Interstellar

A super produção do ano, chega aos cinemas nacionais. Veja aqui a crítica de João Lopes e Rui Pedro Tendinha.
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JOÃO LOPES (Classificação: 4/5)

Qual o destino do planeta Terra?

Provavelmente, para muitos espectadores, o novo filme de Christopher Nolan chegará marcado por um equívoco. Quanto mais não seja por efeito perverso das aventuras de "super-heróis" que têm dominado (e afunilado) a oferta do mercado, Interstellar corre o risco de ser rotulado como uma vulgar aventura inter-galáctica mais ou menos devedora dos chamados efeitos especiais...

Escusado será dizer que esta saga de uma missão espacial que parte à procura de outros planetas em que a humanidade possa sobreviver resulta de uma complexa produção, aplicando os mais sofisticados recursos de Hollywood. Em todo o caso, não há nela nada de juvenil (pelo menos no sentido gratuito em que a noção de "juventude" tende a ser tratada por algumas formas de espectáculo): estamos perante uma crónica futurista, paradoxalmente marcada pelas ânsias do nosso presente, em que se discute a possibilidade de a humanidade sobreviver à metódica delapidação dos recursos naturais do planeta Terra.

Daí a singular alternância de situações: por um lado, a tripulação que viaja na demanda de novas condições de vida vê-se confrontada com a inquietante beleza de mundos desconhecidos; por outro lado, essa viagem surge toda ela encenada a partir da relação de Cooper (Matthew McConaughey) com a sua filha Murph (personagem sucessivamente interpretada por três actrizes: Mackenzie Foy, Jessica Chastain e Ellen Burstyn).

Assim, Interstellar tem tanto de especulação científica como de melodrama familiar, desembocando na possibilidade de alguma formulação religiosa do nosso destino. O brilhantismo da proposta de Nolan (mais uma vez trabalhando a partir de um argumento escrito em colaboração com o irmão, Jonathan Nolan) envolve, por tudo isso, uma extrema actualidade, questionando a crise espiritual do mundo contemporâneo.

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RUI PEDRO TENDINHA (Classificação 5/5)

Cinema de vertigem

Pegando nas mais intensas regras do thriller e da aventura espacial, Nolan alia o prazer de levar o espetador para uma viagem tão espiritual como física e, ao mesmo tempo, encena um tratado filosófico e científico através de teorias de astrofísica de Kip Thorne. Stanley Kubrick no seu 2001- Odisseia no Espaço tinha feito o mesmo com as teorias de Arthur C. Clarke e daí as comparações com essa obra-prima da ficção verdadeiramente científica não serem descabidas.

Interstellar é, por direito próprio, um novo clássico do género, sendo também um dos "blockbusters" dos últimos anos com um romantismo assumidamente exacerbado. É inédito num filme com ondas gravitacionais, buracos negros e viagens à velocidade da luz a palavra amor surgir tantas vezes. Em IMAX, claro, ganha uma dimensão ainda mais densa e épica - em Portugal só na sala do Colombo, em Lisboa, se poderá ver no formato em que foi concebido.

Será complicado poder aferir se Interstellar é o melhor filme de Nolan, mas é por certo um marco naquilo que podemos esperar de um espetáculo "mainstream" nos nosso dias. Nos antípodas de Transformers ou de todos os produtos de cinema com super-heróis, esta parábola sobre o tempo e as mais subtis dimensões humanas, é também um lembrete de como a vertigem do silêncio e do ruído em cinema pode ser tudo...

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Ficha de filme

Interstellar

Realizador:Christopher Nolan

Intérpretes: Anne Hathaway, Matthew McConaughey, Wes Bentley, Jessica Chastain

Ano: 2014

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