Imaginarius de 2019 inclui três propostas sobre a "ambígua" Linha Férrea do Vouga

Santa Maria da Feira, Aveiro, 20 mai 2019 (Lusa) - O festival de artes de rua Imaginarius, que arranca na quinta-feira em Santa Maria da Feira, inclui este ano um espetáculo, uma instalação sonora e uma exposição fotográfica sobre a "arcaica, ambígua e indefinida" Linha Férrea do Vouga.
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A descrição é de Francisco Oliveira, que, no âmbito de uma residência artística no Imaginarius Centro de Criação, estudou durante cerca de sete meses o percurso do chamado "Vouguinha" e aí recolheu sons, objetos e imagens que agora dá a conhecer ao público em duas vertentes complementares.

Uma é a exposição fotográfica "II? Duas Linhas e Três Pontos", que, inspirada por testemunhos recolhidos no âmbito do projeto "140 Mil Memórias", já está patente no Museu Convento dos Loios e até 06 de junho pretende funcionar como "um memorial de experiências" dos utilizadores da Linha do Vouga, cruzando imagens analógicas, digitais e instantâneas com objetos recolhidos ao longo do percurso e peças escultóricas por ele motivadas.

A outra componente do projeto revela-se no terreiro do Orfeão da Feira em três sessões durante o festival e envolve uma instalação que, adotando o mesmo nome da mostra fotográfica, obedece a um "2.º Andamento". Recorre a sons reais ou sintetizados desse percurso ferroviário para explorar "a experiência de viver com algo que se situa entre a presença e o esquecimento, entre o uso e o abandono, entre o que é visível à passagem e aquilo que está nas sombras, entre aquilo que gera carinho nas pessoas e aquilo que lhes motiva desprezo".

Francisco Oliveira assume que tem boas memórias da Linha do Vouga, guardando ainda as sensações da viagem de comboio até à praia de Espinho, mas, para controlar as suas próprias expectativas, prefere não comentar os projetos de reabilitação anunciados para essa via.

"Estou à espera da transformação. Expectante. Mas quero que seja respeitosa, sobretudo para com as pessoas que trabalham na linha e em condições que ainda me chocam, como dormir num contentor para poder levantar a cancela à manivela e usar sistemas duvidosos de bandeiras e lanternas para comunicar com os maquinistas", explica.

É a pensar nessa anunciada reabilitação, aliás, que o artista anuncia: "Prolonguei a duração deste projeto para continuar a fotografar e a fazer recolhas durante a requalificação da linha, que é sempre diferente a cada dia. Nunca se repetem os mesmos objetos, nunca lá há uma segunda passagem igual à primeira".

Perspetiva diferente da paisagem do "Vouguinha" será a apresentada por Daniel Padrão no espetáculo "Viagem de Memórias", que, também em estreia absoluta e resultando de uma encomenda do Imaginarius, instalará os espectadores dentro de um autocarro - "mais viável" do que o comboio em termos cénicos - e trilhará com eles "um percurso sonoro por terras de Santa Maria".

Com seis exibições na sexta-feira e outras tantas no sábado, sempre no Rossio, a performance de Daniel Padrão e Bárbara Santos irá recorrer a teatro, 'storytelling', música e vídeo para ativar histórias sobre antigas viagens de comboio até Espinho e dar a conhecer outras referências de lazer e cultura do território, como o Castelo da Feira, o Zoo de Lourosa e o Museu do Papel.

"A Linha do Vouga é parte desse património e, volta e meia, fica esquecida, mas há histórias que mostram como as pessoas já a consideraram importante e isso também significa que, se algum dia voltar a ter condições adequadas, ainda poderá ser novamente muito útil", defende Daniel Padrão.

Para que a interpretação desse património possa ser mais inclusiva, no primeiro dia de Imaginarius o espetáculo só estará disponível para 23 alunos da Escola EB 1 e jardim-de-infância do Cavaco, oito dos quais surdos. Terá acompanhamento por um intérprete de Língua Gestual Portuguesa, "para que as crianças com limitações auditivas também possam ter esta experiência no festival e conhecer o seu património".

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