Industriais estão divididos sobre aumentos de preços

De um lado há quem admita que em 2012 haverá aumento dos preços do pão por inevitabilidade, do outro quem diz que os empresários "preferem morrer a atualizar preços", mas unem-se na acusação de 'dumping' à distribuição.
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Para o presidente da Associação do Comércio e da Indústria da Panificação (ACIP), Carlos dos Santos, a resposta é clara: "Neste momento não acredito. Acho que os industriais preferem morrer do que atualizar preços. E vão esmagar tudo, margens e mais margens. Alguns diziam-me, há dias numa reunião, que já não suportam ouvir a lengalenga dos clientes todos os dias a queixarem-se de que não têm dinheiro".

Por seu lado, o presidente da Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares do Norte (AIPAN), António Fontes, acredita que uma alteração ao preço do pão "vai ter que acontecer mais tarde ou mais cedo", não pelo Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), que não mudou na panificação com o Orçamento do Estado para 2012, mas pelos custos indiretos.

"Nos últimos dois dias [quarta e quinta-feira] o trigo subiu 10 euros/tonelada em bolsa, o que quer dizer que os reflexos disto vão bater-nos daqui a um mês", explicou António Fontes, que diz ser precisa "coragem para chegar às populações e dizer que o trigo tem aumentado".

O presidente da AIPAN, que é também vice-presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), lembrou que os empresários do setor têm uma sensibilidade muito grande em relação ao impacto das atualizações de preços no pão, uma vez que têm contacto direto com as populações, ou seja, conhecem "a família do senhor Joaquim, que ontem levava 10 pães e que hoje só leva seis".

Do lado da Associação de Industriais de Panificação de Lisboa, Diamantino Moreira ressalva de imediato não defender o aumento dos preços, uma vez que "ao aumentar não se vende", mas lamenta que talvez seja "inevitável que se aumente o preço ao longo do ano".

António Fontes afirmou não conhecer nenhum empresário na região norte que tenha alterado os preços, já que a preocupação é manter o consumo que já se tem vindo a contrair nos últimos meses, algo que é transversal e claro para todos os contactados pela Lusa.

Outra questão de relevo para o setor é a influência da distribuição, que o presidente da AIPAN diz fazer o mesmo para o pão que faz para o leite, apelando a que haja regulação sobre a relação entre produção e distribuição, à semelhança de várias outras áreas de negócio.

Diamantino Moreira reconhece que o setor do leite conseguiu "fazer qualquer coisa", faltando à panificação poder ou, "se calhar, uma grande confederação".

Na sua página na Internet, a ACIP escreve que "no final da década de 1990, as grandes superfícies entram de rompante", uma altura em que começaram a usar o pão "como forma de marketing, vendendo abaixo do preço de custo".

"Hoje, estas mesmas grandes superfícies têm uma quota de mercado que ronda os 30 por cento, cresceram a dizimar sem escrúpulos o nosso sector tradicional, com a cumplicidade das autoridades portuguesas", acusa a ACIP, lembrando ter feito várias queixas sem sucesso.

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