Invadir o Iraque não era a última opção
Não estavam esgotadas todas as opções pacíficas quando os Estados Unidos, liderados por George W. Bush, e o Reino Unido de Tony Blair decidiram invadir o Iraque em 2003 para pôr termo ao regime de Saddam Hussein.
Esta é uma das principais conclusões do muito esperado Relatório Chilcot, sobre a participação britânica no conflito, encomendado em 2009 pelo então primeiro-ministro Gordon Brown. Depois de sete anos, 10 milhões de libras (11,7 milhões de euros) e 2,6 milhões de palavras o documento foi hoje revelado.
O relatório queria responder essencialmente a duas questões:
1 - Se foi correto e se era necessário invadir o Iraque em 2003
2 - Se o Reino Unido podia - e devia - ter estado mais bem preparado para o que se seguiu
Aqui ficam as principais conclusões partilhadas hoje de manhã por John Chilcot:
- "Concluímos que o Reino Unido escolheu juntar-se à invasão do Iraque antes de todas as opções pacíficas para o desarmamento terem sido esgotadas. Naquele momento, a intervenção militar não era um último recurso"
- Em 2003, não havia uma ameaça iminente de Saddam Hussein. Uma "estratégia de contenção podia ser seguida durante algum tempo".
- "Os julgamentos sobre a gravidade da ameaça colocada pelas armas de destruição maciça foram apresentados com uma certeza que não se justificava"
- Os responsáveis dos serviços de informações britânicos "deviam ter indicado claramente que as informações não determinaram sem margem para dúvidas que o Iraque continuava a produzir armas químicas e biológicas ou que prosseguia esforços para produzir armas nucleares".
- "É hoje claro que a estratégia no Iraque se baseou em informações e estimativas deficientes que não foram questionadas como deviam ter sido".
- Sobre o relatório dos serviços secretos britânicos de setembro de 2002 que afirmava que o Iraque dispunha de armas de destruição maciça que podiam ser acionadas em 45 minutos, o relatório Chilcot diz "não haver provas de que as informações tenham sido inseridas de modo inapropriado no processo ou que [o gabinete do primeiro-ministro] tenha influenciado o texto de maneira inconveniente".
- Oito meses antes da invasão, a 28 de julho de 2002, Blair escreveu ao Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para o assegurar de que estaria com ele "aconteça o que acontecer".
- Em nenhum momento, Blair "insistiu com o Presidente Bush para ter garantias sólidas sobre os planos norte-americanos".
- Nessa fase, Blair envolveu o país numa atividade diplomática tal que teria sido "muito difícil" recuar no apoio aos Estados Unidos.
- "Apesar de muitos avisos, as consequências da invasão foram subestimadas. O planeamento e os preparativos para o Iraque pós-Saddam foram inadequados"
- Na fase pós-invasão, "o governo falhou na avaliação da amplitude dos esforços necessários para estabilizar, administrar e reconstruir o Iraque e as responsabilidades que incumbiam ao Reino Unido".
- "O governo não estava preparado para o papel em que o Reino Unido se viu a partir de abril de 2003. A maior parte do que correu mal a partir daí tem origem nessa falta de preparação".
- Os recursos militares empenhados foram insuficientes e inadaptados. O Ministério da Defesa "mostrou-se lento a responder à ameaça representada pelos engenhos explosivos improvisados e os atrasos registados no fornecimento de veículos de patrulha blindados adequados não deviam ter sido tolerados".
Mais de 150.000 iraquianos morreram entre 2003 e 2009, ano em que o Reino Unido retirou o grosso das duas tropas do Iraque. No mesmo período, 179 soldados britânicos morreram.
Cerca de 120.000 soldados britânicos serviram no Iraque durante o conflito que pôs fim ao regime de Saddam Hussein. As tropas de combate retiraram em julho de 2009 e as últimas forças, de treino e aconselhamento, partiram em maio de 2011.
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