Instituto Pedro Nunes (IPN) - A incubadora empreendedora

Countdown to Web Summit 2022 com Paulo Santos, Diretor Executivo da IPN-Incubadora.
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Comecei a minha caminhada como diretor executivo da Incubadora de Empresas do IPN a 13 de junho de 2001, ainda não se falava de Capital de Risco, business angels, seed capital. A palavra "start-up" também não fazia parte do léxico nacional. Ainda estávamos longe de falar em "unicórnios" empresariais.

Tinha 26 anos, uma licenciatura em economia e cerca de 3 anos de experiência a trabalhar em consultoria e formação para aumentar a competitividade das PMEs na região Centro. Um irmão 2 anos mais novo, engenheiro informático, e uma amiga engenheira química que conheci num curso para empreendedores na ANJE, eram as únicas referências que tinha do Instituto Pedro Nunes. Ahh, sim, também já tinha visto o João Carreira, o Gonçalo Quadros e o Diamantino Costa sentados encima de um Space Shuttle, numa capa amarela da Ideias & Negócios, revista pioneira na promoção do empreendedorismo em Portugal. A Critical Software estava na fase start-up, a descolar...

Cheguei e imediatamente me apaixonei pelo desafio que me foi colocado: profissionalizar a gestão da Incubadora! Encontrei um espaço ocupado por cerca de 20 empresas, uma rececionista, uma enorme vontade de ajudar da direção do Instituto, mas também uma natural falta de meios, ferramentas e práticas de gestão que pudessem proporcionar um apoio sistemático e diferenciador às empresas alojadas.

O quem mais me impressionou e até hoje me faz ter uma grande paixão pelo meu trabalho, foi a qualidade da "matéria prima" encontrada nesta fábrica de sonhos. O talento, entusiasmo, compromisso, sonho e ambição dos "inquilinos" era e continua a ser deveras contagiante.

E fiquei contagiado! É verdade que já tinha um bichinho e gosto pela atividade empresarial próprios, sendo filho de emigrante-pequeno empresário, fazendo negócios e atendendo clientes desde os meus 12 anos.

Liderados pela visão, ambição e enormes determinação e capacidade de realização da Prof. Teresa Mendes (presidente do IPN durante mais de 2 décadas, até ao início do presente ano), encarámos a incubadora como se de uma empresa se tratasse, especial, de utilidade pública, é certo, mas que era preciso tornar viável e sustentável de per si.

O diagnóstico, desse ponto de vista, não era muito animador: apesar de praticamente cheia, com as tais 20 empresas, a faturação era incipiente e, sobretudo, o prazo médio de recebimentos era longuíssimo. A Incubadora era encarada como um credor de última linha, um bem/serviço público/universitário e, portanto, só se pagava a "renda" depois de todos os demais compromissos e quando se fosse diretamente chamado ou "intimado" a fazê-lo, o qual também não era propriamente muito comum.

Primeira conclusão: só com a oferta de espaço, com muito networking, muito boa vontade e a fazer pontes para colaborações com a Universidade não íamos lá. Era necessário melhorar substancialmente a nossa "proposta de valor": prestar serviços técnicos realmente diferenciadores que tivessem utilidade prática imediata para as empresas, que as ajudassem a viabilizar e concentrar-se no seu negócio e, desta forma, pudessem também ajudar a diversificar a fonte de rendimentos e garantir a sua viabilidade e sustentabilidade futura da Incubadora. Defendia então, e continuo a defender cada vez mais, que a Incubadora deve ser um verdadeiro parceiro estratégico da empresa incubada, numa relação de apoio que vai muito para além da simples relação cliente-fornecedor, mas também não deve assumir uma posição excessivamente paternalista e condescendente, mas antes uma posição de exigência e, até onde for possível, de partilha do risco com o empreendedor.

É aqui que surge a "Incubadora Empreendedora" que gosto de referir. Não havia, claramente (e muito bem!), intenção da direção do IPN de estender a mão a pedir um especial auxílio financeiro para criar todas essas condições ideais de sustentabilidade, nem à Universidade de Coimbra, à Câmara Municipal, ao IAPMEI ou qualquer outro dos cerca de 30 associados do IPN da altura. Uma curiosidade: o IPN é uma associação sem quotização, não se financia com quotas anuais dos seus associados... estranho, não é?

Esta falta de "colchão", de conforto financeiro, impeliu-nos, a fazer pela vida, a sermos criativos e empreendedores, como aqueles que temos a missão de apoiar. No fundo, a dar o exemplo pela própria ação. Como?

Para além dos cursos de formação de curta duração para empreendedores, começámos por implementar um serviço de apoio a realização de candidaturas a sistemas de incentivos para as empresas e a concursos de empreendedorismo que atribuíam prémios e reconhecimentos; depois, serviços de contabilidade "pedagógica" (formamos o empreendedor para compreender os princípios básicos da mesma, e saber "ler" os principais documentos). De seguida, serviços de gestão de projetos co-financiados (muitas dezenas por ano), serviços de apoio ao levantamento de capital junto de uma rede de dezenas de Business Angels e Fundos de Capital de Risco que, entretanto, surgiram no ecossistema nacional. Paralelamente, uma forte aposta em participação em projetos nacionais e europeus de apoio ao empreendedorismo e inovação, participação em redes nacionais e internacionais...

À medida que as nossas incubadas estrela de primeira geração (finais dos anos 90 - início de 2000) se foram desenvolvendo e consolidando de forma extraordinária (Critical Software, Wit Software, Crioestaminal, CWJ...) novas foram surgindo (Take the Wind, Feedzai, Dognaedis, Perceive3d, doDOC, Stratio...) e a IPN Incubadora procurou sempre acompanhar esta veia empreendedora na sua própria atitude e ação diárias.

Depois da atividade de incubação devidamente consolidada, avançámos para a primeira infraestrutura vocacionada para aceleração de empresas em Portugal (a IPN Aceleradora) e logo a seguir para o ambicioso projeto ESA BIC Portugal, em parceria com a Agência Espacial Europeia.

Abraçámos de seguida o desafio do empreendedorismo inovador e tecnológico em meio rural, consubstanciado no projeto "Smart Rural" e no HIESE - Habitat de Inovação Empresarial nos Setores Estratégicos, no município de Penela, recentemente premiado pela Comissão Europeia com a insígnia de "Região Empreendedora Europeia" que ostentará em 2023 (tal como Barcelona!) e juntámo-nos ao Instituto Politécnico de Coimbra no relançamento da sua incubadora, o INOPOL - Academia de Empreendedorismo, para além de múltiplas colaborações com mais de uma dezena de autarquias na Região Centro, CIM Região de Coimbra, etc... na conceção e dinamização de projetos de promoção do empreendedorismo e inovação com impacto em territórios de interior e/ou de baixa densidade.

Hoje, com importante reconhecimento nacional e internacional alcançado (Incubadora consistentemente no top 10 mundial dos rankings de referência internacionais do setor), apenas nas vertentes de Incubação e Aceleração, contamos com uma equipa de cerca de 30 colaboradores que dá todos os dias o seu melhor para servir e apoiar o desenvolvimento de uma verdadeira economia baseada no conhecimento e na inovação no nosso país, num modelo de "negócio" completamente viável e auto-sustentável e que tem sido capaz de alavancar importantíssimos investimentos de expansão física das nossas atividades (5 novos edifícios e quase 15 milhões de euros nos últimos 15 anos).

A esta realidade juntam-se mais de 120 colaboradores em 6 laboratórios de investigação aplicada em diferentes áreas e ainda um departamento de formação, fortemente vocacionados, igualmente, para apoiar e explorar sinergias com as empresas incubadas.

Tem sido um verdadeiro privilégio participar desta viagem e dos impactos alcançados: Mais de 400 startups incubadas/apoiadas (entre as quais 3 unicórnios) com uma taxa de sobrevivência absoluta superior a 65%, um volume de negócios agregado em 2021 superior a 450 milhões de euros, com uma taxa de exportações de 61% e mais de 5200 postos de trabalho altamente qualificados criados.

E a cereja no topo do bolo: em 2021, por cada euro recebido em subsídios de apoio ao investimento em I&D e Inovação, o universo de empresas incubadas e ex-incubadas no IPN devolveu 11 euros em contribuições e impostos (7,3 milhões de euros recebidos em subsídios vs. 81 milhões de euros pagos).

Este é o caminho, venha mais uma edição da Web Summit para mostrar ao mundo o compromisso de Portugal com a inovação, o empreendedorismo e o desenvolvimento de uma sociedade baseada no conhecimento. E venham muitos mais empreendedores entusiastas! O IPN procurará sempre ser um ator nacional de referência neste desígnio e ser igualmente empreendedor na forma de ajudar a fazer a diferença!

NOVA RUBRICA

Countdown to WebSummit 2022 é uma nova rubrica no Diário de Notícias, que antevê algumas das tendências que vão marcar o próximo encontro mundial das startups no final de outubro, em Lisboa. Até à semana do evento, estarão em análise as oportunidades e os desafios dos investidores, os exemplos inspiradores e as novidades que vão marcar a agenda dos empreendedores nacionais e mundiais. O palco passa por aqui, com a reflexão de especialistas numa nova série de artigos de opinião. O artigo hoje publicado tem a assinatura de Paulo Santos, Diretor Executivo da IPN-Incubadora.

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