Inquérito/CGD: Ex-diretor diz que contas da Fundação Berardo dispensaram aval pessoal do empresário
"Na operação da Fundação Berardo [350 milhões de euros], há uma primeira vez que a operação vai a conselho [de crédito] e em que é feito um despacho no conselho", no qual é discutido que a Caixa pode "eventualmente dispensar o aval do comendador Berardo se as contas da fundação (...) derem o sossego suficiente", afirmou José Pedro Cabral dos Santos na audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD, na Assembleia da República, em Lisboa.
Mais tarde, num segundo conselho de crédito e "depois da análise das contas da fundação, o conselho decidiu prescindir da exigência do aval em função das contas da Fundação Berardo", referiu.
Numa troca de palavras com o deputado do PSD Virgílio Macedo, Cabral dos Santos adiantou que o controlo ao crédito por parte da CGD "era feito" e que o banco, "até julho de 2008, por 11 vezes, reforçou as garantias da operação, para que o rácio se mantivesse ao nível contratualmente definido".
"Em 2008 há uma redução da dívida da fundação de 23 milhões de euros, venda de ativos da fundação, em que houve contactos e, por influência da Caixa, a canalização do produto dessas ações foi para reduzir a dívida", revelou.
O ex-diretor de grandes empresas da CGD acrescentou que a partir de julho de 2008 o banco começou a "sentir (...) que não existiam mais ativos disponíveis para fazer reforço e é por isso que em dezembro de 2008, a Caixa, o BCP e o Banco Espírito Santo fazem um contrato com a Fundação Berardo para que os títulos da associação fossem dados como garantia aos três bancos".
Virgílio Macedo disse então que se tratou de um esforço "insuficiente" e que o "pecado original" foi não ter sido pedido um aval pessoal ao empresário, ao que Cabral dos Santos respondeu que não ia "fazer humor", mas que já tinha sido dito na comissão parlamentar que o património de Joe Berardo "era uma garagem".
"Então, se eu for detentor de uma garagem, posso pedir um empréstimo de 350 milhões?", perguntou ironicamente Virgílio Macedo.
Mais tarde, em resposta à deputada do BE Mariana Mortágua, Cabral dos Santos afirmou que na segunda operação de financiamento ao empresário Joe Berardo, de 38 milhões de euros para aquisição de ações do BCP, houve a argumentação por parte do conselho de crédito de que a subida do valor médio das ações do BCP, de que "uma nova dinâmica" do banco, o "reforço das garantias da coleção Berardo" e a inexistência de "nenhum aval dado pelo comendador a nenhum banco em Portugal" serviriam para conceder o crédito.
Já Cecília Meireles (CDS-PP) expôs um documento da CGD que avaliava a "fortuna pessoal" de Joe Berardo em "527 milhões de euros", valor semelhante ao presente "num artigo da revista Exame de 2006", ao que Cabral dos Santos declarou desconhecer "como é que esse número e essa informação foi feita" no seio do banco público.
Para o ex-diretor da Caixa, "o grande problema" das operações com Berardo "foi a quebra brutal de cotação do título do BCP".