Inquérito conclui que notícia da RTP empolou e adulterou factos

Conclusões do inquérito foram hoje reveladas e, apesar de considerar que as filmagens no Convento de Cristo "foram antecedidas de uma 'avaliação criteriosa', avança com mudanças.
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O inquérito realizado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) aos acontecimentos revelados por uma reportagem da RTP sobre danos provocados no Convento de Cristo, em Tomar, pela equipa de filmagens de O Homem que Matou D. Quixote conclui que "as situações descritas no referido programa [emitido a 2 de junho], 'carecem de rigor e revelam desconhecimento científico', levando ao empolamento e à adulteração de factos".

Apesar de, segundo nota divulgada pela DGPC, o inquérito refutar vários dos factos apresentados na reportagem, a mesma fonte avança que a DGCP iniciou "uma revisão do Regulamento de Utilização de Espaços (...) com o propósito de uniformizar critérios de utilização e reforçar as exigências às empresas que solicitam o aluguer". Para além desta medida, a DGPC prevê "ainda a criação de uma unidade interna permanente nos serviços centrais desta Direção-Geral, que se pronunciará previamente sobre todos os aspetos de segurança relativos às pretensões de utilização dos espaços, tanto a nível patrimonial, como humano".

Segundo a informação enviada à comunicação social, "algumas das conclusões do inquérito, que a DGPC abriu a 5 de junho e concluiu no passado dia 26" referem que "não foi ateada uma fogueira com cerca de 20 metros de alturas e as paredes supostamente enegrecidas pelo fumo são o resultado da presença de agentes biológicos sobre as pedras calcárias que já tinham sido identificados há uma década pelo LNEC".

Segundo o documento, entregue hoje na Assembleia da República, a alegada "fogueira" no Claustro da Hospedaria constituiu um efeito cénico especial, que teve a duração de 4/5 minutos, e foi realizado "a partir de uma estrutura piramidal tubular em aço com 8,04 m de altura e 6,4 m de base". No interior da estrutura metálica foi montado "um sistema do tipo "rampa de gás propano" constituído por 8 níveis de queimadores regularmente espaçados, guarnecidos com válvulas antirretorno de fecho rápido".

Sobre a alegada "fogueira" mencionada no programa Sexta às nove, a nota da DGPC refere que o inquérito concluiu tratar-se "de um efeito cénico levado a cabo por uma empresa especializada, de seu nome "Reyes Abades", referenciada na indústria dos efeitos especiais para cinema e experiente em filmar em monumentos históricos na Europa; No interior do cone foram pintadas labaredas, para simular a ideia de fogueira; Foram instalados "sprinklers" (uma espécie de chuveiros de água) no Claustro da Hospedaria; À medida que o fogo subia para o nível seguinte, o nível anterior era apagado, conforme descrição dos responsáveis dos Bombeiros; Durante o efeito cénico de fogueira estiveram sempre presentes sete cameramen, atores e figurantes, o que indica que as temperaturas no local não eram muito elevadas".

A informação divulgada pela direção geral liderada por Paula Silva refere ainda que "o Inquérito apurou também que estas filmagens envolveram cerca de 150 pessoas, entre atores e equipas técnicas, enquanto a referida reportagem alude a pelo menos 400 figurantes. Por outro lado, a investigação da DGPC confirmou que as filmagens envolveram as seguintes medidas de salvaguarda: Presença diária dos Bombeiros, da Proteção Civil e dos trabalhadores do Convento;
Colocação de uma camada de 10 cm de areia protegida por geotêxtil no local onde se instalou o aparelho pirotécnico; Instalação de sprinklers à volta dos claustros; Presença constante de um autotanque com 17.000 litros de água; Presença de equipamento de combate a incêndios da própria produção do filme, além do equipamento dos Bombeiros, nomeadamente 20 extintores de CO2.

Sobre a denúncia feita na reportagem sobre o corte de árvores, foi concluído que "as quatro árvores referidas no programa não foram queimadas durante as filmagens, mas sim retiradas, como estava programado; tratava-se de "prunos", colocados há cerca de 12 anos durante a rodagem de um outro filme; Estavam em floreiras, com uma altura de mais ou menos 50 centímetros de terra, que não permite a uma árvore desenvolver-se normalmente.

O inquérito refere ainda que "o valor de 2.900 euros apresentado pela empresa de restauro" CaC03, que avaliou os danos após as filmagens, é também uma prova de que os estragos constatados e assumidos pela produtora Ukbar Filmes "não são significativos": quebra de quatro fragmentos pétreos e de seis telhas.

Mudanças no regulamento e uma nova comissão

Apesar de desvalorizar as denúncias apresentadas pela reportagem do Sexta às Nove, e considerando a DGPC que o Inquérito a este caso concreto "atestar que as filmagens foram antecedidas de uma 'avaliação criteriosa', é entendimento da DGPC que a utilização dos Museus, Palácios e Monumentos sob sua tutela pode e deve ser melhorada".

Nesse sentido foi já iniciada uma revisão do Regulamento de Utilização de Espaços "com o propósito de uniformizar critérios de utilização e reforçar as exigências às empresas que solicitam o aluguer". A nota da DGPC adianta também que está precista a criação de uma "unidade interna permanente nos serviços centrais desta Direção-Geral, que se pronunciará previamente sobre todos os aspetos de segurança relativos às pretensões de utilização dos espaços, tanto a nível patrimonial, como humano".

DGPC avança com auditoria às bilheteiras

Em relação à denúncia de alegada corrupção na bilheteiras do Convento de Cristo, a DGPC informa "que a Unidade de Auditoria Interna da DGPC vai realizar uma auditoria à gestão da receita própria dos três monumentos Património da Humanidade localizados na região Centro do País (Convento de Cristo, Mosteiro de Alcobaça e Mosteiro da Batalha), com conclusão prevista para 31 de outubro próximo".

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