Ileana procurava a "excitação" sem ligar a "factos económicos"
"Tive sorte, quando a Ileana morreu eu já estava suficientemente formado e consciente de mim mesmo - com 67 anos! - para poder continuar a minha vida sem precisar da presença física dela", contou António Homem ao DN. A viver no piso em Nova Iorque que durante décadas abrigou a Galeria Sonnabend, o galerista português não esconde toda a influência que Ileana, e também o marido, Michael Sonnabend, tiveram na sua vida. A ponto de o adotarem em 1987 para o tornar herdeiro da sua coleção de arte.
Filha de um judeu romeno e de uma vienense, Ileana Schapira nasceu em Bucareste em 1914. A mãe voltou a casar com John Graham, artista americano de origem russa que foi uma espécie de mentor para figuras como Jackson Pollock, Willem de Kooning ou Arshile Gorky . Casada primeiro com Leo Castelli e em segundas núpcias com Michael Sonnabend, Ileana tornou-se uma figura das artes mundiais. No obituário que fez dela, após a sua morte aos 92 anos, em 2007, o New York Times destaca a sua importância na divulgação na Europa da arte americana do pós-guerra e, mais tarde, ao dar a conhecer os artistas europeus nos EUA.
Pelas suas galerias, em Paris, onde António Homem primeiro trabalhou com ela, e depois em Nova Iorque, passaram muitos grandes nomes da Pop art. mas também de outros estilos, com especial destaque para Andy Warhol, Jasper Jones, Robert Rauschenberg, George Baselitz ou Jeff Koons. "Ileana procurava a excitação que a galeria lhe dava", diz António Homem sobre a forma de trabalhar da mentora, explicando que Leo Castelli, cuja galeria ficava por cima, "buscava prestígio", procurando artistas populares e conhecidos. Mas ambos tinham "uma atitude muito desprendida de factos económicos".
Ileana conheceu António Homem em 1964 num jantar numa galeria de arte de Zurique, onde o português então estudava Engenharia. O entendimento terá sido imediato, mas só passados quatro anos António foi trabalhar com os Sonnabend para Paris, com o New York Times a considerá-lo "uma espécie de alter ego" de Ileana.
Conhecida como "A Rainha das Artes", apesar de perder muitos artistas para outras galerias durante os anos 90, Ileana, com o apoio de António Homem, mergulhou no trabalho e juntou-se à vaga de negociantes de arte que se mudaram do Soho para a zona de Chelsea, onde abriu uma nova galeria na primavera de 2000.
Com a morte de Ileana, os herdeiros depararam-se com a enorme fatura dos impostos, tendo optado por vender uma parte das obras da coleção e proteger muitas outras, criando uma fundação. António manteve a galeria aberta ainda mais uns anos, mas em finais de 2014 decidiu fechar. Agora continua o trabalho que aprendeu com a sua mentora durante 38 anos, mas online, procurando novos talentos, mas já sem "a pressão dos artistas, do público". E organiza exposições, mostrando algumas das peças da fundação e outras que herdou.
Em Nova Iorque
A jornalista viajou a convite da FLAD