Inflação cai e desemprego cresce, mas a crise no Brasil de Temer continua firme

O Congresso do Brasil deu, faz sexta-feira um ano, um grande passo para a destituição da ex-Presidente Dilma Rousseff autorizando o afastamento dela e o início de uma transição de Governo que colocou Michel Temer no poder.
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Com a decisão de afastar Dilma Rousseff do cargo durante 180 dias, para o julgamento final do processo de 'impeachment' (destituição), o vice-Presidente Michel Temer assumiu a Presidência da República do Brasil.

Ao assumir o cargo, o novo chefe de Estado brasileiro disse que faria um Governo de "salvação nacional" baseado em reformas económicas e cortes de gastos para retirar o país da mais grave crise de sua história.

Na gestão de Michel Temer a inflação no Brasil caiu para metade, passando dos 9,32% registados nos doze meses anteriores a maio de 2016 para 4,08% no mesmo período até abril deste ano.

Os juros nominais, que têm impacto direto no consumo, baixaram de 14,25% para 11,25%.

No entanto, houve um aumento significativo do desemprego, que passou de 11,2%, em abril de 2016, para 13,7% um ano depois e o Produto Interno Bruto (PIB) do país manteve-se em trajetória negativa. No ano passado, o PIB brasileiro caiu 3,6%.

Especialistas consultados pela Lusa explicam que Michel Temer optou por uma agenda reformista com efeitos de longo prazo e, portanto, apesar da expectativa positiva criada com sua entrada no Governo a economia continuou parada.

Guilherme Mello, economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) explicou que o novo Governo se baseou no diagnóstico de que a gestão anterior se focou num ajuste fiscal, monetário, cambial - promovendo choques de curto prazo - que não deram certo pelo que optou por uma nova estratégia.

"A aposta mudou porque Henrique Meirelles [ministro das Finanças do Governo Temer] acreditou que os problemas do Brasil foram causados pela falta de credibilidade do Governo de Dilma Rousseff, que afastou os investidores. Na visão dele, recuperando a credibilidade haveria investimentos. Para recuperar esta credibilidade seria preciso fazer reformas", considerou.

Desde que subiu ao poder, Michel Temer conseguiu aprovar uma lei que limitou os gastos públicos do Governo do Brasil ao valor da inflação do ano anterior pelos próximos 20 anos.

O chefe de Estado agora defende mudanças no sistema laboral e no regime de pensões que ainda estão em debate no Congresso, que junta as duas câmaras: Senado (câmara alta) e Câmara de Deputados (baixa).

Segundo Nelson Marconi, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o resultado desta nova política económica balizada numa uma agenda reformista ainda é incerto.

"O Governo passado cometeu uma série de erros, mas este Governo [de Michel Temer] continua errando. A troca de poder não mudou o cenário. As coisas estão um pouco melhores agora porque a economia parou de cair, mas estamos no fundo de um poço e não sabemos se haverá um novo poço ou alguma recuperação", avaliou.

O especialista da FGV não se posiciona contra as reformas, principalmente a do sistema de pensões, embora tenha críticas à forma como ela é conduzida.

"A confiança [dos investidores na economia] é importante, mas não acho que ela seja por si só [um elemento] suficiente para recuperar o índice da atividade económica do Brasil. Vamos continuar patinando por um bom tempo", disse.

"O Governo tinha que se concentrar, em primeiro lugar, na negociação na reforma do sistema de pensões. Se ele não conseguir fazer esta reforma ele não poderá solucionar o problema fiscal", completou.

Já Guilherme Mello, da Unicamp, defende que a estratégia reformista, assim como a estratégia de choque de preços adotada por Dilma Rousseff em 2015, fracassou.

Citou, como exemplo, os danos que a lei de limite dos gastos públicos do Governo pode causar no futuro.

"A lei que determinou um teto dos gastos públicos não teve o efeito expansivo que era prometido. Quando o PIB voltar a crescer o tamanho do estado em relação ao PIB vai cair a níveis similares a de países muito liberais ou muito pobres, o que será um grande problema para o Brasil", concluiu.

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