Inocente ou culpada? Amanda Knox confessa-se na Netflix
Uma norte-americana que parte para a Europa em busca de aventura e se apaixona por um italiano. Uma jovem britânica assassinada em circunstâncias misteriosas na pitoresca cidade de Perúgia. Jornalistas vindos de todo o mundo e polícias numa corrida contra o tempo em busca de um assassino. Parecem ingredientes de um thriller mas são elementos de um caso real que, entre 2007 e 2011, fez milhares de manchetes e apaixonou a opinião pública.
Amanda Knox, o novo documentário da Netflix, já disponível na plataforma de streaming, recupera os acontecimentos em torno da morte da britânica Meredith Kercher, com testemunhos inéditos das personagens principais desta história que - muitos acreditam - deixou no ar mais perguntas do que respostas: Amanda Knox e o seu namorado, Raffaele Sollecito, inicialmente condenados pela morte de Kercher e posteriormente ilibados.
As personagens mais intrigantes do documentário não são tanto Amanda nem o seu ex-namorado italiano (que, ao longo destes anos, se desdobraram em entrevistas na imprensa norte-americana e italiana) mas sim dois representantes dos elementos mais determinantes neste apaixonante caso: a comunicação social e a justiça. Nick Pisa, jornalista do tabloide britânico Daily Mail, surge em Amanda Knox personificando a voracidade da imprensa que tratou de forma sensacionalista o caso, enchendo manchetes com referências sexuais e caracterizando Amanda Knox como "devoradora de homens". Ao longo do documentário, Pisa vai explicando como obtia em primeira mão os depoimentos dos suspeitos. "As lojas de fotocópias de Perúgia fizeram uma fortuna naquela altura! [risos]", brinca o jornalista do Daily Mail, acrescentando: "Acho que agora, olhando para trás, algumas das informações divulgadas eram loucas, na verdade, e totalmente inventadas."
Giuliano Mignini, o procurador que formalizou a acusação de Amanda Knox e Rafaele Sollecito, confessa-se um apaixonado por romances policiais. Católico também. "Estamos todos entre o bem e o mal. Está na nossa natureza humana", admite, numa espécie de ato de contrição em relação aos erros que admite ter cometido durante o processo.
Em setembro de 2015, sete anos depois do homicídio de Kercher, o supremo tribunal italiano exonerou Knox e Sollecito dos crimes de que tinham sido acusados. "Falhas clamorosas" na investigação e "crescente atenção mediática" criaram uma "busca intrépida" por culpados, pode ler-se na decisão da mais alta instância judicial italiana. Não havia assim "quaisquer vestígios biológicos" que ligassem o casal ao local do crime. O culpado era, afinal, Rudy Guede, que, até hoje, reafirma a sua inocência.
Ao longo de sete anos, Amanda Knox e Raffaele Sollecito foram condenados e absolvidos por duas vezes. "Parece muito tempo para se obter um veredicto tão estranho", diz Arlene Kercher, a mãe de Meredith, no documentário. "Temos todos medo. E o medo torna as pessoas loucas", reflete Amanda Knox.
Realizado por Rod Blackhurst e Brian McGinn e produzido por Mette Heide, Amanda Knox é o mais recente formato televisivo a abordar aquele que foi um dos mais intrigantes e mediáticos crimes da última década. É também o resultado de um "namoro" dos responsáveis com os vários intervenientes, o produto final de uma abordagem que começou em 2011. Foram "anos de interação, anos para trás e para a frente, cafés em Perúgia com Guliano Mignigni". "Percorremos um longo caminho até chegarmos ao ponto de eles nos concederem as entrevistas", explica Brian McGinn ao jornal USA Today.
O caso do crime de Perúgia já foi também adaptado ao pequeno ecrã, em versão ficção, num telefilme do canal norte-americano Lifetime, realizado em 2011. Amanda Knox: Murder on Trial in Italy foi protagonizado pela atriz Hayden Panettiere.