Indústria exagera efeito da pirataria sobre o cinema

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2007 foi o melhor ano de sempre nas bilheteiras. Hollywood revê em baixa efeito do 'download'

Em 2007, foram vendidos 17,4 mil milhões de euros em bilhetes de cinema em todo o mundo, segundo dados da Motion Picture Association of America (MPAA). Em 2006, esse valor havia ficado pelos 16,6 mil milhões de dólares. Contas feitas, houve um crescimento de 7,2%, o que fez do ano passado o melhor ano de sempre. Números que parecem contraditórios com os dados que vão dando conta do impacto negativo da pirataria online para a indústria cinematográfica. A própria MPAA apontou perdas anuais de 4,5 milhões de dólares à conta dos downloads ilegais. Mas estudos recentes mostram que a associação dos estúdios norte-americanos tem divulgado números pouco credíveis, exagerados, e que têm servido para pressionar as autoridades a agir nesta matéria.

Em 2005, num estudo da consultora LEK para a MPAA, estimava-se que 44% das perdas da indústria cinematográfica nos Estados Unidos se deviam aos downloads realizados por universitários. Um trabalho que serviu à MPAA para forçar as universidades e o próprio Congresso a tomarem medidas. E em 2007, o financiamento às universidades passou mesmo a estar ligado ao esforço por elas empreendido para combaterem a pirataria online.

Agora, revela a revista TV Technology, estima-se que o valor correcto do prejuízo "está perto dos 15%" e "alguns até dizem que esse número está inflacionado e que o valor real é de cerca de 3%". A MPAA assumiu o "erro isolado" no final de Janeiro e afirmou que vai revalidar o estudo.

A Universidade da Califórnia do Sul foi das poucas a refutar os dados depois de analisar o tráfego de dados no ano passado, e verificou que a pirataria não era tão elevada. Porque não foi então feito o mesmo noutras universidades? "As universidades estavam assustadas", afirma Eric Garland, CEO da BigChampagne, empresa que analisa o tráfego de dados peer-to-peer (redes utilizadas para efectuar downloads ilegais). "Elas provavelmente não investigaram por temerem sobre o que podiam encontrar", tanto mais que eram apontadas como os principais centros de pirataria.

Neste cenário, em que a Internet é uma ameaça aos estúdios, ela pode revelar-se igualmente a maior aliada. "Em 2008, vamos avançar em força para o online", revelava recentemente um executivo da Paramount Pictures. "É a maior esperança de novos lucros para o negócio dos filmes." A declaração não é nova e várias parcerias para o download legal de filmes têm fracassado. Mesmo com um modelo fechado para disponibilizar filmes pelo iTunes, a Apple apenas conseguiu obter licenciamento da Disney. Não por acaso, Steve Jobs é CEO da Apple e director da Disney. Uma razão para este atraso deve-se aos lucros que Hollywood ainda consegue com o aluguer e venda de DVD. Os 15,2 mil milhões de dólares obtidos só nos Estados Unidos no ano passado são um valor demasiado confortável para arriscar em novos modelos de negócio.

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