"Inovar é um método, não é um objetivo" do NOS Primavera Sound

O DN acompanhou no terreno o trabalho de João Paulo Feliciano, diretor artístico e grande responsável pela imagem do festival.
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Faltam menos de 24 horas para a abertura de portas, mas o corrupio de gente, carros e maquinaria à entrada e dentro do recinto, parece indicar que ainda há muito para fazer. Afinal, este é um festival que se gaba de ser diferente, onde, desde a primeira edição, a organização e desenho do espaço é da responsabilidade de um artista visual. Na obra de João Paulo Feliciano, 53 anos, cruza-se um pouco de tudo: instalação, objetos, pintura, desenho, fotografia, vídeo, luz, som, design gráfico, arquitetura, performance e claro, música - tal como acontece um pouco por todo o lado, no recinto do NOS Primavera Sound, festival que hoje começa, no Porto.

"Está tudo a sair do forno neste momento", diz, em jeito de explicação para a azáfama à sua volta, enquanto aprecia o caleidoscópio, feito de espelhos e ecrãs led, que este ano vai receber ("e surpreender") o público, mesmo no centro do pórtico de entrada. "A ideia inicial era colocar aqui um aquário, mas depois evoluiu para isto", explica João Paulo, salientado que "a experiência visual também tem de ser marcante" para as pessoas. "Não se trazem nomes como o Aphex Twin para depois, em tudo o resto, ser um festival igual aos outros", defende o diretor artístico do Primavera desde a primeira edição, em 2012.

"Trabalho orgânico e contínuo, feito como muito amor, que começou em 2011 e se prolonga de ano para ano. Neste momento já estou a pensar na próxima edição", sustenta João Paulo, enquanto percorre o recinto no carrinho de golfe elétrico, para aqui e acolá, seja "para apagar pequenos fogos" ou para atender os constantes telefonemas. "É um trabalho muito enriquecedor para todos, feito com muito amor e respeito, tanto pelos artistas como pelo público e isso vê-se, por exemplo, no conforto que proporcionamos. Inovar é um método, não é uma finalidade. É antes o resultado de um trabalho consistente, fruto de todas as edições anteriores", salienta, dando como exemplo, a própria evolução do pórtico de entrada, que é hoje uma verdadeira instalação.

Este ano, a principal evolução "passa também pelo corrigir de um aspeto resultante de uma inovação", operada o ano passado, aquando da mudança do palco Pitchfork para a zona de entrada no recinto. "Foi uma solução elegante que criou uma nova centralidade e descongestionou a zona de comidas, mas não estava perfeita, porque a lateral do recinto estava muito desprotegida e não dava ao público a intimidade necessária para usufruir dos concertos", recorda.

A solução surgiu-lhe na cabeça ainda durante a edição de 2016, na última noite de festival, enquanto comia uma fatia de pizza, com parte da sua equipa, mesmo em frente ao local. Depois de ensaiar a solução no seu ateliê, ela foi replicada em tamanho real no novo palco Pitchfork, que apesar de continuar no mesmo local, está agora muito mais resguardado, por uma espécie de jardins suspensos em madeira, entre dois pórticos de entrada. "Tudo isto só é possível devido à grande relação de confiança existente, tanto com o promotor como com o patrocinador, que me dão total liberdade de ação", sublinha.

Até porque "o objetivo não é apenas desenhar estruturas", que funcionam antes como "o veículo estético" para um objetivo muito maior. E esse passa por tornar toda a experiência do festival num "momento mágico, no sentido da alquimia e da transformação, mas também da ilusão". A conversa é entretanto interrompida, como mais um telefonema do senhor Casimiro, o segurança da entrada. Chegaram finalmente os ecrãs do caleidoscópio. Já falta pouco para estar tudo pronto.

Portugueses e hip-hop em destaque no primeiro dia

É em português que hoje será dado o pontapé de saída do festival. A honra cabe a Samuel Úria, um dos mais talentosos cantautores da nova música portuguesa, que no ano passado editou o aclamado Carga de Ombro. Apesar do adiantado da hora - começa logo às 17.00 - tem tudo para ser um dos momentos do dia, tal como o espetáculo a quatro mãos que junta o também português Rodrigo Leão ao australiano Scott Matthew, com início marcado para pouco antes das 19.00 e no qual vão mostrar ao vivo o álbum conjunto Life Is Long, também lançado em 2016.

Entre Úria e a dupla luso-australiana, sobem ao palco os texanos Cigarettes After Sex, para apresentar a dream pop do recém saído disco de estreia homónimo e que em conjunto com os escoceses Arab Strap são a exceção indie num alinhamento mais marcado, neste primeiro dia, por sonoridades mais próximas do hip-hop. Sejam eles os beats jazzy e eletrónicos do californiano Flying Lotus, o R&B contemporâneo do seu conterrâneo Miguel ou o rap de protesto e de intervenção do supergrupo americano Run the Jewels. E para fechar, há ainda, como já começa a ser tradição, a festa eletrónica da dupla francesa Justice.

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