O Hospital de Egas Moniz, em Lisboa, tem de recorrer a médicos internos para conseguir garantir as escalas da urgência interna no mês de agosto. O DN sabe que muitos turnos são feitos por médicos ainda em formação, havendo relatos de profissionais que não se sentem preparados para lidar com casos de risco de vida, cenário que preocupa a Ordem dos Médicos. O Sindicato Independente dos Médicos também vai questionar o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental sobre estas falhas, semelhantes às já denunciadas noutro hospital do CHLO, o São Francisco Xavier.. Ao que o DN apurou, o Egas Moniz prevê ter, em vários dias de agosto, apenas internos indiferenciados para responder a doentes internados que possam descompensar - o hospital não tem urgência externa em todas as especialidades -, médicos em formação de especialidades como endocrinologia ou reumatologia, pouco vocacionadas para casos emergentes. Há mesmo relatos de internos com medo de serem confrontados com situações para as quais não estão preparados. Denúncias que preocupam o responsável pela formação pós-graduada da Ordem dos Médicos. "Essa situação viola as diretrizes da formação médica e põe em causa a segurança dos doentes", sublinha Carlos Cortes, argumento reforçado pelo secretário-geral do SIM. "Isso é ilegal e não contribui para a formação dos internos.". Segundo Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, as escalas dos hospitais do Lisboa Ocidental "recorrem de forma consistente" a internos, situação que já mereceu um pedido de explicações ao conselho de administração. "Agora, perante estas novas denúncias, vamos voltar a confrontar o centro hospitalar", avança o sindicalista. Questionado pelo DN sobre estas denúncias, nomeadamente se há uma escassez de recursos humanos e se estão agendadas contratações, o conselho de administração do CHLO limitou-se a responder que as escalas de urgências dos seus três hospitais (além do Egas Moniz e São Francisco Xavier, inclui Santa Cruz) "são compostas por especialistas e também por internos".. "Incumprimento vergonhoso do regulamento". Carlos Cortes, que além de coordenador do Conselho Nacional da Pós-Graduação também é presidente da secção Sul da Ordem dos Médicos, condena a sobreutilização de internos nas urgências, transversal a todo o país, embora especialmente preocupante na região da Grande Lisboa. Um "incumprimento vergonhoso" do regulamento da Ordem, rotula Carlos Cortes, que garante que é comum a vários hospitais, incluindo os maiores..Hoje mesmo, por exemplo, a Ordem dos Médicos vai visitar a urgência de Santa Maria, assim como irá analisar o funcionamento dos serviços de Imuno-Alergologia, Endocrinologia, Reumatologia, Oncologia Médica, Hematologia Clínica do hospital. E ainda no início do mês, os chefes de equipa da urgência de S. José assinaram uma carta de demissão onde expunham situações em que o serviço ficava à responsabilidade de um interno.."Isto põe em causa a segurança dos doentes e a responsabilidade é inteiramente dos hospitais. Os internos ficam desesperados, escalam médicos em formação de especialidades que não são de emergência", critica Carlos Cortes, que lembra que estes cuidados devem ser prestados por especialistas, coadjuvados por internos. Em relação à falta de preparação dos internos de algumas especialidades para lidar com casos nas urgências, o CHLO argumenta ao DN que "em todas as especialidades há especialistas de urgência nos hospitais".. O regulamento do internato impõe que os médicos em formação específica devem cumprir até 12 horas semanais em serviço de urgência incluídas no seu período normal de trabalho, admitindo-se a possibilidade de fazer mais 12 horas em trabalho suplementar. As regras da Ordem estipulam ainda que "antes do último ano de internato os médicos internos da formação específica não podem ser escalados sem um médico especialista em presença física". A partir dos 55 anos, os médicos podem deixar de fazer urgências, o que já levou a Ordem a alertar para o colapso dos serviços, caso essa recusa se torne generalizada