Indústria corta 3 euros no preço da madeira
A Caima anunciou a descida do preço da madeira paga à porta da fábrica, rompendo assim o "acordo de cavalheiros" informal que vigorava entre a indústria do papel e os produtores florestais desde 1996. "A Caima - Indústria de Celulose informa que, a partir de 1 de Novembro, o preço da madeira à porta da fábrica será de 32,50 euros por metro cúbico para o eucalipto com casca; e de 42 euros por m3 para o eucalipto sem casca, de acordo com o faxenviado pela empresa à Federação dos Produtores Florestais de Portugal (FPFP). Este novo preço representa uma baixa de três euros em relação ao que se praticava desde 1996, sendo que a manutenção desse valor nominal levou, em virtude da inflação, a uma degradação real de 34,2% nestes nove anos.
"Com esta baixa de preço produzir floresta torna-se impossível", declarou ao DN o secretário-geral da FPFP, Ricardo Machado. "É catastrófico para o sector e para o País as pessoas não se podem esquecer de que, com os preços ainda mais esmagados, irá haver menos investimento, mais abandono e, consequentemente, mais incêndios nos próximos Verões." A Federação dos Produtores promete lutar por todas as formas contra este abaixamento "insustentável" do preço pago pela madeira. "Nós até percebemos que, com a baixa do preço da pasta do papel nos mercados internacionais, haja necessidade de ajustar o preço da matéria- prima", concede Ricardo Machado. "Mas então não percebemos porque é que, quando o metro cúbico de pasta estava a 700 euros em 2000 [agora está a 400 euros], o preço pago pela madeira não aumentou".
Como o DN noticiou em Setembro, o congelamento do preço do pinheiro e do eucalipto em 50 e 45 euros desde 96 gerou suspeitas na Autoridade da Concorrência, presidida por Abel Mateus, tendo esta decidido averiguar se havia um preço concertado e, nesse caso, se prejudicava a concorrência no sector. Encomendou um estudo à Agroges (empresa de estudos e projectos do ex-ministro da Agricultura Sevinate Pinto, e de Francisco Avillez, catedrático do Instituto Superior de Agronomia) e é com base nele que, neste momento, está a preparar uma decisão. Segundo o DN apurou, Abel Mateus deverá torná-la pública nas próximas semanas.
O "acordo de cavalheiros" realizado entre os produtores florestais e a indústria em 96 - que representou de início uma subida real dos rendimentos dos produtores - teve como objectivo fomentar o investimento na floresta. Sucedeu, contudo, que a entrada no mercado de árvores do Extremo Oriente e da América Latina começou a fazer descer os preços. "A madeira portuguesa para fins industriais é a mais cara da Europa", lembram quadros da indústria. As empresas de celulose queixam-se de estar a suportar integralmente a deterioração do mercado internacional e alegam que, "se não houver uma política que ajude o sector da floresta no plano da produtividade e do transporte a indústria do papel perde, a médio prazo, condições para continuar em Portugal".