Incêndio acabou de vez com o Lido da Amadora

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Sinistro. O antigo cinema, no centro comercial que conheceu o sucesso nos anos 80, ficou reduzido a ferros retorcidos. O imóvel não era utilizado há vários anos. O actual proprietário diz que a câmara tem lá um projecto para o local. O município diz que não recebeu nada. O fogo está a ser investigado pela PJ

Tecto cedeu quando bombeiros entraram

Os primeiros quatro bombeiros, que acudiram ao incêndio deflagrado no antigo centro comercial Lido, na Amadora, na noite de segunda-feira, só por segundos não foram atingidos pelo colapso do tecto do edifício, que há vários anos não era utilizado.

"Foi um milagre", afirmou o segundo comandante dos Bombeiros Voluntários da Amadora. Os quatro homens foram os primeiros a responder à chamada de urgência, pouco antes das 23.00. E no exacto momento em que subiam as escadas de acesso ao primeiro balcão do antigo cineteatro, local onde terá começado o fogo, o tecto da antiga sala de espectáculos ruiu, vergado por temperaturas que "ultrapassaram os 1300 graus". Além do edifício do antigo centro comercial, o fogo destruiu um restaurante nas traseiras e causou avultados danos num bar contíguo. Na manhã de ontem, uma equipa do laboratório da Polícia Judiciária esteve no local, para recolher indícios sobre a origem do fogo.

Desolado, Raul Fernandes, gerente do restaurante Chimarão, afirmou ao DN que foi no seu estabelecimento que foi dado o alerta. "O fumo começou a entrar por debaixo das portas", disse. Os prejuízos ali "são incalculáveis". Mais sorte teve Sérgio Monteiro, dono do bar Abacu's, estabelecimento que apesar de ter sido danificado pelo fogo e pela água será de recuperação mais rápida. "Temos ali uns milhares de euros de prejuízos, mas ainda não conseguimos fazer contas", explicou.

O Lido, um centro comercial de primeira geração que conheceu o apogeu comercial na década de 80, estava actualmente sem qualquer utilização, sendo frequente a vandalização do espaço por toxicodependentes, de acordo com populares. "Agora são eles que pagam", assinalou uma testemunha, confirmando que muitos pernoitavam ali dentro.

O imóvel foi adquirido em 1996 pela empresa Brique, Investimentos Imobiliários, que o adquiriu aos herdeiros de José Sousa, o proprietário original. Luís Nogueira, sócio gerente da empresa, afirmou ao DN que "há pelo menos três anos está pendente de decisão na Câmara da Amadora um projecto de reconversão urbanística para o edifício", visando a demolição do original e construção de um novo, de uso misto, para habitação, escritórios e lojas. "Cheguei a negociar contrapartidas com a câmara para a construção de arruamentos e recuperação de um edifício ao lado, mas até hoje nada", desabou o gerente da Brique, acrescentado que o fogo em nada o beneficia pois "como não tenho projecto aprovado, ainda terei pagar o a demolição".

Ontem ao fim da tarde, em comunicado, o município da Amadora esclarecia que "oficialmente, até hoje [ontem], não entrou na câmara nenhum pedido de licenciamento, nem sequer nenhum projecto de reconversão". A autarquia, presidida por Joaquim Raposo, esclareceu que foram aprovados "os termos de referência do plano de pormenor que inclui várias condicionantes do ponto de vista urbanístico, viário e hídrico".

Após vistoria ao local, a comissão municipal de protecção civil entendeu que "a estrutura, as paredes e a envolvente exterior não apresentam danos visíveis significativos que possam (...) constituir perigo para pessoas e bens na via pública." Ainda assim, a comissão determinou a necessidade de se proceder com urgência à limpeza e remoção dos materiais estruturais ou de revestimento soltos ou parcialmente soltos, em particular os da cobertura.

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