Imagem de Bruno Neves intacta entre amigos de infância

<p>Dois amigos de infância e companheiros de pedaladas de Bruno Neves consideram que o ciclista, que morreu em 11 de Maio em Amarante, não deve ser associado às suspeitas de doping que recaiem sobre a equipa LA-MSS.</p>
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Hélder e Marco Rebelo vivem paredes meias com a família de Bruno Neves, em Nogueira do Cravo, Oliveira de Azeméis, e ambos praticaram ciclismo no clube local dinamizado pelo pai, Ótão Rebelo, que "foi quem deu as primeiras dicas e ensinou as manhas tácticas ao Bruno".

"O Bruno Neves é um ídolo. Ganhou desde novo e não era nenhum fraco que de repente começou a ter vitórias", comenta Hélder Rebelo, enquanto o irmão Marco salienta que "fez muito como desportista e não deve ser associado ao que se está a passar com o clube a que pertencia".

Em declarações à Agência Lusa, recordam que "o Bruno ganhou logo a primeira corrida que fez, em 1991, em Viana do Castelo", e que desde então coleccionou troféus.

Correram juntos pelo clube local, cuja actividade parou por falta de apoios. Treinavam a dar voltas ao quarteirão onde vivem, subindo e descendo as estreitas ruas que contornam o Largo de Santo António, a competir para ver quem fazia melhor tempo.

"As nossas famílias eram muito ligadas e mesmo antes de vivermos na mesma rua passávamos férias juntos. Na anterior casa fizemos do campo uma pista de crosse e o Bruno vinha para lá correr connosco", recorda Marco Rebelo.

Mais velho um ano do que Bruno Neves, também ele detentor de um título nacional, correu com ele algumas vezes enquanto integrou a equipa de Nogueira do Cravo, que nasceu por causa do irmão, Hélder Rebelo, que foi campeão nacional em jovem e se iniciou no Travanca, numa equipa na qual pontificavam ciclistas como Paulo Silva, actual massagista da LA e Joaquim Andrade.

A tradição familiar do ciclismo começou com o pai, Ótão Rebelo, que correu pelo FC Porto e foi três vezes campeão nacional em juniores. Acompanhava o filho e envolvia-se nas várias tarefas no Travanca, até que decidiu dirigir a sua própria equipa na terra, na qual Bruno Neves nasceu para o ciclismo e se manteve desde infantil até júnior do primeiro ano, passando depois para o Gondomar.

"O nosso pai deu-lhe as primeiras dicas, treinou-o nas gincanas para saber contornar os obstáculos que por vezes aparecem, ensinou-o a controlar adversários, incutiu-nos a todos o espírito de correr para ganhar e depois ele foi-se aperfeiçoando e chegou onde chegou", diz com orgulho Marco Rebelo.

Companheiro de brincadeiras desde os quatro anos de idade, os únicos problemas de saúde de que se apercebeu no amigo de infância foram gripes: "Apanhava gripe com facilidade e primeiro do que nós, mas não me lembro de mais nada".

"Nunca pensei que fosse um problema de coração e quando soube da notícia [da sua morte] admiti que fosse da queda porque já houve vários ciclistas que, mesmo com capacete, morreram de quedas ao bater no passeio", relata.

Insurge-se contra os comentários nos cafés da terra e "certas notícias" que associam a morte de Bruno Neves a doping, depois de segunda-feira a Polícia Judiciária ter apreendido, após buscas nas instalações da LA-MSS e em residências de ciclistas e outros elementos da equipa, diversos produtos e material que fazem suspeitar da prática de dopagem.

"Muitos comentam, mas falam sem perceber sequer nada da modalidade. É natural que tomasse vitaminas, como qualquer desportista, mas não mais do que isso e nunca a família comentou que lhe dessem fosse o que fosse", frisa, adiantando: "O Bruno apresentou-se sempre ao controlo-surpresa e nunca teve problema algum e sabia que agora, para os Jogos Olímpicos, o controlo ainda é mais apertado".

Hélder e Marco Rebelo sublinham que antes de se saberem os resultados finais da autópsia é mera especulação falar sobre a causa da morte do ciclista, cujo mérito desportivo realçam acima de tudo.

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