IL e Chega exploram rutura na coabitação Belém-São Bento
Prossegue o folhetim criado em torno da ida a Belém da procuradora-geral da República (PGR), Lucília Gago, no famoso dia 7 deste mês, o dia em que António Costa se demitiu de primeiro-ministro depois de ter sabido, no último parágrafo de um comunicado da Procuradoria, que estava a ser investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça num processo relacionado com a Operação Influencer. Nesse dia, Costa esteve duas vezes em Belém - uma pelas 10h00 da manhã e outra já perto da hora de almoço - e entre essas duas audiências a PGR foi também ao palácio conversar com o Presidente. Depois dessa conversa emitiu o comunicado que Costa invocou para se demitir (no segundo encontro que teve com Marcelo).
Na semana passada, no decurso de uma visita à Guiné-Bissau, o Presidente da República revelou que a sugestão para chamar a PGR naquele dia partira do próprio António Costa, que teria querido saber se teria condições para se manter primeiro-ministro apesar das investigações que já tinham incluído buscas no gabinete do seu chefe de gabinete e a detenção deste.
Costa não gostou da inconfidência presidencial. E menos ainda que o conselheiro de Estado António Lobo Xavier tenha revelado, dias depois, no programa de comentário político que mantém na CNN Portugal que fora o próprio Costa a revelar na reunião do Conselho de Estado que a sugestão para Marcelo chamar Lucília Gago a Belém partira dele.
Citaçãocitacao"Uma vez que não podemos esperar de António Costa a verdade, eu queria fazer um apelo ao Presidente da República - que divulgue as atas do Conselho de Estado."
"Não me ocorre ter tido nenhuma conversa pública com Lobo Xavier. Lembro-me de ter falado com Lobo Xavier em privado ou em órgãos onde ambos participamos e onde o dever de confidencialidade impera sobre todos", declarou. Já quanto ao Presidente, voltou a sublinhar a importância da confidencialidade, seja em "conversas entre duas pessoas, que, por definição, são entre duas pessoas", ou, de forma ainda mais evidente, em órgãos "onde, nos termos da lei, todos estão obrigados à confidencialidade".
Numa farpa direta a Marcelo, acrescentou: "Em oito anos como primeiro-ministro, tenho o princípio de nem por mim, nem por heterónimos que escrevem nos jornais, dizer o que acontece nas conversas entre mim e o senhor Presidente da República - e agora não vou alterar seguramente esta prática".
"As conversas entre o Presidente da República e o primeiro-ministro não são conversas entre duas pessoas que se conhecem, mas entre dois titulares de órgãos de soberania. No dia em que um começa a achar que pode dizer o que o outro disse, ou o que o outro não disse, seguramente as relações entre órgãos de soberania correrão com menor fluidez", acrescentou.
Citaçãocitacao"Ou o primeiro-ministro aproveita esta oportunidade para esclarecer definitivamente o que fez ou o que não fez, ou então teremos de tomar como boa a versão do Presidente da República."
Ontem o Chega e a Iniciativa Liberal procuraram continuar a explorar o caso.
André Ventura sugeriu mesmo ao Presidente da República uma medida radical: "Uma vez que não podemos esperar de António Costa a verdade, eu queria fazer um apelo ao Presidente da República - que divulgue as atas do Conselho de Estado. Excecionalmente, pelo momento crítico em que vivemos, divulgue as atas do Conselho de Estado onde se discutiu precisamente a dissolução da Assembleia da República e a demissão do Governo. Entendemos que este é um daqueles casos que justifica um regime excecional para se conhecer a discussão que houve no Conselho de Estado sobre esta matéria."
Já a Iniciativa Liberal dirigiu-se ao primeiro-ministro. "O senhor primeiro-ministro sugeriu ou não ao Presidente da República que a procuradora-geral da República se deslocasse ao Palácio de Belém", questionou o líder do partido, Rui Rocha. Anunciando de seguida a conclusão: "Ou o primeiro-ministro aproveita esta oportunidade para esclarecer definitivamente o que fez ou o que não fez, ou então teremos de tomar como boa a versão do Presidente da República."