Inflação e as escolhas eleitorais
Enquanto a inflação sobe e atinge máximos dos últimos 30 anos, enquanto os bancos centrais vão paulatinamente subindo as taxas de juro, enquanto se vai anunciando uma nova crise das dívidas soberanas, a discussão política ignora olimpicamente a questão e prefere falar do sexo dos anjos. É mais uma forma de restringir o debate dos temas verdadeiramente importantes e de deles afastar a comunicação social e a população.
No Reino Unido e nos Estados Unidos a inflação já ultrapassou os 5% e na zona Euro está a subir. Nos Estados Unidos existe já um plano de subida gradual das taxas de juro, no Reino Unido está a caminho. A zona Euro seguirá, naturalmente, estes exemplos.
A realidade é que vai ser a inflação, e a consequente subida das taxas de juro, a condicionar, como se esperava (ver meu artigo de 29 de Outubro), a política económica dos anos que nos esperam. Com uma elevada dívida pública, privada e empresarial, Portugal está completamente exposto a qualquer subida, mesmo que ligeira, das taxas de juro que farão aumentar o custo do serviço da dívida pública, as prestações do crédito à habitação e os juros do crédito empresarial.
Em tais circunstâncias muitas empresas não aguentarão o embate, e o orçamento de estado entrará de novo em modo de austeridade para manter o nível do deficit. Os bancos portugueses podem facilmente entrar de novo em dificuldades. O desemprego aumentará e, com ele, os níveis de pobreza e de emigração.
Seria interessante que os partidos políticos, nomeadamente os do bloco central, anunciassem, antes das eleições, o que pretendem fazer neste cenário que é o que se está a desenrolar sob os nossos olhos. Era interessante que os jornalistas os confrontassem com essa temática. Preferem manter o deficit orçamental ou estarão disponíveis para o alargar temporariamente? Se pretendem manter o deficit em que áreas pretendem fazer cortes? Na saúde? Na educação? No investimento público? Nas prestações sociais?
Eis uma resposta que ajudaria as empresas e as famílias a preparar-se para o que aí vem e a não serem, mais uma vez, apanhadas desprevenidas, devido às palavras tranquilizantes dos políticos, pelos vendavais da economia global.
A inflação internacional pode vir a servir de desculpa por mais um insucesso do país. Mas a verdade é que as taxas de juro base do euro são iguais para todos os países da zona Euro, e que o sucesso ou insucesso de Portugal está apenas nas mãos dos nossos governantes. Meter a cabeça na areia, guardar segredo das políticas que se vão aplicar, e não preparar as empresas e as populações para o que aí vem só pode contribuir para mais um desastre.