Indecisos viraram o jogo e o PS viu um cartão laranja
A abstenção foi de mais de 46%. Já a sondagem DN/TSF e JN apontava para 40% de indecisos e foram esses e alterar todas as previsões e estimativas. Na hora de colocar a cruz no boletim de voto, muitos portugueses pediram mudança em algumas autarquias. Uma lição democrática sai deste ato eleitoral, provando que quando o povo quer o povo fala e decide, independentemente das convicções de cada sondagem, candidato ou partido.
Apesar de oPS ser líder em número total de câmaras conquistadas, de norte a sul os portugueses ficaram com a perceção de que quem ganhou estas eleições foi o PSD. E essa perceção existe em grande parte graças à vitória de Carlos Moedas. O social-democrata não ganhou apenas a capital, mas deu novo alento à direita e também a Rui Rio, um líder, aparentemente, com os dias contados e que agora ganha um novo fôlego . Vale a pena recordar a entrevista de Moedas ao DN e à TSF, quando em julho disse: "Não sou número dois de ninguém. Medina sim." À pergunta "não está sequer preocupado em estar em sintonia com Rui Rio?", respondeu: "Não, não tenho de estar, eu não sou o número dois de ninguém. Acho que Fernando Medina, sim, está muito mais preocupado em estar em sintonia com o primeiro-ministro porque ele é o número dois do primeiro-ministro. E vimos isso na apresentação que Fernando Medina fez, que fê-la exatamente com António Costa. Costa a falar sobre Lisboa, Medina a falar sobre o país." Não ser o segundo de outrem pode querer também, nas entrelinhas, denunciar uma vontade, ainda a germinar, de correr à liderança do próprio partido social-democrata.
Moedas não vai ter a vida facilitada em Lisboa. Com uma assembleia municipal à esquerda, vai precisar de muito jogo de cintura e paciência para fazer pontes.
A autarquia alfacinha era do PS há 14 anos. Depois da noite de domingo, o PS fica fragilizado, apesar de liderar no mapa nacional. Uma lição para Costa? Muito provavelmente é um cartão amarelo ou laranja mostrado ao governo e pode ter que ver com a gestão da pandemia - nem sempre controlada -, mas também com o aproveitamento da bandeira do PRR em campanha autárquica ou, no caso de Lisboa, com o escândalo de Arroios e ainda do envio de dados pessoais de ativistas russos para a Rússia pela câmara municipal.
João Ferreira teve um grande resultado em Lisboa, contrariando a tendência da CDU em todo o país, resultado que volta a abrir o tema da sucessão no Partido Comunista. Por muito que Jerónimo de Sousa fuja ao tema e o comité central continue a ser fortemente influenciado pelos dinossauros ainda marcados pelo 25 de Abril, ou o partido se renova rapidamente ou a erosão vai continuar até à sua insignificância. O desgaste do PCP há muito que deixou de ser um palpite, nestas eleições os números voltaram a falar por si. 2021 arrisca-se a ser o ano de repensar todas as lideranças dos grandes partidos.