Há uma rede social que quer tornar os seus utilizadores imortais no meio digital. Chama-se ETER9 e, segundo o seu criador, Henrique Jorge, é um projeto que não se limita a pensar fora da caixa. "Está fora do seu tempo." Há quem, no entanto, não se contente com viagens no tempo. Alguns querem controlá-lo. É o caso de João Pedro Magalhães, líder do grupo de investigação Integrative Genomics of Ageing Group, da Universidade de Liverpool, que estuda formas de controlar o envelhecimento..Os dois portugueses fazem parte do grupo de 12 oradores que amanhã se reúnem no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro para a 9.ª edição do TEDx Aveiro. Sob o mote "Viagem no Tempo", o evento conta com intervenientes de áreas como ciência, arte urbana e comunicação.."Os eventos TEDx são multitemáticos e, por isso, temos o cuidado de escolher oradores que partilhem as suas ideias e projetos em diferentes áreas do conhecimento científico, abordando temas interessantes para a comunidade no momento atual", explicou ao DN André Costa, licensee e co-organizador do TEDx Aveiro..Destaca, por exemplo, a presença de Francisco Gaspar, que "falará sobre cibersegurança ou insegurança, um tema cada vez mais atual". Ou de João Lousada, graduado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico em Lisboa, que trabalha atualmente no centro de controlo Columbus em Munique, onde opera todos os subsistemas do módulo europeu da Estação Espacial Internacional. "Falará da viagem a caminho de Marte e de como estuda o planeta a partir da Terra", por exemplo..Pelo palco passam ainda nomes como Carlos Fiolhais, professor catedrático de Física e fundador e diretor do Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra, Ruzbeh Bacha, CEO e fundador da startup CityFALCON, sediada em Londres, que quer democratizar o acesso a notícias financeiras, e Catarina Carvalho, diretora executiva do DN..Depois de Lisboa e Porto, o TEDx Aveiro é o terceiro maior a nível nacional, reunindo, anualmente, cerca de 700 participantes. Neste ano, o evento durará seis horas e, além dos oradores, contará com três performances artísticas..Publicar nas redes sociais após a morte? Sim, é possível "Imagine, daqui a uns anos, tetranetos de alguém poderem ter memórias dessa pessoa muito mais reais (ainda que de uma forma virtual) do que as que conseguimos ter atualmente." É este o desejo de Henrique Jorge, criador da ETER9, uma rede social que ainda está na fase beta, mas que conta já com mais de 60 mil utilizadores, entre os quais quatro mil portugueses..Trata-se de uma "rede social global, que transforma a nossa personalidade numa inteligência artificial imortal". Ou seja, cada conteúdo partilhado ou interação que é feita "vai servir como alimento para a nossa contraparte". Esta "é uma espécie de sósia virtual que absorve toda a informação que partilharmos e todas as interações que fizermos". Quanto mais conteúdos forem publicados, mais conhecerá a personalidade do utilizador. "Para que mais tarde possam ser usadas sem que tenhamos de fazer nada.".Henrique dá um exemplo concreto: "Se eu gostar de Coldplay, a minha contraparte vai ao YouTube e escolhe alguns vídeos dos Coldplay e publica no meu córtex (o córtex é o semelhante ao mural do Facebook)". Ou seja, a contraparte "vai manter-se ativa (viva) para partilhar uma notícia que sabe que partilharíamos, escrever um comentário que poderia muito bem ter saído da nossa boca e viver virtualmente mesmo que não estejamos ligados"..E que vantagens existem nessa imortalidade digital? "Eu não diria que há "vantagens", mas antes sentimentos interessantes pela possibilidade de vir a interagir com uma entidade virtual que aprendeu com antepassados, por exemplo.".Cientista estuda formas de controlar o tempo de vida Mudando um só gene é possível aumentar a longevidade de uma minhoca cerca de dez vezes. Mas será possível fazê-lo nos humanos? João Pedro de Magalhães, que lidera o grupo de investigação Integrative Genomics of Ageing Group, da Universidade de Liverpool, quer responder a esta pergunta..Há cerca de 15 anos que o português estuda os processos de envelhecimento e longevidade, a nível genético, e como estes podem ser manipulados para o combate de doenças associadas à idade. No TEDx Aveiro, falará sobre como "controlar o tempo de vida". "Já podemos fazê-lo em animais e um dia vamos poder controlar nas pessoas o quanto vivemos e a qualidade de vida que vamos ter", explica ao DN, numa conversa telefónica a partir de Inglaterra. O foco, prossegue o investigador, passa por abrandar o envelhecimento, "adiando o processo de degeneração e o aparecimento de doença", o que conduz, naturalmente, a um aumento da longevidade. "Isto teria consequências enormes a nível social, económico e médico.".Nos animais, explica, além da manipulação genética, também "se consegue aumentar a longevidade com fármacos e nutrição". No entanto, ressalva, é complicado fazer estudos clínicos em humanos nesta área..No campo da nutrição, sabe-se que "em termos de impacto no envelhecimento, a restrição calórica é a dieta mais interessante". Nos mamíferos, aumenta muito a longevidade, mas não é fácil do ponto de vista psicológico. Por isso, os investigadores procuram fármacos que tenham o mesmo efeito.