INGLESES PÕEM AGENTES NA ORDEM
Após um longo período de consultas e negociações de bastidores, a Federação Inglesa de Futebol (FA) aprovou um novo regulamento sobre os agentes de jogadores. Este regulamento entrará em vigor a 1 de Setembro, poucos minutos após o encerramento do presente mercado de Verão (31 de Agosto). Há mais de dois anos que a FA tenta reformular as normas reguladoras da actividade dos agentes. Nesse período, os meios de comunicação social britânicos revelaram vários casos de eventuais irregularidades cometidas por empresários. Em Junho, a investigação sobre transferências de futebolistas conduzida ao longo de 15 meses por lorde Stevens - um antigo chefe da polícia britânica - enumerou 17 negócios suspeitos e vários agentes cuja actividade terá sido menos própria.
Os agentes, naturalmente, não estão contentes com o pacote de alterações e ameaçam recorrer aos tribunais. Para a FA, no entanto, o novo regulamento é um meio indispensável para a "arrumação" de um sector importante da indústria do futebol. "Ouvimos todas as partes interessadas. O texto final é justo, equilibrado e representa um passo significativo na regulação desta área do futebol", explicou ao DN sport Mark Whittle, o diplomático porta-voz da FA. A FIFA está a acompanhar as reformas introduzidas na Inglaterra e poderá adoptar um regulamento semelhante.
As principais alterações incorporadas no novo texto incluem a proibição da dupla representação (o agente só poderá representar uma das partes envolvidas numa transferência) e as restrições impostas a familiares de jogadores, advogados ou agentes estrangeiros não registados na Inglaterra. Um dos pontos mais controversos é a obrigatoriedade do pagamento aos agentes passar a ser feito pelos próprios jogadores - e não pelos clubes envolvidos numa transferência. A FA vai passar a acompanhar mais de perto as transferências, incluindo um controlo prévio da legalidade dos contratos de representação assinados por agentes e jogadores.
De acordo com o texto do regulamento aprovado pela FA, os agentes não poderão "esconder-se" na sombra de empresas ou sociedades e escusar-se, dessa forma, a apresentar informação financeira detalhada. Os agentes não poderão deter directa ou indirectamente qualquer participação nos direitos desportivos (o chamado "passe") de jogadores - ao contrário do que acontece com frequência na América do Sul ou mesmo em Portugal, nomeadamente com o "super-agente" Jorge Mendes, da Gestifute.
O regulamento passou a proibir expressamente a participação dos agentes em transferências que envolvam clubes onde trabalham seus familiares próximos. Nos últimos anos, a imprensa britânica denunciou a participação de agentes como Jason Ferguson (filho do treinador do Manchester United), Darren Dein (filho do antigo vice-presidente do Arsenal) ou Craig Allardyce (filho de Sam Allardyce, ex-treinador do Bolton) em transferências envolvendo estes clubes. A transposição para Portugal desta norma de "prevenção do nepotismo" limitaria a actividade de agentes como José Caldeira - o patrão da Unifoot representa jogadores do FC Porto e esteve envolvido em contratações de jogadores para o clube onde o irmão, Adelino Caldeira, desempenha um cargo de relevo na direcção (vice-presidente) e na SAD (vogal do conselho de administração).