Investigadora destaca papel de Etheline Rosas na arte contemporânea em Portugal

Porto, 07 mai 2019 (Lusa) -- Uma investigadora da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) destacou, em entrevista à Lusa, o contributo de Etheline Rosas para o processo de institucionalização da arte contemporânea em Portugal.
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A professora da FBAUP Sofia Ponte contou que a investigação que fez em torno de Etheline Rosas começou com um artigo que estava a realizar para a revista Contemporâneo sobre a relação entre a Faculdade de Belas Artes e a cidade do Porto.

"Nas minhas investigações, encontrei uma menção, algo como uma brasileira que veio de São Paulo e que colaborava com o Fernando Pernes. Aquilo inquietou-me. Fiquei com curiosidade de perceber quem era esta senhora e pus-me a investigar", disse.

Desde janeiro de 2017 que Sofia Ponte tem vindo a recolher informações sobre Etheline Rosas e, apesar de serem poucos os dados sobre o percurso desta mulher em Portugal, foram os arquivos de Caracas, do Rio de Janeiro e de São Paulo que a ajudaram a delinear a investigação, intitulada "Etheline Rosas no Atlas da Arte Contemporânea".

Segundo a investigadora, Etheline Rosas nasceu em 1924 em São Paulo e foi no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) que começou a gerir algumas exposições e a ter contacto "com várias personalidades ligadas à modernidade progressista brasileira".

A informação que Sofia Ponte recolheu indica ainda que em 1961 foi Etheline Rosas que assegurou a coordenação da participação e exposição do acervo do MAM/SP na 6.ª Bienal Internacional de São Paulo.

Contudo, foi depois se casar, em 1964, com José António Rosas, um empresário português ligado à modernização da produção do vinho do Porto, que Etheline Rosas "começa a dar os primeiros contributos culturais" na cidade do Porto.

De acordo com Sofia Ponte, Etheline Rosas coordenou e programou, entre 1972 e 1974, as atividades da Mini-Galeria do Porto e, em 1975, a montagem da exposição "Levantamento da Arte do Século XX no Porto", mostra que inaugurou o Centro de Arte Contemporânea do Porto (CAC), cuja direção "partilhou" com Fernando Pernes.

Os dados recolhidos pela investigadora indicam ainda que, depois do encerramento do CAC, Etheline Rosas passou a integrar a comissão organizadora do Museu Nacional de Arte Moderna do Porto, que viria a dar origem à atual Fundação de Serralves, tendo desempenhado um "importante papel na descentralização da cultura no país".

"Etheline Rosas manifestou-se contra as várias propostas de localização e apresentou uma declaração de voto onde expõe os desafios museológicos inerentes à criação de um museu público de arte contemporânea", adiantou.

A investigadora lembrou que até à abertura do Museu de Serralves, em 1999, o Parque e a Casa de Serralves estavam em funcionamento, e foi neste espaço que "Etheline Rosas coordenou a primeira equipa de museólogos de Serralves e todas as que se seguiram, até 1992", ano em que se reformou.

Sofia Ponte, que já publicou um artigo sobre Etheline Rosas no "Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa", vai, no dia 18 de maio, apresentar as principais conclusões desta investigação no simpósio internacional "Women's Art Dealers 1940-1990", que decorre na Christie's Education, em Nova Iorque.

"Espero mesmo que este seja um contributo para integrar o papel precursor desta senhora na história da arte contemporânea portuguesa, mas também da história da mundialização da arte contemporânea", concluiu.

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