisamos de continuar a investir no desenvolvimento de tratamentos que possam impedir o avanço dessas alterações cerebrais. O objetivo futuro será identificar em cada paciente as alterações que estão a ocorrer e implementar tratamentos mais personalizados", refere Maria Picó-Perez, investigadora da Escola de Medicina e uma das autoras do estudo.

"Demonstrámos de forma robusta que existem alterações estruturais no cérebro das pessoas com esquizofrenia que estão presentes desde o início da doença e outras que se vão estruturando com o avanço da mesma. Curiosamente, por razões que ainda não conseguimos explicar, estas alterações têm um padrão de lateralidade, isto é, estão mais presentes na parte esquerda de algumas regiões cerebrais no início da doença e na parte direita em fases mais avançadas da doença", explica Picó-Perez.

Esta demonstração permite perceber que, no futuro, o tratamento deve ser mais personalizado e orientado de acordo com cada paciente.

Segundo a comunicação da Universidade do Minho, este é o primeiro estudo que avalia as mudanças de estrutura e as alterações funcionais durante tarefas neurocognitivas (que avaliam a memória, atenção ou tarefas de manipulação verbal ou espacial) e tarefas sociocognitivas (relacionadas com o processamento emocional, informação social e empatia) em pessoas com esquizofrenia. Os estudos anteriores não testaram, ao contrário deste, se os mesmos sistemas cerebrais, que são estruturalmente diferentes em pessoas com esquizofrenia, também estão envolvidos na realização de tarefas neuro e sociocognitivas.

O estudo - publicado na Psychological Medicine, da Cambridge Core, uma das revistas científicas de referência na área da psiquiatria e psicologia - dá apoio à ideia de que estas alterações específicas do cérebro são decorrentes da existência da doença, em vez de serem uma consequência da duração da mesma ou da própria medicação.

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica caracterizada por episódios de psicose, com sintomas como alucinações, delírios e pensamento desorganizado, e que afeta cerca de 21 milhões de pessoas em todo o mundo.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt