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Este ano não vou usar o Excel para desenhar a horta. Já não se poderão lamber os carreiros, e é provável que também já não lhe tire tantas fotos.

Apesar disso, ando em planos há meses. Ainda há dias pedi ao Chico para me desbastar a erva à volta das malagueteiras. No início de Abril, puxo da gadanha.

Uma gadanha, aqui, é aquilo a que em Lisboa se chama ancinho. Um género dele. A outro género chamamos garfo e a outro ainda vassoura. Ancinho é só aquele comum, como um pente. Ninguém o usa.

À gadanha de Lisboa, chamamos alfange. A morte, nos Açores, ataca de alfange.

Este ano não haverá rúcula, porque eu não gosto, nem nenhum tipo de couve, que é coisa que cresce bem mas come-se pouco. Talvez haja algum repolho, mas não do roxo, que também só serve para as fotografias.

Haverá feijão verde, nabo e alface, estrelas dos últimos dois anos, e talvez algum milho doce, a ver se os ratos não o atacam. Não haverá nem beringelas nem curgetes, e a batata, a cebola e a cenoura também só fazem sentido num terreno maior.

Alho e alho-porro estão fora de questão. Hei-de arranjar algum alho bravo, para a açorda. E alguns pés de beldroegas.

Talvez repita a beterraba e o pimento, e é natural que ponha umas quantas pevides de abóbora do lado de fora, para crescerem como quiserem. Melancias e melões, não. A ver se o Luciano me arranja açaflor.

Tomate, naturalmente, não faltará. O cereja vai para um canto, ao pé do inhame. O carmen fica em primeiro plano.

Desta vez não farei burrinhas de canas nem estendais de arame. O sr. Dimas deixou aí uma cacetes de faia, retorcidos como mastros de ébano, e vou experimentá-los como suportes - ali, bem no meio, rodeados de porções geométricas de relva, como faróis no nevoeiro.

Acho que vou fazer um desenho no Excel.

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