Indústria eléctrica perdeu desde 2003 mais de oito mil postos de trabalho

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Nos últimos três anos desapareceram oito mil postos de trabalho no sector da fabricação de material eléctrico e electrónico, dominado por empresas de componentes para a indústria automóvel.

A deslocalização da produção e os encerramentos, com a consequente redução de emprego, são a realidade com que os trabalhadores se confrontam no seu dia-a-dia . Um levantamento efectuado pela Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas de Portugal (FSTIEP) sobre a situação laboral do sector conclui que "a breve prazo desaparecerão mais seis mil postos de trabalho". A crise decorre dos "novos processos de transferência do trabalho em curso, ou mesmo de abandono", agravados - diz a federação - pela "passividade do Governo".

Para Nélson Baptista, do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas (SIESI), devia existir "um organismo que seguisse o investimento", uma vez que o sector é dominado por multinacionais, "quase todas beneficiárias de apoios e incentivos do Estado português". Para a federação sindical, a Lear, a Vishay, a Philips, a Yazaki Saltano, Alcoa Fujikura e a Delphi são "os casos mais graves de redução dos níveis de emprego".

A Associação de Fabricantes da Indústria Automóvel (AFIA) considera que se está a perder o sector das cablagens. Apesar de considerar um produto com muito pouco valor acrescentado e sem necessidade de mão-de-obra com elevado grau de especialização, o facto é que a produção de cablagens está a sair de Portugal, aumentando o desemprego, sobretudo entre as mulheres.

A Europa do Leste tem sido o destino da produção das fábricas portuguesas. Na semana passada, a Lear, em Valongo, que produz cablagens, anunciou a redução de 300 postos de trabalho, dos actuais 880, e a deslocalização da produção para a Polónia. No final de 2004, tinham saído da unidade 202 trabalhadores. Em Novembro de 2005, a Lear encerrara já a unidade da Póvoa do Lanhoso, e deslocalizou a produção para a Roménia, deixando mais de 700 trabalhadores sem emprego. A unidade de Palmela garantiu a sua permanência no mercado ao vencer o fornecimento de capas para os assentos no novo cabrio Eos da Autoeuropa.

A Alcoa Fujikura é outra empresa que preocupa o SIESI. A empresa corre o risco de desaparecer em 2008, com o fim de produção dos monovolumes da Autoeuropa. O facto da Alcoa trabalhar em exclusivo para a fábrica da VW não tranquiliza os trabalhadores. A antiga Indelma (grupo Siemens) vê o seu futuro comprometido, sobretudo depois de a administração ter deslocalizado para a República Checa a produção das cablagens para o Eos. Ainda em Palmela, a Pioneer corre o risco de fechar -a empresa produz auto-rádios da gama baixa para o mercado de substituição.

A Delphi vive uma crise que se arrasta há vários anos e agravada pelo conflito com a General Motors, nos Estados Unidos. Em Portugal, a Delphi encerrou há três anos a fábrica de Carnaxide e até final do ano fecha a unidade do Linhó. No Seixal, a Delphi emprega mais 250 pessoas.

Na região norte, a Cablinal (Grupo Valeo) e a Fesht "mantêm uma elevada pressão sobre os trabalhadores para rescindirem os contratos". Em Dezembro, a Fesht anunciou o despedimento colectivo de 43 trabalhadores. Existe a convicção de que a Vishay, multinacional norte- -americana que já apresentou um volume de emprego de cerca de dois mil postos de trabalho, abandone a curto prazo o mercado português.

Em Évora, as antigas empresas da Siemens - Tyco e Epcos - vivem dias difíceis. A Epcos, do consórcio Siemens/Matsushita, está a negociar a sua venda à Kenet, o maior fabricante de condensadores do mundo.

A instabilidade também afecta as empresas de capital nacional - a STE, Sislectron, Montice e Tape, que operam em regime de subcontratação para as multinacionais, estão a registar taxas de ocupação baixas. O sindicato denuncia a existência de "salários em atraso no sector" e a possibilidade de cessação da actividade.

O trabalho temporário também tem vindo a aumentar. Em conjunto, a Lear, Grundig, Blaupunkt, Actaris, Kromberg e Valeo empregam mais de mil trabalhadores contratados a termo e temporários. C

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