Ilha da Boavista em Cabo Verde enfrenta um grave risco social

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Perigo. Desenvolvimento do turismo ameaça populações

População do bairro da Barraca revoltou-se contra hotéis

Em plena descolagem do turismo, na ilha da Boavista, um "imenso" hotel em construção nas mais suaves areias brancas de Cabo Verde, e já na rota de férias de muitos portugueses, gerou um sobressalto social que está no centro das preocupações de entidades políticas e turísticas.

Um aparente incidente entre polícias à paisana e populares do bairro pobre da Barraca, em Sal Rei, deu origem a uma grave revolta da população que se confrontou, na noite do último domingo, com a polícia, resultando da longa agitação um ferido, mais de dez detenções e destruições várias, tendo sido cercada a própria esquadra policial.

Nada que não tivesse sido já mais ou menos anunciado.

Em plena campanha eleitoral para as eleições autárquicas de Maio, foi chamada a atenção para a situação do bairro, um amontoado de barracas, com frágeis ou inexistentes estruturas de apoio à vida, onde se amontoam mais de duas mil pessoas, migrantes internos e da costa ocidental africana, atraídos pela construção turística e deixados ao acaso, e onde crescem o alcoolismo, a prostituição e o consumo de drogas.

Já depois dos incidentes, a Unotur, União Nacional dos Operadores Turísticos de Cabo Verde, em carta dirigida ao Governo e à Câmara Municipal da Boavista, reiterou o alerta, sublinhando a necessidade de construir, no bairro da Barraca, um "bom equilíbrio social", já que a "significativa população" da zona se encontra "socialmente excluída". Para a Unotur, a "pobreza extrema" dessa população, associada a outros factores, "pode gerar comportamentos sociais não integrados que colidirão fortemente com a actividade turística".

Apesar do regresso da calma após a agitada noite de há oito dias, o bairro, já seriamente afectado por recentes inundações, constitui uma chaga social, com risco de agravamento à medida que o turismo for atraindo para a ilha mais gente e, com esta, também mais problemas. O Governo anuncia para 2009 um esforço orientado para a habitação social e a Câmara da Boavista, contando com o apoio da sua congénere portuguesa de Oeiras, vai começar a identificar barracas e moradores para, a seguir, desenvolver um projecto de requalificação da zona.

A Boavista, com um recentemente inaugurado aeroporto internacional e desde a passada quinta-feira com o maior hotel do arquipélago, o Riu Karamboa, em funcionamento, está em plena expansão turística, podendo vir a receber, já este mês, oito voos semanais. Portugal entrou, a partir de ontem, nesta nova rota de férias, com o primeiro voo do operador turístico Soltrópico.

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