INSEGURANÇA E FALTA DE CILINDRADA
Há exactamente um ano, na última semana de Agosto de 2007, sustentei e demonstrei que o ministro da Administração Interna não passava de um zero à esquerda. Fi-lo em artigos publicados no Público e no DN, a propósito do caso dos transgénicos e do vergonhoso comportamento das forças da ordem, com o não menos vergonhoso beneplácito acomodatício do dr. Rui Pereira e das enormidades jurídicas que ele então proferiu: cheguei a perguntar se ele teria feito o curso de Direito na Universidade Independente e devo ter sido a primeira pessoa a falar na sua demissão...
Então como agora, o PSD (ao tempo liderado por Marques Mendes) fez sem tardar um protesto indignado.
Então como agora, e também sem tardar, o Presidente da República puxou devidamente as orelhas ao Governo, exprimindo a sua preocupação e exigindo a adopção de procedimentos adequados por parte dos detentores do poder.
Então como agora, José Sócrates fez de conta que não era nada com ele, pôs-se a assobiar para o lado e só falou... em Bruxelas, tarde, a más horas e de raspão...
A questão já é comportamental. O primeiro- -ministro de Portugal é acometido de um pânico invencível ante situações difíceis. Há um ano, afirmei que ele tinha medo de aparecer a dar a cara perante os portugueses (tal como tinha, e continua a ter, medo de visitar a Madeira) numa situação em que o Governo envergonhou o País e o Estado de Direito.
Agora confirmou-se.
Quando se vive sob o signo torpe do crime mais desenfreado e da mais completa insegurança e intranquilidade pública, o primeiro-ministro de Portugal mostrou não ser capaz de exprimir, nem de transmitir aos seus concidadãos, qualquer espécie de segurança própria na abordagem de uma matéria que deixa a sua governação de rastos.
Vai daí, prefere outros expedientes: o último foram umas rusgas gigantescas, só para encher o olho crédulo do parolo e sem resultados especiais nem efeitos significativos, salvo o de mostrar que só se lembrou de pôr trancas na porta depois da casa roubada.
Antes, mandou uns secretários de Estado dizerem umas coisas que se entrechocam; mandou o ministro Rui Pereira debitar na comunicação social umas trapalhadas inócuas, e nem sequer exactas ou bem informadas, tudo muito fraquinho, tudo muito pela rama; mandou o ministro Santos Silva garantir, com ademanes de princesa ofendida, que o PSD critica o Governo sem apresentar alternativas e que a líder do PSD tem estado calada, pelo que não deveria criticar o primeiro-ministro...
É pena que o ministro Santos Silva, nestes seus portentosos ensejos de porta-voz de um silêncio inadmissível, timbre por só abrir a boca para nela entrar mosca ou para dela sair descabelada demagogia: é implícito que as alternativas à falta de segurança correspondem, pelo menos, à execução de medidas que o próprio Governo assumiu como necessárias e urgentes mas não cumpriu como devia.
E se o primeiro-ministro finge esquecer-se das suas obrigações de informar os portugueses, isso não pode ser correlacionado com as tácticas de qualquer outro político da oposição, mas com a cobardia política intrínseca da personagem.
José Pedro Aguiar Branco, vice-presidente do PSD, já teve ocasião de fazer a perfeita desmontagem de toda a situação numa entrevista a Mário Crespo na SIC Notícias, pondo à vista o grau de responsabilidade do primeiro-ministro, as contradições de vários membros do Governo e a inconsequência patética do titular da Administração Interna, que devia ter sido demitido faz agora um ano.
O Governo reagiu com leviandade e má-fé aos protestos do PSD.
Ora o ministro Santos Silva já tem idade para se ocupar de coisas sérias e para se deixar de brincar ao Portugal dos pequeninos. Mesmo que conte com a aliança sub-reptícia mas empenhada de várias criaturas de alma de carica, gente equívoca e sem cilindrada, que anda por aí aos caídos, sofre da síndrome demencial da rã da fábula, mexe em carrinhos de plástico do Toys's R Us, tomando-os por bólides de alta competição e acaba, muito ufana de si, a enfrascar-se de água Castelo, achando que está a brindar com Veuve Clicquot.